quarta-feira, 31 de janeiro de 2007

as coisas e as gentes

Na minha casa não cabe mais nada. É um fato.
Nem um alfinete, não cabe. Acabou, não temos mais espaço. Somos nós ou elas, as coisas.
Então tenho que me desfazer das coisas, já que tendo a optar, entre as coisas e as gentes, pelas gentes. E as gentes precisam de espaços para andar, dormir, comer, então... adeus às coisas...

Vamos lá.
Os livros. Não cabem. É sabido que livros são o problema de quem gosta de ler. Eles exigem espaço, cuidado, categorização, carinho. Exigem paredes que não existem e estantes que são caras. Um problema, esses meninos e meninas de papel...

Quem consegue se desfazer de livros? Hum... não ... não dá para se desfazer dos livros, livros são assim como cachorros que, como todos sabem, também são gente. Livros são gente também. Os livros ficam.
Em filas duplas, na contramão, atrapalhando o tráfego, mas ficam, à nossa espera. Não, não lemos todos, nem nunca leremos, mas eles ficam lá, a leitura propriamente dita não tem nada a ver com isso. Os livros ficam, as paredes são deles, e alguns pedaços do chão também.

E os papéis? Ok, os xerox não despertam o mesmo afeto dos livros, mas... e se um dia precisarmos deles? e aquela apostila sobre Tarot, daquele curso que fiz um dia, mil anos atrás? e se eu um dia me inspirar e quiser saber todo meu futuro, presente e passado? Melhor guardar, nunca se sabe... Fica a apostila de tarot, junto com as cartas de Tarot, em cima dos livros. a gente desvia deles, no caminho para a cozinha.

Os trezentos cadernos acumulados vida afora ficam também, é claro, são eu, meus cursos, minhas coisas escritas, nem se encaixam na categoria "coisa", são gentes também. Ficam. Os papéis de cartas que nunca escrevo e os cartões de agradecimento que jamais envio ficam também, porque um dia tomo vergonha e preencho-os todos, com algumas das minhas canetas, que coleciono. A gente arruma um espaço, para a gente. As canetas e os papéis ficam, é claro.

O badulaquezinho que ganhei da aluna que se formou há cinco anos? fica, ué, tão legal ganhar badulaquezinho de aluna... A medalha de natação, o quadrinho pintado na infância, os bonequinhos prediletos, as bonecas de louça, puxa, como se desfazer de tudo isso? ficam também, a gente se aperta.

Na categoria sapatos/roupa/bijuterias não tem nem o que discutir. Uma ova que me desfaço do vestido-que-não-cabe-mais-mas-um-dia-voltará-a-caber. E não há limite nem bom senso para o número de brincos que uma mulher deve ter. E sapatos... faz-me rir que me desfaço de sapatos, só dos velhos, ok..., e mesmo assim os mais queridos ainda serão levados ao pronto-socorro mais próximo, à procura de uma sobrevida, um ressuscitamento, um transplante de solas e fechos. Sim, quase tudo do armário fica também. Eu entro no quarto de lado, uso só um parte da cama, ninguém repara...

as fotos ficam, as louças para diferentes ocasiões ficam, os cedês ficam (como hão de ir embora, os cedês?) os copos legais ficam, os xales e toalhas ficam, as velas ficam, os cremes ficam, os perfumes ficam, tudo acaba ficando. Como existem coisas nesse mundo.


Ao final da arrumação, percebo, vencida, que as coisas mandam nas gentes...

Ruim será o dia em que elas se desfizerem de mim, pois suspeito que ando ocupando muito espaço, coitadas, as coisas mal conseguem andar .... Sim... logo logo as coisas perceberão que não precisam de mim. E perceberão que na casa delas não cabe mais nada. É um fato.
Nem uma gente, não cabe. E dirão: acabou, não temos mais espaço. Somos nós ou elas, as gentes. e então... adeus às gentes... ficam as coisas.

ai, ai... se eu sumir, já sabem o que aconteceu.

( Lulu em fase de faxina na casa)

terça-feira, 30 de janeiro de 2007

conversas no bar

- ... e eu fazia cerâmica...
- nossa, você fazia cerâmica? - perguntamos todos, verdadeiramente impressionados.
- É. mas eu não tinha muito saco para forno, essas coisas. Gostava mesmo é do torno.
- É, eu acho torno o máximo. - diz um.
- Torno é lindo... - diz outro.
- Geeente... - diz um terceiro, na mesa, trash no último - sabe o que torno me lembra?? Aquela cena do Ghost!!!
-éééééé!!! Quase toda a mesa concorda, em uníssono, a Demi Moore na cabeça dos meninos, o Patrick Swayze na das meninas, a Whoopi na de outros....
- Pronto! Vocês acabaram de arrasar com toda minha carreira de ceramista....- diz a moça, claramente lembrando da cena também.
- Viu no que dá vocês ficarem vendo esses lixos da indústria cultural? - diz, sabiamente, o Verdadeiro Intelectual- vocês associam torno de cerâmica com Patrick Swayze.

é... tivemos que concordar. Patrick Swayze é foda... e indústria cultural dá nisso mesmo.... que Frankfurt nos perdoe...


segunda-feira, 29 de janeiro de 2007

Os tempos

Definitivamente, as férias acabaram.
Quarta feira já dou minha primeira aula, sexta a tarde inteira e assim vai, ladeira abaixo.

Essas férias foram as melhores possíveis, períodos curtos de ótimas viagens, Rio e Curitiba. Principalmente, essas férias foram de fazer diariamente tudo o que eu gosto. Iniciei esse Diário aberto, o que significa uma escrita diária e disciplinada; li muita literatura, que é diferente de leitura de estudo, ou de leitura obrigatória; cozinhei, comi bem, vi e estive com muitos amigos queridos, namorei muito, cultivei minhas amizades epistolares atavés da internet, fiz outras novas, preciosas. É disso que é feita minha vida, agora, não preciso de muito mais, mesmo. Não fosse o detalhe da necessidade de ganhar algum dinheiro, vivia sempre assim, lendo, escrevendo, cozinhando, namorando e falando besteira e coisas sérias , com amigos e família. Incluiria uma ginástica ou aulas de dança bem legais nessa rotina, cinema, teatro dos bons, música e pronto.

Agora com a volta das aulas e do meu trabalho o desafio é permanecer fazendo tudo isso, e ainda trabalhar, nos tempos livres. Porque eu não quero que seja o contrário, mesmo se o relógio me desmentir.

Meus tempos de trabalho são sim maiores que meus tempos livres, mas gosto de pensar ao contrário. Ano passado trabalhei muito mesmo, somadas as atividades de casa, trabalhava no mínimo 45 horas semanais, nas semanas tranqüilas. Dei aulas da quinta série ao segundo colegial, o que é hiper cansativo, e odiei. No meio do ano ainda terminei minha dissertação de mestrado, e quase morri.
Ganhei relativamente bem mas não economizei nenhum tostão, e, principalmente, odiei a sensação de viver para trabalhar. Comer para trabalhar, dormir para trabalhar. Nas frestas, algum lazer, quando desse tempo. Vivia cansada, vivia pelo relógio, quase não vivia. Me senti emburrecendo, mesmo.

Adoro o que faço, sou louca pelos meus alunos e me divirto horrores dando redação e literatura para a garotada, mas na sexta feira, quando dava dez aulas no mesmo dia, não era mais ninguém. E aconteceu uma coisa muito ruim e séria: de tão cansada, fiquei meio indiferente. A aula deu certo? ótimo; não deu? dane-se. E a indiferença com o que a gente faz na vida é quase assim como uma pequena morte, não quero viver isso nunca mais.

E hoje, voltando da reunião de planejamento, estava pensando nisso tudo e nos tempos.
Porque nas férias todo o tempo era meu. Se quisesse ia dormir três da manhã, seis da manhã, acordava meio dia, três da tarde, qualquer tempo. Não havia quase nenhum controle externo. Tinha, o que é um tesouro para quem escreve ou precisa criar algo, tempo de ócio, tempo de nada, tempo de tédio, fui totalmente dona do meu tempo. E agora o trabalho de certa maneira regra e controla meu tempo, como acontece, no mais, com todo mundo ( e as pessoas que além do trabalho, têm seu tempo controlado e regrado pela tevê? O domingo termina junto com o fantástico, a hora da janta é antes da novela, o horário de dormir é depois da Grande Família... nada mais deprimente) .

E fiquei preocupada, hoje, pensando se ia conseguir manter-me minimamente eu mesma, autônoma, dona de meu tempo, em meio à rotina do trabalho. Se ia continuar a escrever com esse novo tempo que a vida adulta cada vez mais impõe: o tempo da rotina, o tempo que não é do seu corpo ou imaginação ou vontades, mas das horas do trampo, do almoço, do rush, da ginástica, da saída e da entrada. O calendário que não é o seu, onde todo dia podia virar sábado, mas o calendário de um ano regrado, pré estabelecido, de todos, dos pais, das mães, das crianças, da escola, das horas do dia, contadas, medidas, transformadas em produção e produtividade.

A resposta para isso é disciplina, organização, para que os tempos durem e sejam aproveitados. Principalmente, não perder a perspectiva do que é realmente importante para mim, mesmo no trabalho, que é um trabalho que escolhi e amo: que os alunos de alguma maneira se transformem pelo contato que tiveram comigo, que eu os respeite e possa ajudá-los a crescer e descobrir o mundo e a si próprios. Não perder a vista de mim mesma, que seja feliz e tenha, pelo menos no que der, o tempo nas minhas mãos, que é para não parar um dia, e ver que ele já passou.

sábado, 27 de janeiro de 2007

Mitos da infância desfeitos: a princesa Leia e o Jabba

A vida passa e você descobre fatos sobre a existência que preferia que tivessem ficado ocultos de você, guardados em outras memórias, deixados de lado.
A gente cresce e de repente descobre que a música Cavalgada, do Roberto Carlos, não tem nada a ver com a saga dos pequenos pôneis...
Cresce, e percebe que por trás daquela inocente brincadeira do gato mia, no quarto escuro, havia dedos afoitos, loucos para sentir nossas carninhas.
Outro dia mesmo, a K começou a insinuar umas coisas sobre os pirulitos da turma da Mônica... mas não deixei que K continuasse, foi demais para mim.

Cresce, e descobre que, nove entre dez meninos que agora estão na faixa dos trinta, tinham (e talvez ainda tenham) um tesão absoluto pela princesa Leia. Especificamente, pela cena onde ela aparece acorrentada, de biquini, nas mãos do Jabba, The Hut. Sim, aquela cena, quando o Hans Solo está congelado ali do lado, sem poder fazer nada, e a destemida e revolucionária Princesa é escravizada e obrigada a usar um biquini dourado, coleira e algemas. Sim, aquela cena de tensão, tirania e opressão... rendeu um bilhão de punhetas.
Cada coisa que a gente descobre... E aquele ótimo filme ruim, de repente, transforma-se totalmente....

Perguntem aos seus namorados. Para mim, foi uma descoberta recente, e como sou dada a enquetes, já tenhos dados suficientes para saber que se trata de uma tara universal, o menino que viu aquele filme, sonhou com aquela cena.

Aquelas trancinhas enroladas na orelha, aquele biquini dourado, aquela princesa idealista, presa e acorrentada por um bicho babão e nojento, povoaram as fantasias dos nossos homens. Chocante. Nem tanto pela fantasia, mas... vamos combinar que a cena é de um mau gosto...
Podem perguntar, mas cuidado, senão eles se animam e acham que você tá fazendo alguma proposta. Ja pensou?

Em meio a minha pesquisa investigativa, um amigo chegou a afirmar que se tivessem feito um filme pornô baseado somente nessa cena, alguém teria ficado milionário, pois seria um clássico absoluto, desde o seu nascimento. E isso desencadeou uma longa conversa, sobre como seriam os detalhes, tudo o que poderia ter se desenrolado a partir daí ( havia vários meninos de trinta e poucos na mesa... ), os olhos brilhavam, um até chegou a babar um pouco. Nós , mulheres, olhávamos tudo, em profunda descrença.

É dura a realidade,
mais um mito de infância desfeito.

e procurando imagens na rede, minhas hipóteses somente se confirmaram. Há sites e sites, especializados somente na "Escrava Leia de biquini metálico" .

Hum... meninos... may the force be with you.
ou conosco, né meninas?

sexta-feira, 26 de janeiro de 2007

um brinde à cidade

O sol nascente, da janela da minha casa.


Com algum atraso...
tim tim. que andas muito mal tratada e ferida, nesses últimos tempos e talvez em toda tua história. Com todo amor, da lulu.

p.s. : Sim, o drink combina com as unhas, não resisti...

quinta-feira, 25 de janeiro de 2007

às vezes

às vezes a gente tá toda ferrada, toda errada, toda do avesso.
às vezes nada cabe, nada tá bom, nada dá certo, às vezes a gente anda torto e ainda tropeça de um jeito ridículo.
Uma amiga escreveu assim:

sabe, amore, eu só queria ser a coisa mais especial do mundo pra alguém. Não precisa ser pra muita gente. Se uma pessoa que me ame e queira ficar comigo pra sempre (o pra sempre...) me achar o máximo, eu já estarei feliz. E isso nunca aconteceu. Sempre fui second best. Qdo fui.


Por isso essa coisa de não querer filhos... Sei lá. Quero, pelo menos por um tempo, ser o único foco da visão de alguém. Não pra sempre, mas por um tempo. Talvez, depois disso, eu pense em parir.

mas ela escreveu assim também:

Gosto de rir. Faz tempo que não caio na gargalhada. Todo mundo repara que eu rio pouco e, qdo o faço, todo mundo fala que tenho sorriso bonito, eu sei.

outra escreveu assim:

Hoje assisti a uma comédia romântica no melhor estilo inglês: duas mulheres desiludidas decidem dar férias ao amor... trocam de cidade, de casa e de rotina por duas semanas e acabam encontrando o amor. Em algum momento de nossas vidas somos chamadas a uma mudança radical! O que fazer quando nos deparamos com esse momento? A primeira reação é fazer de conta que todos os sintomas, avisos, todas as coincidencias e acasos não são com a gente! É loucura do mundo! Passamos alguns dias, meses e às vezes anos nos fazendo de desentendidas, mas o momento está ali impávido, ávido para ser tomado pelas mãos! É disso mesmo que estou falando, de tomar o destino nas mãos, de traçarmos nossa bem aventurança, como heroínas das nossas vidas! Nem sempre é possível mudar de casa ou de lugar e nem sempre a mudança estará relacionada com o amor, paixões e relacionamentos, mas é possível começar uma nova vida em nós mesmas!
Abram os olhos, apurem os ouvidos e sintam o momento!

E ontem, quando tava toda desencaixada, recebi um monte de amor. Da família, do meu amor, dos amigos. E fiquei bem.

E toda desencaixada, fico achando que vale a pena. Sermos.

Muito.

Para dias quentes e preguiçosos





Pegue alguns tomates bem maduros, uns quatro ou cinco, para duas pessoas. Para essa receita, use aqueles tomates lindos e desavergonhados de tão vermelhos, que piscam para você na feira ou na gôndola do supermercado e quase estouram com suas sementes e suco. Nada de frutinha meia boca.


Pique-os em quadradinhos pequenos, não tão pequenos que se desfaçam e vire tudo uma maçaroca de tomate, mas pequenos, para que caibam vários na boca.

Coloque-os na sua bela tijela. Jogue azeite por cima, com generosidade e sem medo. Se tiver, arranque umas folhinhas de manjericão fresco, e espalhe-as sobre os tomates, até ficar bem bonito, o vermelho e o verde.
Salgue ao seu gosto, eu coloco um pouco de pimenta do reino, moída na hora. Para quem gosta, vale também espremer uma metade de alho cru mesmo, e jogar na mistura, o sabor forte do alho desaparece e o molho fica mais picante. Para os mais afoitos, vale até colocar umas tirinhas minúsculas de pimenta vermelha, a dedo de moça, sem as sementes, porque ninguém quer matar ninguém. Nessa hora você experimenta os tomates, e tem que estar gostoso, se não tiver, veja o que está falatando: ou é sal, ou pimenta, ou azeite.


Pronto, aí é só fazer o macarrão de sua preferência, al dente, escorrer bem, jogar por cima dos tomatinhos e misturar. Os tomatinhos vão murchar um pouco devido à quentura da massa, mas é assim que fica bom.
Pronto.

Se houver, um pouco de parmesão ralado por cima fica bão também.

Tim tim.

quarta-feira, 24 de janeiro de 2007

Leituras Primeiras: Fabiano e Evandro

Continuo recebendo depoimentos de leitores contando das suas primeiras leituras, ou relatando o que leram na escola. O Fabiano respondeu de um jeito lindo, lá no Mais além:

Uma amiga minha, Luana, me escreveu uma mensagem com uma pergunta difícil. Ela quer saber quais foram os livros que marcaram minha adolescência. Não li muitos bons livros na adolescência. Infelizmente. Recordo-me, com horror, dos livros que fui obrigado a ler da quinta à oitava série, obras como A droga da obediência, O estudante, O gênio do crime, A marca de uma lágrima etc. Nada melhor meus professores escolhiam. A lista de sugestões que posso oferecer a Luana não é uma relação de livros que li, mas de livros que eu gostaria de ter lido.

Vão lá ver, está o máximo.

E o Evandro, outro amigo virtual, me escreveu também um depoimento bacana, que transcrevo aqui:

Estou me restringindo aos livros dos quais me lembro de memória, certamente
porque foram os mais marcantes, antes de meu ingresso na universidade. Como um
acontecimento importante com o qual me envolvi em minha adolescência foi a
campanha das diretas (1984), importante porque o considero como o marco da
minha "politização", resolvi dividir essas lembranças em dois grupos, dos 7 aos
13 anos e dos 13 aos 17.

As primeiras leituras marcantes para mim foram dos irmãos Grimm. Eu estava com 7
anos, acabara de me alfabetizar e fiquei fascinado com uns livrinhos de capa
azul, "Contos e Lendas dos Irmãos Grimm" (anos depois os perdi, mas
recentemente, em dez/06, os reencontrei na feira de livros da História – ed.
Jacomo, certamente extinta). Curiosamente, lembro-me que lia as estórias e as
achava muito esquisitas, conversava com minha mãe sobre elas, mas continuava a
ler uma após outra; relendo agora essas mesmas estórias, entendo o que sentia:
a estranheza devia-se à distância entre o meu vocabulário e o léxico utilizado
pelo tradutor, bem difícil para um garoto. Outras leituras também me marcaram
nesse primeiro periodo. Um dos meus irmãos ganhou o "Flicts", do Ziraldo, fez
propaganda do livro e também o li – lembro-me do livro ter tocado minhas
emoções... Depois, li, e me diverti com, "O Menino Maluquinho". Como tinha 2
irmãos pouco mais velhos, dividíamos várias HQ's (turma da Mônica, Zé Carioca,
Pato Donald, Pantera Cor de Rosa, Fantasma, etc). Ainda acabei passando por
alguns volumes da col. Vaga-lume, por "O Menino do Dedo Verde" e "O Pequeno
Príncipe".

Como disse, a campanha das diretas foi o acontecimento através do qual me
politizei. Isso aconteceu não só pelo clima da época, mas acredito que em
grande parte por ter me tornado um leitor assíduo da coluna que Cláudio Abramo
escrevia diariamente na Folha de São Paulo (bons tempos da Folha...). Minhas
leituras mudaram bastante nesse período. Uma leitura marcante foi "Admirável
Mundo Novo" (depois de ler Adorno, passei a me sentir meio constrangido em
admitir isso – no entanto, desse sentimento me senti libertado por um ensaio
que Michael Lowy recentemente escreveu abordando a recepção desse filósofo
àquele escritor, incompreensivelmente injusta). Lembro-me de ter lido também "O
Retrato de Dorian Gray" (fiquei tão impressionado, que reli o livro na seqüência
da primeira leitura), além de "O médico e o Monstro" (influenciado pelo uso que
as pessoas faziam dessa imagem). Dos brasileiros, lembro-me especialmente da
família Veríssimo; li "Ana Terra", "Um Certo Capitão Rodrigo" (certamente
influenciado pela mini-série que a Globo produziu nessa época) e, depois,
alguns "Analista de Bagé". Comecei a ler vários outros livros, sem ter fôlego
para terminar, como "O Crepúsculo dos Ídolos", "A Divina Comédia", "Cem anos de
Solidão", "O Nome da Rosa" etc... Na escola, lembro-me de ter lido "A Defesa de
Sócrates", por Platão, e "O Discurso do Método" – leituras muuuito
superficiais... Também alguns clássicos, como Jose de Alencar ("O Guarani",
"Iracema", "A Pata da Gazela"), Camilo Castelo Branco ("Amor de Perdição"),
Machado ("Dom Casmurro", "Memória Póstumas...", "Quincas Borba"), Eça ("Os
Maias", "O Primo Basílio"), Graciliano ("São Bernardo"), Lima Barreto ("Triste
Fim de Policarpo Quaresma"), entre outros.

Bem, é isso. Depois que entrei na universidade, fiz outras leituras, retomei
algumas das que citei de uma outra maneira – aliás, como nós todos. Se lembrar
de algo mais, volto a escrever.

Abs, Evandro.


Tô achando que essa pesquisa tá ficando o máximo. Para quem começou a acompanhar agora, ela começou aqui,.
Depois desdobrou-se aqui
e aqui!!

terça-feira, 23 de janeiro de 2007

a pedidos: "instruções"

Tudo começou com a ida de K ao cabelereiro, fazer um novo corte, o que já é uma situação de risco e tensão para todas nós. O profissional em questão, mesmo carésimo e badaladésimo, segundo ela deixou-lhe com cara de poodle, motivo para depressão absoluta. A essa desventura somou-se a uma dose errada de ácido no rosto que queimou-lhe a pele inteira. Sim, amigas leitoras, a família Baudelaire, do ótimo Desventuras em série, ficaria com inveja de sua mais nova amiga e aliada de destino, K.

A K veio até o sofá vermelho da lulu, abriu seu coraçãozinho e disse para todos que estava "- com cabelo de poodle, cara queimada e triste."

Meninas, todas nós sabemos o que um homem deve dizer nessa hora, certo? É assim óbvio lululizante, certo? ah... mas os mistérios da alma humana são muito mais profundos do que sonha nossa vã filosofia e... nosso querido equilibrista bêbado escreve:

"K., vc está tentando me afugentar? (cabelo de poodle + cara queimada = Magda de Quem vai ficar com Mary)"

Que tal essa? Você está triste e chorosa. Deprimida, se achando a última das mortais e o mocinho em questão não só pergunta se você está querendo afugentá-lo como também sugere que uma criatura dessas ( vide imagem ao lado:)
é sua imagem e semelhança.

que tal , meninas????????????
(espaço em branco para meditação sobre os possíveis destinos para o moço: )












( final do espaço em branco)

Mas o equilibrista tem bom coração, é um cara humilde e legal, apenas não nos entende e, percebendo seu fora monumental - assim, do tamanho do Himalaia, vamos combinar - tentou consertar as coisas e, bunitinho que é, pediu ajuda para a Lulu:

Oh! (espero que não seja tarde demais...)

K., use a imagem vinculada como consolo, pois tenho certeza de que sua aparência é exatamente o oposto, praticamente uma Cameron Diaz morena.

(Lulu, vc não poderia abrir uma seção de instruções para o clube do bolinha não cometer muitas gafes?)

E Lulu, em sua infinita sabedoria e generosidade, vai tentar ilustrar e contar algumas coisas da vida para esse menino perdido...
(estralando os dedos, afiando as unhas e cruzando as pernocas)

Caro Equilibrista,
você pode ter achado que nossa amiga estava usando uma figura de linguagem, que tudo era uma grande piada, que é óbvio que ela não se sentia uma Magda, nem com cabelo de poodle e cara queimada, que pode ser legal, nesses momentos, fazer uma piadinha inocente....

Primeiro erro.

Até podemos fingir uma certa auto-ironia, mas se perguntamos se estamos uma baleia, a resposta nunca, jamais, deverá ser: "tipo... mas mais para Orca ou mais para Moby Dick? Hahahaha.. "

Não, nunca faça piadas com esse tipo de pergunta. Elas são sérias, e mortais.
Você pode achar isso muito engraçado, porque ela continua linda como sempre e mais magra que nunca, mas se ela te assassinar depois de uma resposta dessas, eu dou ganho de causa para a assassina. Sim, meu caro equilibrista, nessas horas não temos senso de humor.
A resposta SEMPRE deverá ser ( decore) : " imagina!! Você está linda, maravilhosa, gostosa."

Segundo erro:

Se ela falar que está deprimida, ou tristonha ou mesmo ligeiramente mal, sua função no mundo é deixá-la melhor. Pronto, não há nada mais importante ou urgente que isso no planeta, nem seu jogo de futebol, muito menos de play station. Isso é muito importante.

E você nunca, jamais, sairá correndo aos primeiros sinais de depressão e histeria. Nosso amigo Alex não é um exemplo. Pelo contrário, você deverá correr em direção aos seus braços chorosos; trará lencinhos de papel e assoará aquele lindo narizinho, ignorando todas as melecas que saírem junto. Pode ser meio duro... mas você ganhará amor eterno.

Agora, sair correndo, ou levar um susto, por algum tratamento estético que deu errado... são pelo menos quinze anos de inferno.


Hm... que mais?

Não usaria o advérbio "praticamente" na comparação ( essa sim, brilhante) com a Cameron Diaz.
Usaria "como" ou, "mais linda ainda", algo assim, posto que se trata aqui de um pedido de desculpas.


E se você está pensando que somos loucas, e complicadas e esquisitas e aposto que a K na verdade tá linda, eu concordo com você, em todos os aspectos do pensamento acima descrito. Somos loucas, e complicadas e esquisitas, e aposto que a K na verdade tá linda, e é só isso (a última parte, veja bem) que deve ser dito (pelo menos nessa hora).

Viu? Nem somos tão difíceis assim... Imaginaa....

Beijocas,
lulu.

ai que raiva!!


porque às vezes, ter que trabalhar dá um ódio.......
Sim, Lulu volta às aulas, e tem reunião, e tem planejamento, e tem coisa prá preencher e tem horário e compromissos e um monte de aspectos da vida besta que eu havia até esquecido que existiam nessas férias tão boas de escritas-comidas-amigos-namoro-bebibas, leituras-sem-ser-de-trabalho. O bem-bom acabou...
Lulu manifesta, publicamente, sua revolta.

ai que raiva!!! No meu país socialista libertário, todos vão ter férias para sempre, todos os dias. E pronto. Podem votar em mim.






ah!! não percam os comentários da Danifo sobre as leituras na escola!! definitivamente, sou muita sortuda com os leitores e leitoras que tenho!!

segunda-feira, 22 de janeiro de 2007

"O Eduardo sugeriu uma lanchonete, mas...


... a Mônica queria ver o filme do Godard"

Juro. E lá foi Lulu, assistir Godard com amigos. No domingo, ainda voltamos, e não é que foi bacana?
Tudo começou assim, eu e Dorothy nos ligando:

- Vamos ao cinema?
- Oba!! Claro!!
- Tá passando um festival do Godard ótimo lá na cinemateca.
- QUÊ????
- É, Godard...
- QUÊ???
- Ah Lu... o Verdadeiro Intelectual, nosso amigo querido, vai passar o dia inteiro lá.
- QUÊ????? ( eu já não acreditava naquele diálogo maluco)
- É, ele vai fazer uma maratona, disse que não quer perder nenhum, então vai ficar lá das cinco da tarde até umas onze da noite...
- Hum... de fato, precisamos resgatá-lo depois dessa.
- Pois é... levá-lo para beber e comer...
- Hum.. tá certo, vamos, a gente te pega e nós vamos juntas, a gente assiste a última sessão com ele.

- Bolinha, a gente vai ver um filme do Godard.
- QUÊ?????

Aquilo já estava ficando engraçado. A Dorothy me liga de novo:

-Você sabe onde fica a cinemateca?
- Sei, Dô...
- Tipo... você já foi até lá?????
- Já!! Várias vezes, Dô...!!
- Jura? Nossa... Nunca fui.. para mim a linha dos cinemas acaba na Paulista... Mas a cinemateca é longe, fica num lugar estranho, cê sabe chegar?
-Sei.
- Hum... por via das dúvidas eu já olhei na internet e imprimi um mapa.
- HAHAHA...
(...)
-Ele disse que tá cheio e que é para a gente chegar cedo.
-QUÊ???? Tem mais de vinte pessoas?
-Parece que sim.
- Nooossa...

No caminho, fomos discutindo:

- Bom, a gente vai ver um filme do Godard na cinemateca.
- É.
- Quantos bônus de bons filmes ruins e filmes ruins ruins mesmo isso nos dá para o resto do ano?
-Uns cem!!- Falou Dorothy, peremptória, e repentinamente animada.
-Tudo isso?
- E sem culpa!! - Ela sorria, seus olhos brilhavam.
- E se fosse assim... um Truffaut?
- Menos né... uns setenta... Agora, se fosse Tarkovski....
- HAHAHA!!
- Quem assiste O Sacrifício fica com bônus para ver 200 filmes ruins, bons ruins e mesmo invisíveis ( categoria ótima que uma leitora me ensinou) para o resto do ano.
-HAHAHA!!

Chegamos, tinha umas vinte pessoas. A grande maioria, molecada com cara de primeiro ano de cinema na ECA. Ou, com cara de terceiro colegial fazendo cara de primeiro ano de cinema na ECA. Tomando seus cafés pretos e fumando seus cigarros. No domingo, estava lotado.

E não é que o filme de sexta, Acossados, era bacana? E como sabe filmar mulheres e fazer diálogos, esse Gogô... No domingo voltamos, incrédulos com nós mesmos, e vimos Alphaville, que é um filme impressionante e lindo.
Fiquei hiper contente de ter ido.

É claro que eu e Dorothy já fizemos a lista dos próximos vinte filmes lixo da indústria cultural que veremos o mais rapidamente possível, mas isso a gente não conta pro nosso amigo.
;)
beijos a todos,
Lulu






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domingo, 21 de janeiro de 2007

"Sexo anal, uma novela marrom"



Conheci o romance do Biajoni, Sexo anal, uma novela marrom, por essas blogosferas daqui. Imitei meu avô, que sempre enviou cartas para escritores que admirava comentando seus escritos e fez muitas amizades assim. Preguiçosa que sou, no entanto, ao invés de escrever uma carta, escrevi logo um e-mail, comentando como havia gostado do livro e como a leitura tinha sido legal.

O romance me pegou de jeito, eu li de cabo a rabo (hihihi...) num só dia, os diálogos são ágeis, a trama feroz e rápida. O autor não só me respondeu, como me agradeceu, dizendo que uma carta dessas fazia a gente ganhar um fim de semana, e eu fiquei toda contente. Enquanto as editoras não acordam, o mundo internético dá um jeito de distribuir, entre tantas porcarias, o que é realmente bom.

A epígrafe do livro é linda:

Se é a razão que faz o homem
É o sentimento que o conduz.
Rousseau

E o sentimento aqui é o sentimento de gostar e gozar e amar sexo. E o sexo, esse sentimento, conduz, romantica e violentamente, a trama toda. E se você estava de cabelo em pé, piora mais ainda, porque do que a protagonista gosta mesmo é de dar o cu. Esse, afinal, é o grande sentimento que a conduz. E esse caminho é narrado sem cuidado e economia, tão diretamente que fica até romântico, nada de meias palavras bestas, a coisa como ela é, crua, nua e bela, como merece ser. Por entre esse caminho passam, deixando suas marcas, outros personagens que trazem consigo também os sentimentos que os conduzem, alguns nem românticos nem belos, mas fortes e verdadeiros como somente uma ficção pode ser. E essa é uma ficção das boas, sem medos e sem vergonha.

O romance começa com a protagonista falando pro namorado que quer operar o cu, porque está com hemorróidas e isso atrapalha. E ela vai ao médico e, de jaleco e sendo examinada, sente um tesão absurdo e acaba dando pro médico, ali mesmo, por trás. Culpada, ela conta tudo ao namorado, que não aceita o acontecido e termina tudo. Os dois ficam sozinhos, se amando ainda, e na tontura de uma solidão súbita, encontram confidentes e pessoas.

Tinha tudo para derrapar em cada esquina. Porque não somente é a história de uma mulher que gosta de dar o cu, e seus amores, e os amores dos seus amores, mas também essa mulher trabalha para um jornal sensacionalista da pequena e nem um pouco pacata cidade onde mora. E essa mulher, um dia, ganha uma espécie de súbita promoção do chefe (que quer comer-lhe a bunda) e ela fica encarregada de escrever, junto com o maior jornalista policial da cidade, sobre o caso recente de uma adolescente que fora estuprada e morta na mão de um homem negro e dois meninos. Sim, tinha tudo para derrapar, mas não derrapa; quando você acha que a história não pode descer mais, ela desce, em alta velocidade, sem perder o prumo. O autor fica bem junto ao Nelson Rodrigues, e não encolhe diante da comparação.

E por que o livro é tão bacana? Porque essa fusão de sexo, vontades e desejos flui sem moralismo, porque a protagonista fica sendo quase uma mulher revolucionária, que gosta de dar a bunda e acaba dona da sua vida e desejos. Porque as personagens do romance são personagens complexas, cheias de desejos, ciúmes, vontades e taras, que se revelam em toda sua verossimilhança e movem o mundo. Porque as sujeiras e mentiras e horrores que também movem o mundo são expostos sem hipocrisias e eufemismos. Porque, além disso tudo, o romance cria um retrato bem fiel e bom da mídia sensacionalista, da polícia, da nossa sociedade racista, machista, homofóbica. Porque é um romance sem um pingo de pretensão, sem literatices chatas, sem análises sociológicas, sem deslumbres com o mundo cão. Porque o romance não é baratamente pornográfico, aliás não tem nada de pornográfico, embora haja momentos sexy. Porque é bem escrito, mesmo nas suas imperfeições.

Biajoni escreveu uma grande história de encontros e perdas, onde amores e buscas e desejos e desgraças se entrelaçam e se desfazem e se descobrem e refazem. Histórias feitas de carnes e ossos. "Feito gente, feito fase", que se amam como podem.

E como essa doidera que é esse mundo editorial desse país não publica logo “Sexo Anal, uma novela marrom”, aproveitem que o autor quer mais é que o leiam e colocou o livro à disposição, aqui.

(e atenção, editoras e editores: se for publicado, mesmo já tendo lido, é claro que eu compro e levo na bolsa, que é para guardar, colocar na estante, reler em forma de livro e, quando quiser fazer um tipo interessante, levar para um café, usar uma sainha florida e ler de pernas cruzadas)

Leiam, não percam,

E não precisa nem contar para ninguém.

;)

Lulu.

sábado, 20 de janeiro de 2007

Ainda na série leituras

A Anna V me deu duas dicas preciosas:

A pesquisa do Biajoni, sobre que livro te fez gostar de ler. Aqui.
E o lindo relato dela mesma, sobre suas próprias leituras e caminhos nesse vício que não nos larga mais.

Em tempo:

O Alex respondeu o post sobre o direito de não estar bem. O post dele, e os comentários, estão bem divertidos. Vale a pena ver!! ( e eu me sinto tão tão chic!!)

AH! E não percam a visita que o William Brake fez lá no post da Meleca. Tá nos comentários, eu adorei!

Leituras: das fadas à libertinagem

Pedi ajuda a alguns amigos sobre a lista de leituras na escola . E recebi um presente do meu querido amigo Alberto, que escreveu e me presenteou com um texto lindo sobre sua formação de leitor, desde os primeiros livros de contos de fadas até os de libertinagens e pornografias, descobertos nas prateleiras mais altas da biblioteca do pai. Uma beleza de relato.

Vou tentar fazer o meu, fica o convite renovado a todos os leitores, que quiserem narrar suas experiências das leituras e descobertas nas fases primeiras da vida, e muitos têm um monte de histórias, que eu já sei. Se preferirem, mandem por e-mail.
O texto do Alberto ficou tão lindo que reproduzo inteiro, e recomendo a leitura com veemência e gosto.
Obrigada, amigo, adorei!


O primeiro, “os mais belos contos de fadas ingleses”, da editora vecchi, um presente de aniversário da minha tia, em 1962 (eu tinha cinco anos). era lido pra mim por todos que eu conseguia arregimentar pra contarem o “cabeça de vento”, o “jack sai à procura de fortuna”, o “nada”, o “carapuça de junco”, o “jack e o feijão”, a “história do pequeno polegar”, “o poço do fim do mundo”, o “senhor de todos os senhores”. era um volume, pra mim naquela idade, imenso, colorido, alto do tamanho de uma folha a4, capa de cartolina grossa, com um cavaleiro em armadura com a longa espada ao lado e uma dama em comprido vestido cor-de-rosa entre seus braços, diante de um duende careca com o dedo em riste. era cheiroso, bom de acariciar o meu primeiro livro. anunciava muitos outros livros da coleção, mas jamais vi qualquer daqueles exemplares.

e as histórias em quadrinhos compradas todos os sábados de manhã: “batman”, “super-homem”, “homem submarino”, “príncipe valente”; e os quadrinhos guardados pelo meu pai, pro “filho que se interessasse”, desde a década de quarenta e cinqüenta: o “globo juvenil”, o “gibi mensal” do tempo da segunda guerra; e a “edição maravilhosa”, que eram quadrinizações de “clássicos da literatura”, num reforço pela imagem de muitos livros lidos ou estímulo pra ler. o oceano do “príncipe submarino”; o crime em “dick trace”; a velocidade alucinada de “zaz-traz”; a 2a guerra com muitos super-heróis, todos contra os nazistas que pareciam animais impiedosos; o “espirit” em preto e branco cheio de sombras acentuando o mistério e a profundidade. e as imagens encadeadas, cada uma diferente da outra e por dentro dos olhos, na imaginação, tudo fluía, a história se desenrolava, aparecia. ali fora não havia história: tudo era de dentro, era eu mesmo quem criava aquela história, como no cinema que eu, além de assistir, ia ver a grande máquina na salinha de projeção iluminando o salão através de um quadradinho, a luz vindo do encontro de dois estiletes que queimavam, caíam no chão e eram trocados. cada imagem num quadradinho quase igual ao outro. quem formava o filme eram meus olhos. ali dentro o universo todo se descortinava. o cinema era uma história em quadrinhos mais minuciosa projetada numa tela. diferente dos livros, que eram uma história em quadrinhos em palavras que eu mesmo projetava como num sonho, numa conversa.

e os incontáveis volumes de tarzan, de edgard rice burroughs, a selva, os animais, a leveza, a coragem sobre tudo, a cidade de opar, o leão de ouro, a luta por ser e se impor, a leitura nascendo sozinha, o combate; o “sherlock holmes” de conan doyle com sua lógica perfeita que antecedia o que ia acontecer e o que havia acontecido por vestígios imperceptíveis, e as tramas perfeitas se articulando, o escritor-aranha tecendo suas teias; as delícias de júlio verne, “vinte mil léguas submarinas”, “a ilha misteriosa”, “a volta ao mundo em 80 dias” descortinando uma imaginação e um universo capaz de tudo: envolvido pelo cheiro dos volumes da lello&irmão e suas capas avermelhadas em tecido colado; a “viagem aos impérios do sol e da lua” de cyrano de bergerac, onde a imaginação consegue levar alguém à lua, bem longe de tudo; as destrezas de maurice leblanc com seu arséne lupin, um ladrão perfeito e instigante; o universo insuperável de michel zevaco com seus “pardaillans”, seus “amores de nanico”, a “a ponte dos suspiros” “o pátio dos milagres”, onde cada luta, cada paixão era um acontecimento vital: onde a amizade era um valor superior: e a luta com o pai na escuridão; alexandre dumas, o sem igual, com os “três mosqueteiros”, as “memórias de um médico”, “os irmãos corsos”, “a tulipa negra” e o insuperável “o conde de monte cristo”, onde todos os sentimentos se articulam numa vingança sem igual; e “nossa senhora de paris” que me horrorizou, encantou e abismou chamando “o homem que ri”, marcado pra sempre com o riso das feiras e os labirintos da sorte, e “os trabalhadores do mar”, com a luta monstruosa e, depois, a escolha tranqüila da morte e o amor, sem esquecer “os miseráveis”, o olho do sapo mirando as estrelas, e tudo o mais de victor hugo numa coleção de obra completa encadernada em cor-de-rosa sobre as capas originais; “as mil e uma noites” num único volume pra crianças, sem o erotismo, sem a violência, sem a dimensão literária de labirinto e hipertexto, fragmentos reescritos pra uma infância normalmente idiota; o robert louis stevenson da “ilha do tesouro” e “dr. jekyll e mr. hyde”, com sua sutileza e poder de descrição: quem pode contar uma história tão bem?; lewis carroll e sua “alice no país das maravilhas”, onde a imaginação não somente pode tudo, as palavras podem tudo, mas o escritor também é alguém que não deve ter limite algum em seu delírio; h.g. wells com “o homem invisível”, livro que havia sido do meu avô, numa das traduções de monteiro lobato, um escritor que jamais li; “o vampiro da noite” de bram stoker contribuindo pro devaneio de antes de dormir; o “frankenstein” de mary shelley mostrando como se cria um homem, e que um dia seria um momento fundamental da minha própria escrita; la fontaine e seu universo de animais que são um espelho dos homens: os homens sempre menores que os animais; e os “contos maravilhosos” de muitas literaturas em coletâneas - uma experiência arriscada a travessia de cada livro.

e no alto, bem lá em cima da estante maior da biblioteca, que ia do chão ao teto e era de madeira, alguns livros diferentes, com imagens diferentes. primeiro “os exercícios de devoção” do abbade de voisenon; depois “sensualidade” composto por fragmentos de “obras licenciosas” de júlio ribeiro, pierre louis, rousseau, petrônio, anatole france, pitigrilli; “uma noite com ellas: contos galantes” por rabelais e “contos libertinos” de sade; e muitos outros, cada um melhor do que o outro, com gravuras deliciosas; sem esquecer que junto desses livros estavam algumas “revistas pornográficas” da década de sessenta, num envelope marrom, como se devessem não ser vistas: e as imagens invadiram meu corpo, meus sonhos, minha imaginação: os corpos, o desejo, o gozo e a razão da existência apareceram na minha vida, sem os vazios, sem as tarjas pretas do pudor ditatorial e autoritário, sem a ponta indistinguível dos seios, sem o pelo e quase sem a pele: havia muito mais do que horror cotidiano; mas o principal foi “minha vida, meus amores” de henry spencer ashbee: esse foi uma das maiores confluências da minha vida: nele há uma vida livre, alegre, gozadora, libertina, plástica, imoral, sensual e sexual, uma violência inescapável e cínica, um aprendizado insuperável, uma escrita sem pudores, criativa e múltipla: uma vida que vale a pena ser vivida, uma vida que gera literatura e o conhecimento que a literatura só seria feita com uma vida assim, só haveria inteligência a partir de uma vida daquelas: aquele seria meu labirinto. além da secção de “livros eróticos” e “revistas pornográficas” do meu pai (um momento maravilhoso pra uma criança que escolhe o caminho), esse último livro foi um dos poucos que ainda mantenho como essencial não pra minha formatação, mas pra minha formação.

e havia a “biblioteca internacional de obras célebres” em vinte e quatro volumes em percalina verde, recheada com fotos e gravuras de escritores e artistas (onde comecei a reconhecer o rosto dos escritores), trazendo textos desde o egito até o começo do século vinte que fui devorando através dos anos com uma fome deliciosa. ali conheci muitos textos que atravessarão minha vida inteira mantendo o sabor e a surpresa do momento. a essa coleção associo sempre a biblioteca do meu pai, à noite, no fundo do quintal, entre árvores, a cidade silenciada, os pássaros dormindo, o sabor travoso de castanholas roxas desabando entre pardais, o odor verde de cróton incluindo, misturando, fundindo tudo, a naftalina, a poeira, os livros, as paredes brancas, a luz amarela do abajur, a fofura densa da poltrona à voltaire ou a cadeira de madeira armada que sempre desabava, a atmosfera daquele momento com a imortalidade, o medo, o desejo e a ânsia com vida que um dia iria se abrir, e não chegava nunca.

e um livro amarelo que eu lia aos poucos sentado nas praças, nas calçadas, em baixo das árvores na casa do meu avô. era o “panorama da literatura brasileira” com “introdução e notas de afrânio peixoto, da academia de letras”. hoje sinto esse livro com horror, mas no tempo ele descortinava textos dispersos da literatura brasileira.

tudo isso entre os cinco e os treze anos de idade. parece que não se fiz outra coisa. mas não é verdade.

sexta-feira, 19 de janeiro de 2007

E quando a gente não sabe?

É duro quando a gente não sabe. Não só não consegue classificar mas também não sabe, não sabe o que vem, não sabe o que acontece, não sabe de nada, mas sente uma ansiedade e uma coisa no corpo, um sei lá o quê indefinido, a gente não sabe e como é difícil não saber. Credo. E como é bom, ter um abismo a nossa frente, e estar louco para se atirar nele, de cabeça, sem medo, e sem conhecimentos prévios... Ui! :)


(para minhas amigas)

Leituras na escola:dos onze aos dezesseis


Lá pela quinta série...

Michael Ende, História sem fim. ( Tudo bem, tem quase quatrocentas páginas, mas... ler um livro que é escrito em verde e vermelho já é, por definição, o máximo, não?)

Tolkien, O Hobbit. (um crááááássico, e dá super certo)

Mark Twain, As Aventuras de Tom Sawyer ou Huckleberry Finn. (acho o Huck bem mais legal, mas por outro lado, bem mais difícil também... Qual vocês preferem?)

Stevenson, A Ilha do Tesouro. (Eu li por volta dessa idade, e fiquei morrendo de medo. Além disso, piratas nunca saem de moda)

Jack London, Caninos Brancos ou O chamado da selva.

Fernando Sabino, O Menino no espelho.

Roald Dahl, Matilda.(na verdade, qualquer livro do Dahl é bom. Vejam só: A fantástica fábrica de chocolates,A convenção das bruxas...Todos também deram filmes ótimos)

Kazumi Yumoto, Os amigos. (um livro lindo, pouco conhecido, de uma escritora japonesa que narra a história de três amigos que, basicamente, ficam matando aula para ver um velho morrer pois eles querem saber o que acontece quando a pessoa morre )

Ah, em tempo, o Gênio do crime, que é o máximo, a molecada já lê na quarta...L

Julio Verne, Vinte mil léguas submarinas, ou Viagem ao centro da terra. (na verdade eu acho chato, então não leio com os alunos, mas um monte de criança adora Julio Verne até hoje)

Lá pela Sexta série...

Edgar Alan Poe, Histórias extraordinárias. (as meninas ficam com medo, mas é legal ler um livro que dá medo!!)

Novelas de detetive (O cão dos Baskerville ou Um Estudo em Vermelho com o Sherlock Holmes/ Qualquer um a escolher da Agatha Christie )

LEBLANC, Maurice. Arséne Lupin, um ladrão de casaca. (super bacana, narra as aventuras desse ladrão de super luxo e sofisticação)

WILDE, Oscar. Fantasma de Canterville. (para tirar sarro e ver a crítica que o Wilde fez desse negócio de fantasma e detetive)

Jorge Amado, Capitães de areia. (Para todo mundo virar comunista e se apaixonar pelo Pedro Bala)

Stevenson, O médico e o monstro.

Crônicas, Rubem Braga, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos, Luis Fernando Verissimo...

Lá pela sétima série...

Sallinger, O apanhador no campo de centeio. (é, não podia faltar, garantia de sucesso total)

Kafka, A metamorfose. (meio óbvio dar um livro com esse título para adolescentes, mas...)

Isaac Asimov, Eu, robô. (o livro de ficção científica que eu mais gosto, nada a ver com as bobagens das adaptações pro cinema, nenhuma prestou, impressionante...)

Jane Austen, Orgulho e Preconceito. ( para as meninas também terem vez! Mas será que rola? Dos da Jane Austen, qual o mais legal? )

Hemingway, O Velho e o Mar. (acho lindo, mas não sei se cola. Cola?)

Ítalo Calvino, O Barão das árvores ou O Visconde Partido ao meio ou , ainda O cavaleiro invisível. ( sensacionais e divertidos, qual vocês gostam mais? )

Poesias do Manuel Bandeira, do Drummond, do João Cabral...

Lá pela oitava série...

Ray Bradbury, Fahrenheit 451.

Graciliano Ramos, Vidas Secas/ São Bernardo.

Luís Fernando Veríssimo, O Jardim do Diabo.

Virginie Lou, Eu não sou macaco. (um romance recém saído do forno, de uma francesa ótima, sobre uma menina que quer matar um menino que, na frente de todo mundo, abaixa suas calças e sua calcinha.)

Machado de Assis. Memórias póstumas de Brás Cubas ou Dom Casmurro.
Clarice Lispector, A hora da estrela.

Melville, Bartleby, o escrivão. (e a edição da Cosac desse livro.... Que tal descosturar um livro em classe, todo mundo junto? )

Gabriel Garcia Marques, Crônica de uma morte anunciada/ Doze contos peregrinos/ Cem anos de solidão.... ( Talvez, seja meio over, mas os contos peregrinos são tão lindos...)

William Golding, O senhor das moscas. ( Qual série? um dos livros mais melancólicos e lindos que já li)

Sei lá, gente... Me ajudem. Quais livros marcaram vocês nessa fase da vida? Quais livros vocês leram na escola e até que gostaram? Quais desses livros arruinaria a vida de qualquer leitor em formação? O Diário da Lulu, e os alunos da Lulu, agradecem.


AH!! recado muito importante: não precisa ser sério, nem cabelça, nem nada disso. É só tipo... puxa... se tivessem me dado isso para ler, tudo teria sido tão mais legal...

quinta-feira, 18 de janeiro de 2007

as pérolas do "sou +eu"

Ok, como sei que meus amigos e leitores são muito intelectualizados, sérios e cheios de compromissos e não vão à banca de jornal adquirir um exemplar da revista do EU (definitivamente, o melhor custo benefício das bancas de hoje em dia) , mas como sei também que estão todos sedentos de curiosidade sobre a senhora que perdeu o papagaio e a outra que ficou rica fazendo cera depilatória... aqui vai, diretamente do diário da lulu, os melhores momentos do último número:

a tal que inventou a cera de depilação e ficou rica e hoje emprega 800 pessoas, (inclusive o marido desempregado que, no início de tudo, havia zombado dela), a certa altura, comenta:

"Passamos dois anos testando as fórmulas. As cobaias? Meu pai e meus filhos pequenos. Imagine que loucura! Quem passasse por perto de mim era depilado! Papai, coitado, morreu peladinho."

Juro.

Aliás, essa senhora é uma gênia. Quando foi conversar com a chefe da ANVISA, que queria fechar o negócio devido às faltas de condições requeridas, percebeu que a mulher ostentava um belo bigode, pediu licensa, esquentou a cera ali mesmo e, com um só gesto, arrancou todo o bigode da fiscal-chefe. Pronto, seis meses para resolver todas as situações pendentes garantidos. O máximo, e ainda empregou o marido.

O tal do papagaio fujão era fruto do sonho da mãe da outra, mãe essa que, ao convalescer no hospital, fez com que a filha prometesse que cuidaria do bichinho. Cuidou do bicho, mas tiveram dó e pararam de cortar as asas dele, erro fatal. Ele logo se acostumou à casa, e aprendeu os hinos da igreja que a nova dona cantava. Um dia, um vizinho gritou: " o louro crente fugiu!!" era o papagaio que voava...

Fiquem tranquilos, o louro crente foi recuperado, e ao voltar para sua casa, desceu as ruas cantando: " Obrigado, Jesus! "

Juro.

O melhor da tal que quis ser miss e conseguiu é que, depois de toda humilhação, depois de ter sido esnobada pelas patricinhas do shopping e demitida porque não fazia jus à marca que vendia tão bem, pôde, um dia, ligar para mãe e dizer:
" - Mãe, tu tá falando com a Miss Palhoça. " A partir daí, sua vida começou a mudar.


de nada, leitores queridos,
estamos aqui, sempre à disposição.

;) Lulu.

da obrigação de "estar bem"

É uma verdadeira lei social, todos temos que estar bem, o tempo inteiro. Estar bem, além de ser praticamente sinônimo de estar magro ou magra, também significa estar sorridente e simpático, cheio de trabalho ou cheio de projetos ( pelo menos cheio de projetos), namorando, ou pelo menos beijando na boca, casado, com alguém. Estar bem significa estar cheio de energia, disciplina e objetivos a serem atingidos e tal. Trabalhando muito, indo à academia, viajando nas férias, saindo com amigos... ai que sono que preguiça. Nada contra nada disso, mas... respondam-me caros leitores: quem fica bem a porra do tempo inteiro?

Pois aqui lanço um manifesto pelo direito de estar mal, sem que isso também provoque uma avalanche de preocupação e olhares consternados, e comentários do tipo: "ela/ele está tão mal... coitaadooo/a"; ou: "fica bem, já. Agora."

Ok, é horrível ver as pessoas que a gente ama, mal. E a gente não entende como que o nosso amor e presença absolutos não resolvem isso, mas às vezes, assim, de vez em quando, nada é suficiente, e o estar mal é meio necessariozinho, uma fase, uma necessidade.

Não estou falando de depressão nem nada disso, que são coisas sérias e não devem ser de modo algum romantizadas e sim tratadas, mas... do direito de acordar mal humorado, do direito de não querer conversar muito naquele dia, do direito de chorar meio sem motivo, e de simplesmente passar um dia meio melancólico, ou melancólica, olhando para o nada, sentindo um vazio, mesmo estando bem. Do direito de só querer colo, e não querer falar nada, do direito de se angustiar e até sufocar um pouquinho quem tá do nosso lado ( por uma dia só, tá? ) . Isso faz parte da nossa condição humana, desconfio muito das pessaos que são sempre felizes e estão sempre bem, mas... parece quase um pecado capital, de vez em quando, não estar bem.

Às vezes você tá mal, e pronto; ou está não-bem, e isso quase que deixou de ser socialmente aceitável. Ninguém também pode mais ficar doente, as farmácias de hoje em dia, nos bairros chiques de SP, parecem verdadeiras boutiques, uma coisa impressionante; os hospitais, hotéis cinco estrelas. A doença e a morte bem escondidas, disfarçadas, porque não combina. Não combina mesmo, mas... shit happens, e somos humanos e não super heróis. Uma pena... ou não. Fico achando que nossas fragilidades, medos, dores, são também o que nos tornam mais belos e interessantes. E que talvez, elas não precisem ficar tão escondidas.

Tenho um amigo que um dia me falou que amava começar a chorar e ir se olhar no espelho, chorando, que achava isso bacana e dramático no último. Dei risada e falei que fazia isso também, mas na adolescência, depois parei. Mas continuo achando divertido. E tenho uma amiga cujo namorado tirava fotos dela depois dela ter chorado muito, o nariz vermelho, os olhos inchados, ela está linda nas fotos.

E aquele dia que você passa inteiro de camisola pela casa, escova os dentes porque, vá lá, do contrário nem você se agüentaria, mas fica ali, de chinelo e meio despenteada, fazendo suas coisinhas, vendo Gilmore Girls ou Friends, um episódio em seguida do outro, o dia inteiro. Você e a gata, ou o cachorro, ou só você mesmo, ou até os dois.

E quando bate uma tristezinha que você nem sabe de onde vem, que fica ali, aguda, te deixando meio sem forças, e vc senta e escreve, ou sai um pouco, se dá um sapato de presente, vai fazer manicure, arruma os livros na estante e sei lá, depois melhora. Quando o tempo demora a passar e não há nada que o acelere, quando o dia é longo e doído. Quando vem de súbito uma saudades de alguém que vc perdeu, e não há o que fazer, a não ser vivê-la. Esses dias existem, não podem ser repetidos sempre, mas eles existem, e têm direito de existir, até para nos lembrar do que são os dias bons, e belos, e repletos e perfeitos.

A gente cai seis vezes e levanta sete, pega a vida pelas mãos, faz o maior esforço, e é assim mesmo, e assim que deve ser. Só não precisa ficar bem, estar bem, o dia inteiro, 24 horas por dia, porque graças ao bom deus não moramos no supermercado Pão-de-açúcar, lugar-de-gente-feliz ( tenho ódio dessa propaganda) , ou no espírito do Mc Donald´s amo muito tudo isso. Ai que medo. A gente cai, levanta, e vive, com dignidade, momento bons e momentos ruins. Que eles sejam mais bons que ruins, e que sejam, sobretudo, sinceros para a gente e nossos desejos e os de quem a gente ama.

Pronto. Pelo direito de estar bem, estar mal, estar mais ou menos, estar por aqui. Sem muito drama, meio distraidamente, nos divertindo e fazendo coisas no meio do caminho, que às vezes dão certo, às vezes mais ou menos, mas sei lá. Fico achando mesmo que o importante é o caminho e, nele, que possamos ser verdadeiros e fiéis a nós mesmos, contemporâneos de nós mesmos, como disse o Murilo Mendes.

E isso é mais difícil que "estar bem".


quarta-feira, 17 de janeiro de 2007

Tiger, tiger

The Tiger
William Blake

TIGER, tiger, burning bright
In the forests of the night,
What immortal hand or eye
Could frame thy fearful symmetry?

In what distant deeps or skies
Burnt the fire of thine eyes?
On what wings dare he aspire?
What the hand dare seize the fire?

And what shoulder and what art
Could twist the sinews of thy heart?
And when thy heart began to beat,
What dread hand and what dread feet?

What the hammer? what the chain?
In what furnace was thy brain?
What the anvil? What dread grasp
Dare its deadly terrors clasp?

When the stars threw down their spears,
And water'd heaven with their tears,
Did He smile His work to see?
Did He who made the lamb make thee?

Tiger, tiger, burning bright
In the forests of the night,
What immortal hand or eye
Dare frame thy fearful symmetry?






Ou... a Mel, Melequinha, Melancia, passeando pela casa, s
endo e existindo; e a lulu num momento coruja.

terça-feira, 16 de janeiro de 2007

sou + eu!!

Depois que a Times decidiu que o personagem do ano era Você, a revista mais genial que anda circulando por aí falou que não, nada disso de você, a personagem principal é...
Eu.

Sim, a grande personagem é essa mesma: eu. O eu mesmo. Gênios.

E fizeram uma revista onde fica todo mundo falando de si próprio e ainda ganha para isso. A sacada do ano, você lê histórias da vida real, e só paga 1,99 porque tá em oferta.

Olha só: todo mundo tem uma história, certo? Então, se sua história for publicada em 3 páginas, você ganha 500 reais, em duas páginas, 300 e uma página, 200.

Se você ensinar alguma coisa (crochê, macramê, sei lá o quê...) você ganha 300 e se contar da sua dieta revolucionária, ganha 300 também.

Eles também dão 50 contos para cada receitinha. A revista chama-se "Sou + eu". Viciei, é o segundo número que compro.

(definitivamente, eu não ligo mais mesmo para o que pensam de mim... ah, quando o povo da USP ler isso...)

Vejamos as chamadas de capa da última que acabou de sair:

"Fui demitida por ser feia e me vinguei ao virar miss"

"Inventei uma cera para depilação e fiquei rica"

"Emagreci 34 kg e hoje fico linda até num jeans"

"Só gosto de sair com homens casados"

"Voltei da morte e tive um encontro com Deus"

Delícia: vingança, paixão, transformação, relatos de amor e de ódio.
Ainda tem a história da velhinha que conta como recuperou seu papagaio fujão, a noiva que teve que trocar o pneu do carro a caminho da igreja, os sete mandamentos da tal que só sai com homens casados, o depoimento da outra que conheceu o marido por engano ( "Liguei para uma amiga, mas caiu na casa do Cícero") e ainda mais uma que ficou famosa graças ao Paul MacCartney.

Definitivamente, a melhor relação custo-benefício presente nas bancas de jornal.

Um bom filme ruim

Não tem nada como um bom filme ruim. Muitas vezes é tudo o que você quer, nada de bons filmes bons, que te fazem pensar, refletir sobre vida, sobre a estética do cinema, sobre enquadramentos, sobre o mundo e nossa época; nada de poética nem de poesia, às vezes, tudo que se quer é um bom filme ruim, para assistir comendo pipoca e tomando coca-cola, e torcer pelo mocinho que vai salvar o mundo democrático e livre das garras do mal, torcer pelo casal que encontrou um ao outro num ataque fuminante de paixão e luta contra as vidas que querem separá-los, rir de certo ator que se expõe ao ridículo e faz comédias ridículas, e assim por diante.

Mas há bons filmes ruins, e filmes ruins que são ruins mesmo, e pronto.

A pior coisa que pode acontecer a um filme ruim é querer ser um filme bom, ou seja, ser mordido pela mosca da pretensão e querer passar alguma mensagem, ou dar uma de moderninho. Quando querem passar alguma mensagem, teimam em terminar de uma maneira meio triste, o que é proibido para bons filmes ruins. Quando resolvem ser modernos, eles adoram, por exemplo, descontruir a narrativa: quero fazer um filme bom... como? a gente pega a mesma historinha, o mesmo enquadramento careta, o mesmo roteirinho bobo, e filma tudo, mas na hora da montagem, conta a história de trás para frente. Pronto! Começa pelo fim e vai voltando. Super moderrrno... ai que sono. Teve um época que tava ultra na moda, acho que agora acalmou um pouco, ainda bem.

Essa é outra regra importante: em bons filmes ruins não pode morrer criança, e o final tem que ser feliz. Por favor. No melhor estilo Frank Capra, em A felicidade não se compra . E se a mocinha estiver realmente doente e tiver mesmo que morrer de leucemia, que o cara se recupere ao final, reencontre a felicidade, e haja uma tomada dele andando no parque, as folhas secas caindo e os brotos da primavera surgindo do chão, e ele tem que dar um sorriso antes que os créditos finais comecem. Por favor. Depois de um bom filme ruim, tudo o que você quer fazer é ir jantar e ficar conversando sobre qualquer coisa, feliz da vidinha besta!! uma delícia.

O Diabo veste Prada podia ser um ótimo filme ruim, mas num chega lá porque sucumbe à historinha da mocinha que quer o amor, uma pena. Em cartaz, Um bom ano, é uma porcaria de filme ruim. Não agüento mais, a história do cara sufocado pelo trabalho, pelo dinheiro e pelo poder, que um dia herda uma propriedade não sei aonde ( existe também a variante: conhece e se apaixona por alguém de ideais opostos ou ganha um filho, ou um cachorro...), e descobre a verdadeira verdade sobre a vida e seus valores. Ai que sono.

Um filme nesse estilo mas excelente na categoria de filmes ruins é Um grande garoto, com o Hugh Grant. Aliás o Hugh Grant é ótimo na categoria de bons filmes ruins. Quase um selo de qualidade, eu mesma já vi Notting Hill umas quinhentas vezes. Em cartaz, O amor não tira férias é exemplar no estilo comédia-romântica-conto-de-fadas-perfeita, se você não estiver com seu coração despedaçado nem nada e gostar do gênero, não perca, um bom filme ruim, todo mundo é lindo, rico, perfeito, os malvados ficam sozinhos, tem cenas de chorar, cenas de rir e... afinal... o amor não tira férias... lindo. Leve sua namorada, que você ganha vários pontos.
Sim, se você lembrou eu também lembrei, Pretty woman é o vencedor nesse estilo, ótimo filme ruim. A chata da Meg Ryan também fez um ótimo filme ruim, com o também chato do Tom Hanks: Sleepless in Seattle ( nas ondas do amor). Meninas, se vocês não viram, peguem seus lencinhos e vão correndo assistir, é lindão e ainda faz homenagem aos filmes holywoodianos da década de 50, esses sim umas maravilhas. Na linha comédia romântica, When Harry met Sally é o filme que definiu o gênero.

Star wars é um grande exemplo de bons filmes ruins e filmes ruins que são ruins mesmo.
A primeira trilogia (a da princiesa Leia e tal, números 4, 5 e 6) atinge todo potencial e brilho que um filme ruim pode alcançar. A gente torce pelo casal, se choca quando descobre que eles eram irmãos, torce pelo outro, o Hans Solo é o próprio herói de bang bang, tem todo o lance épico de salvar o mundo das forças do mal, e os ewoks (aqueles bichinhos peludinhos que usam catapulta para matar os robôs malvados) são a coisa mais bonitinha que já andou pela face do planeta Endor.

A segunda trilogia, feita agora, é exemplar de como um filme ruim pode ser ruim mesmo, não importa quantos milhões e milhões de dólares tenham sido gastos... Você até curte ver a maquiagem e os vestidos da Princesa Amidala no começo ( e isso lá é nome de princesa?), mas depois... eu só torcia para que o chato do Jar Jar Binks morresse logo e dolorosamente.

Eu fico puta quando vejo um filme ruim ruim e que gastou milhões e milhões. É a maioria. Esses do tipo históricos, nem se fale. Tróia, Alexandre, O Gladiador... ai que saudades do Ridley Scott de Blade Runner... aliás, um ótimo filme bom (ou será que Blade Runner se encaixa na categoria de um ótimo filme ruim? hum... complexo) Thelma e Louise eu acho que é um ótimo filme bom.

Curtindo a vida adoidado é um clássico de bom filme ruim. O feitiço de áquila é outro. Todos os filmes do super homem, inclusive o último, para mim, são ótimos filmes ruins (e gente, para quem ainda não entendeu, isso é um super elogio). Os do James Bond, mesmo quando ruins, são bons filmes ruins.

Enfim, cada um tem os seus preferidos. Quais são os seus?

é isso. semana que vem eu falo do Godard que é para minha reputação de mulher intelectual não ir completamente por água abaixo...
ou não.

beijinhos a todos
Lulu.

Muita democracia

Ela tinha sido roubada, e precisara fazer uma biópsia na delegacia, daí o pedido de dispensa do trabalho, naquele dia.
"Claro, depois volta e diz como foi, boa sorte."
Ao final do dia, ela chega, um ar cansado.
- E aí, Dona Maria, como foi?
- Ai, Dona Ana, esse negócio não dá certo... tem que tirar cópia disso, pedem certidão daquilo, assina aqui, carimba ali. Muita democracia, Dona Ana, muita democracia...

lulu concorda.

segunda-feira, 15 de janeiro de 2007

Lulu recebe, parte 2.





Aos leitores aflitos, que já se perguntavam, ansiosos, cadê a lulu? cadê as receitinhas prometidas? O que faço com as berinjelas lá de casa? e assim por diante, devo dizer que o consumo de quantidades indecentes de vinho e champã gera não só dor de cabeça mas também uma certa imobilidade geral e, principalmente, uma incapacidade crônica de concentração e escrita. Mas o dia passou, a dor de cabeça deu um tempo, e aqui vamos nós!!!
:)
A festinha foi ótima, era prá ser uma matinée dominical que começava às seis da tarde e virou quase uma rave que se prolongou até as quatro da manhã, com direito a dança, com trenzinho e tudo. Umas dez pessoas, e uns mil vexames.

Sobre as tais das bolas verdes, à certa altura ocorreu o seguinte diálogo:

- Ai.. adorei isso daqui!!

- É o máximo né? Comprei na feira. Chama saco do padre!

- Saco do padre? (as duas já meio bêbadas, apertando as bolinhas). Hm... daí a opção pelo celibato...

E dos causos e frases eu até contaria, mas devo confessar que não lembro direito de nenhum deles.. sorry, essa repórter se empolgou demais na sua observação participativa.
Vamos, então, às receitas!!

Pimentões queimados:

Muito simples, e fica ótimo. É só pegar os pimentões, colocá-los em cima de uma chapa de ferro, acender o fogo e deixá-los queimar, sem dó nem medo.
Quando eles tiverem bem queimadinhos, por todos os lados, você espera um pouco até que esfriem e com as mãozinhas retira a pele e as sementes de cada um. Aí você corta em tirinhas, joga azeite por cima, um pouco de sal, pimenta do reino e pronto!!
Se você usar pimentões vermelhos e amarelos fica lindo e com cara de filme do Almodóvar. Com avec alho esmagado fica bão também.














Berinjelas grelhadas

Exatamente o mesmo princípio dos pimentões. Faça uns furinhos nas berinjelas com um garfo antes de levá-las ao fogo, senão elas estouram e você não quer que isso aconteça com seu fogão.
Dá certo também se você colocar as berinjelas no forno, mas eu acho que não fica tão bom. Aí você descasca as ditas, amassa tudo com um garfo e tempera a gosto. Pronto!! Sem segredo nem mistério.

Pepino com iogurte.

Para fazer em dois minutos, deixar na geladeira e ir comendo durante a semana. Fica ótimo na salada. Você pega um pepino do tipo japonês, tira a casca, rala o coitado. Aí abre um potinho de iogurte natural da sua preferência, de consistência firme. Mistura tudo, rega com azeite, tempera com a já famosa tríade: pimenta do reino, sal e mais azeite e pronto, voilá.
Aí como tinha tomates bonitos na feira, eu peguei um tanto, piquei em cubinhos, usei o tal do
azeite, do sal e da pimenta, e dá-lhe manjericão, fresco, verde e lindo. E em outro prato fiz a mesma coisa e acrescentei azeitonas pretas picadas, aí quem gosta de azeitonas, come o de azeitonas, quem não gosta, fica só nos tomates.

Depois a gente serviu um rosbife e alheiras, que é para dar sustança porque o povo bebe muitcho!!

Beijinhos a todos,
Lulu.

Ah, se você clicar em cima das fotos elas aparecem em tamanho grande e boa resolução!!