segunda-feira, 30 de abril de 2007

A força do hábito

E no meu caminho para uma extraordinária tarde no cinema, em SP, resolvo deixar o carro parado e ir de metrô pra a Paulista.

Chego no metrô, dirijo-me ao caixa para comprar bilhete ida e volta:

- Um duplo, por favor.

O moço, espirituoso, sem nem piscar, olha para mim e pergunta:

- Com gelo ou sem?

"o início e o fim"

Programa de segunda feira feriado esticado: cinema.
A tarde no cinema.

Começo com o Cheiro do ralo e termino com a Comilança.

Comentário do maridão:
faz sentido, mas devia começar com A Comilança e depois terminar com O cheiro do ralo.

ai, ai....

sobre a dor e outros demônios

Esse post é para uma amiga minha:

Cada um sabe o quanto dói sua dor, e ninguém sabe pelo outro. Eu não sei também, então dar palpite, opinião, falar deixa disso, levanta, sacode a poeira e vamos em frente me parece vazio, porque às vezes não é uma questão de querer, de vontade ou força de vontade. Às vezes a vida se traduz em impossibilidade absoluta.
Mas aí, e era isso que eu queria dizer, M. , a gente acha um fiapinho de força que ficou ali, escondido nalgum canto, porque a gente sabe que é um desperdício, já que estamos por aqui nesse mundo mesmo, não aproveitar o passeio. E passar pela vida triste é chato demais. Disso eu acho que todo mundo sabe. A gente passa pela vida, a vida passa pela gente, do jeito que dá, e vamos mudando, lutamos muito para que seja inteiro, eu sou muito a favor de uma vida feliz.

E não dá? Dá sim. Isso que eu queria dizer. Dá. O tempo ajuda, porque os demônios fraquejam, encolhem, dão lugar a outros, novos. Porque a gente se reconstrói, mil vezes, e ainda bem. A gente cresce e conquista.

E aí chega um dia e nos descobrimos frágeis, demasiado humanos - como diria o outro. Descobre que fez merda, que se maltratou muito, que danou-se. Mas sabe? A gente descobre que pode se refazer também, oras bolas, sempre e milhares de vezes, quantas forem necessárias, e danem-se os críticos de sempre, que atiram todas as pedras na fragilidade dos outros. Porque do nosso corpo, da nossa história, dos nossos sonhos e medos, é a gente que toma conta. E não pode deixar que destruam tudo isso. Isso que eu queria dizer: não pode.

Tá?

um beijo,
L.

sexta-feira, 27 de abril de 2007

"Egos Oscilantes em Busca de Aventuras"

Conversas com amigas:

Uma:

- Oi querida!!
- Oi lu. Tudo bão?
- Tudo bão. E contigo?
- Doida para usar saia e agora com um roxão no joelho.
Doida pra dar pro X.
Ou melhor, doida para dar. Ponto.
Melhor ainda, doida.
- Ah... Normal...

Outra:

- Luuu... estou me sentindo uma vaca, é um saco isso... Entrei meio em depressão essa semana
- Hahahaha. ( sim , eu ri. )
- ... por conta do corpo, idade...
- "Uma vaca" é ótimo. Podia ser uma vaca dadeira!
- Não lu... estou me sentindo uma vaca leiteira mesmo....Peitudíssima! uns braços enormes e gelatinosos! ai Lu... se eu pudesse fazia lipo...
- ai, ai... Mas, olha, tem uma coisa bonita nisso também. Quando não é exagerado.
- Tem? O quê??????
- Ah... sei lá... uma generosidade de carnes!!!
- hahahahahhaaha!

Outra ainda, me manda esse e-mail:

"Oi Lu, tudo bem? e como vão indo os ânimos? eu continuo no meu momento vamoaí!, ou seja, "Ego Oscilante em Busca de Aventuras", acontece mais ou menos uma vez por ano quando algo dentro de mim quer sair mas não sabe como nem para onde. daí o melhor é: inventar moda! topo QUALQUER coisa fora da rotina, fora do normal, fora do padrão, ou eu me jogo ou eu enlouqueço. "

E depois ela me explicou o que significa essa maravilhosa expressão:

É assim: quando a gente tá com o ego oscilante, mas tão oscilante que no mesmo dia se sente o máximo, depois uma merda, depois o máximo de novo e assim por diante. Nesses momentos é fundamental sair em busca de aventuras, porque ficar em casa na vidinha à toa dá uma enlouquecida.
(copyrights do “ego oscilante em buca de aventuras” : Brigitte)

Então boas aventuras para todos nós que estamos por aqui, ainda vivos e vivas, mesmo que oscilantes.

quinta-feira, 26 de abril de 2007

aguaceiro


Dessa dor ela não sabia nada. Não sabia nada; era desconhecida, nova e ruim. Agora a situação trazia a medida exata da descoberta. Trazia a marca dele. Marca de homem, maior que os barulhos da rua. Tinha um jeito de mulher sozinha, bem do jeito dela querer ser. Porque queria. Tantos do lado e mesmo assim permanecia no silêncio grande. Silêncio de querer saber adivinhar do fundo das coisas aquilo que as pessoas eram. O silêncio onde ela queria morar.

Trazia consigo a marca dele, homem velho que era. Das coisas não vistas. Ela preferia não dizer nada, sob o barulho da rua de fora. De fora era a novidade da traição.

Como coisas assim acontecem acontecem logo sem que se saiba. Ela não sabia de ninguém e era apenas vida mal acabada. As cores do cabelo dela, não havia cor igual, e ele gostava de não tirar os olhos dos fios do cabelo dela que olhava para baixo resmungando não. Isso antes.

Um chuvisco havia começado. Era hora de sair de casa. Desde a roupa a ser posta até o batom tudo era um fazer-se desmesurado. Para ser aquela que nenhuma mais fosse, e poder encontrá-lo. Era o piso do elevador, era a bolsa cheia de batom, caneta e coisas de bolsa da vida inteira. Embaixo era chuva, que aumentava.

Os pés na rua, o sapato preto de todos os dias. A rua molhada de luzes vermelhas, cheias de homens: qual desses? De novo, sete vidas, ela cai e levanta, cai e levanta, mas agora... A pele cobria o cérebro, responsável por toda desgraça, e ela suava frio, andando, sempre. Era noite sozinha, bem só em busca da rua.

Se homem, era então verdadeiro o andar solitário, fotografando pela retina dos olhos o acontecer das coisas. Já mulher acontecia do andar ser falso, fingido e inseguro. Não... eu não sou... tô só andando sozinha na noite, na esquina, desculpa, tudo bem...

Do mundo sem vida, ele permanecia quieto, por cima das nuvens. Seu corpo traído, caído pela traição. Os homens eram como caminhões sem freio algum. Não importava o resto. Queria vê-lo, achar sua casa, mesmo a essa hora da noite, mesmo com a chuva e tudo. Um escândalo provável. A porta vermelha da casa dele. Era rosa, o muro da casa, mas ela sabia que à noite o rosa é rubro, escarlate. Era a casa dele.

O andar torcido. Vontade não bastava. A casa não era perto, pertinho, mas ela saíra tão determinada. Era bom encontrá-lo e ver-se vermelha de faróis próximos de novo. Mesmo que o fim fosse certo, não era mesmo amor o principal. Ela queria coisa de mulher. E tanta vontade, mas tanta vontade e nada da casa, ela que nem sabia mesmo ao certo onde ele morava. O muro rosa à noite fica como vermelho. A chuva caía quieta.

Cada polegada do andar solitário fazia saber do passo dado. Cada polegada de passo que ela andava fazia querer um passado maior que pudesse contar de tanto merecimento. Ela queria. E cada polegada de andar era querer demais.

Quase de graça a consciência transbordava. A pele, grande responsável pelas coisas do amor, já encharcada. Amor de graça, de pouco contato jogado na cara. E quem garantia? Quem era garantia do muro não ser mesmo de branco puro de parede qualquer?

Nada de espertezas. O muro era vermelho e ela sabia mais ou menos onde ficava pela cidade. Era só continuar andando firme, na determinação de uma noite não repetida. Pelo menos essa, sem estar só.

Nos passos perdia-se a importância do cabelo já tão molhado, da saúde já um pouco fraca, dos ônibus que não vinham, da chuva que aumentava, do dinheiro do táxi, que não tinha, da mãe, do pai, do avô e da família, amém. Dos passos era tudo para depois, se depois depois houvesse.
Ela andava e andava só por causa disso. Queria tudo dele, mesmo sabendo da certeza do não, eu já disse, você nem pode entrar mais aqui, não tem nada mais seu aqui. Ela sabia mas caminhava como se sim.

O lugar era sempre ainda e ela precisava do lugar nenhum, a casa não aparecia enquanto ela percorria as ruas da cidade. Como se todos os desejos fossem águas de pote quebrado, como se cada passo pudesse esquecer, como se entre as coisas houvesse encaixe e como se a verdade fosse ali, ela continuava andando. E andava até mesmo como se ele existisse.

Era uma história de lonjuras. Uma história de mulher e de homem juntos se vendo entre sorrisos de descoberta do outro e o sorriso era maior. História de silêncio, de brilho nos olhos quietos. História já partida, mas ela não queria saber.

A chuva caía mais forte. Foi uma história quieta e era em busca dessa maior história do mundo que caminhava. Uma esquina atrás a bolsa caíra sem querer, e ela perdeu as folhas de documento, talão de cheque, cartão do banco, cartão de crédito, agenda de telefone, lenço de papel, blush, base, rímel e batom. Ficaram no chão, espalhados pela chuva bem junto dela, que tinha pés e por isso andava. E fazia uma festa pela noite escura afora. Um pouco perdida nas ruas da cidade, tateando o caminho, reconhecendo alguma casa mas ainda não, não era essa, cadê?

A maquiagem do rosto tão bem feita, bochecha de blush vermelho, sobrancelha feita de sombra azul, cílios de rímel preto, e mesmo o perfume, tudo borrado. A decadência completa, uma mulher de rímel borrado na chuva: oi, vim te ver.

Era noite de chuva, a noite mais chuvosa que ela já vira.

Todos abrigados e ela ali, gostando, a chuva lhe dava toda a solidão do mundo, toda a solidão necessária do mundo. Ninguém prestava atenção.

Numa esquina ela tirou os sapatos que estavam mesmo encharcados e atrapalhavam. A água tamanha escorria, destruía calçadas, todos os bueiros transbordavam, os carros estacionados formavam ondas no asfalto. Árvores com galhos quebrados, ninguém mais na rua. Trânsito quieto. Era tempo de enchente.

Doença, bicho do pé, água forte, chão invisível, algum vidro solto, algum cano quebrado, bichos, ratos da cidade e buracos obscuros faziam parte do resto da sua vida. Andava descalça e calma, sem documento, sem sombra, no meio da enchente, em busca do muro rubro, muro vermelho. A chuva era infinita. Queria porque queria.

Sorriso pequeno e andar quieto, continuava de poucas palavras, como sempre havia sido. E a ventania era tanta que as portas de todos os bares e casas e lojas, e as portarias de todos os apartamentos e clubes e boates estavam fechadas, e mesmo aqueles locais mais secretos onde a porta é sempre aberta, mas nunca se vê alguém entrar, estavam fechados, e mesmo as igrejas e todas espécies de outras casas de Deus, também fechadas.

O andar forte de frio e dor nas juntas, queria, e continuava querendo, o rosa azul rubro vermelho da casa dele. Em outros cantos, casas despencavam morro abaixo. Era tempo de enchente em meio aos passos daquela que andava só, a água pela cintura, já sem calça e sem blusa, de calcinha e sutiã pelo meio da rua vazia, em direção à casa do muro azul rosa amarelo vermelho rubro, a casa do muro do lugar dele.

E na última esquina ela riu. A última peça de roupa, a água levou. Era uma mulher que andava nua e ninguém via.

E nua, aquela mulher andava sobre os destroços, no silêncio profundo do banho de água pura. E nua, aquela mulher falava sozinha, no meio da noite de mais chuva, a noite do não dormir. E nua, aquela mulher criadora, mergulhou no colorido de luz dos destroços da casa vermelha.

O maravilhoso mundo infantil, infantil.

A questão que não quer calar nesse final de semana quando os novos blockbusters estréiam é: para quem você torce? Homem-Aranha, Shrek ou Piratas do Caribe?

Eu fico com o Shrek, mas enquanto ele namora a Fiona, me preocupo um pouco, afinal... grande, mas grande parte do público desses filmes já largou as fraldas faz tempo, muito tempo, um tempão. E vai louca desvairada ao cinema. Adultos vendo filmes de crianças.

E vão falar: mas é gostoso, é legal, é divertido, eu amo super heróis, eu amo desenho animado, eu acho fofo, eles salvam o mundo, e tal.

ok, eu mesma assisti as versões 1 e 2 dos três - embora tenha dormido na dos Piratas porque não há gostosura de Johnny Deep que sustente aquilo ali. O Shrek um é lindo.

Mas que há uma progressiva infantilização do gosto do público que consome cultura de massa, há.


credo.

quarta-feira, 25 de abril de 2007

A cor não é transparente 2

Aqui, copio e colo artigo importante que saiu hoje na Folha de São Paulo. Para quem ainda acha que vivemos numa democracia racial....


O dilema da nação

JOSÉ VICENTE

O Brasil, tendo por referência os negros, ocuparia a 105ª posição no ranking de IDH entre países. Considerando só os brancos, ocuparia a 44ª

NO BRASIL, a despeito do discurso oficial justificar a distância e a invisibilidade social com a tese da discriminação social, um instrumento surpreendentemente demolidor tem deitado por terra a fragilidade e a inconsistência desses fundamentos que pregam a cantilena da democracia racial.
Importantes e atuais pesquisas isentas de organismos insuspeitos têm contribuído para colocar por inteiro e confirmar à exaustão o que sempre se soube informalmente: no Brasil, o segundo maior contingente de negros do mundo, a discriminação racial atinge níveis estratosféricos.
O IBGE aponta que os negros compõem 45% da população brasileira.
Nos estudos do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, considerando o Índice de Desenvolvimento Humano, o Brasil, tomando como referência os negros, ocuparia a 105ª posição no ranking entre países.
Considerado só os brancos, ocuparia a 44ª. São 61 posições de diferença.
O Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) noticia que, nos últimos dez anos -oito de social-democracia-, a distância social dos negros em relação aos brancos aumentou.
Entre os 10% mais pobres do país, 65% são negros; entre os 10% mais ricos, 86% são brancos. O Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) comunica que, para trabalho igual, com mesma qualificação e igual anos de estudo, o negro recebe até 50% a menos que os trabalhadores brancos, e a mulher negra, até a metade do salário do homem negro.
O Instituto Ethos informa que, nas 500 maiores empresas do país que praticam responsabilidade social, os negros representam só 3,5% dos cargos de direção -e não é diferente nas estatais e nas multinacionais.
Aliás, e por incrível que possa parecer, muitas delas, atuando em país miscigenado, não desenvolvendo nenhuma ação de valorização da diversidade racial e não possuindo um funcionário negro sequer nos cargos de direção ou chefia, ainda assim são detentoras de certificações internacionais por práticas de ações de sustentabilidade socioambiental.
Em rápida e superficial imersão visual na comunicação social, concessões públicas que devem cumprir o fundamento constitucional da pluralidade, na propaganda oficial custeada por recursos dos contribuintes -negros também- e na propaganda comercial para comunicar e vender produtos e serviços para consumidores -negros também-, estes praticamente inexistem.
Nos aportes milionários dos fundos de pensão das estatais que abrigam a contribuição dos funcionários -negros também-, nas renúncias fiscais caracterizadas pelas leis de incentivo à cultura, ao cinema, ao teatro, ao esporte e à pesquisa ou de fomentos setoriais e às pesquisas -contribuição financeira dos negros também- e nas licitações e compras governamentais não há uma recomendação que seja no sentido de ser considerado nosso orgulho nacional da rica, valiosa, criativa, única e bonita miscigenação, garantindo sobremaneira atenção à diversidade racial e à efetiva participação dos negros na sua realização.
Ao final, no maior Estado e município da Federação, São Paulo, que agrega o maior contingente de negros do país, 30% de sua população -eleitores também-, não existe sequer um negro no primeiro e segundo escalão de governo. Não há um desembargador negro entre os quase 400.
Não há um procurador de Justiça, um delegado classe especial ou um coronel da Polícia Militar negro.
Na USP, maior universidade da América Latina -custeada com impostos pagos por negros também-, são 2% os alunos negros e, dos 5.400 professores, menos de dez são negros.
Assim, como realizar os fundamentos da cidadania e da dignidade da pessoa humana e construir uma sociedade livre, justa, solidária e que promova o bem de todos sem preconceito de raça e de cor sobre esses pilares com pés de barro?
Como alcançar os desígnios da paz, tranqüilidade, coesão e progresso social numa nação cindida e que joga na lata do lixo metade dos seus cérebros e talentos e, onde o gozo e usufruto dos bens, riquezas e oportunidades são disponibilizados apenas à parcela dos filhos da pátria?
Como se pode ver à saciedade, os números e os dados são latentes e insuperavelmente indicativos de que, menos por conta da discriminação social, do racismo cordial à democracia racial, do milagre brasileiro ao neoliberalismo, o mais intrincado e decisivo dilema da nação continua intocável, e o negro brasileiro continua onde sempre esteve, no porão, separado e desigual.

JOSÉ VICENTE, 47, advogado e sociólogo, é reitor da Unipalmares (Universidade da Cidadania Zumbi dos Palmares) e presidente da Afrobras - Sociedade Afrobrasileira de Desenvolvimento Sociocultural.



Sobre o assunto:
Aqui no Diário: A cor não é transparente.
E, se você ainda não conhece, no Biscoito Fino: aqui.

terça-feira, 24 de abril de 2007

O que é uma mulher bonita?

nota explicativa sobre o post de ontem:

Uma mulher bonita, no dicionário da lulu, não é a mulher que sai bem na capa de revista. Não é a mulher de rosto perfeito, corpo moldado, cabelão da moda, narizinho sei lá o quê.

Não é necessariamente nada: nem necessariamente jovem nem velha, nem necessariamente magra ou gorda, nem peituda, nem sem peitos; bunduda ou sem bunda, não é necessariamente baixa, nem alta, nem nada disso. Uma mulher bonita sim, se cuida muito, mas um cuidar-se obsessivo também pode deixá-la sem graça.
Uma mulher bela, no dicionário da lulu, é uma mulher inteira, que sabe de si, sabe o que quer, sabe das suas belezas e está bem.

Os predicativos necessários para a beleza, no dicionário da lulu, talvez sejam o sentir-se realmente de fato bem consigo mesma, um tantinho de felicidade, outro de melancolia, um tantinho deloucura, outro de lucidez. Um estilo encontrado e construído, muito charme, um riso fácil, um olhar forte. Acho belas as mulheres seguras de si, que têm charme ao falar, andar, colocar-se.
As mulheres alegres, cheias de corpo e sensualidade, ternura e força. Que sabem olhar, ouvir e falar, sabem o que lhe cai bem, têm corpos cuidados, mas não corpos iguais.
São belas as mulheres com história.

Uma mulher bela para mim será sempre elegante, e elegância não tem nada a ver com estar na moda, pelo contrário; uma bela mulher encontrou seu estilo, e esse passa a ser só dela.
Uma mulher bela gosta de si. Se cuida, se trata bem, com cremes, ginásticas, caminhadas, o que seja mas atenção: gosta de comer e beber, assim como gosta de sexo. Uma bela mulher se dá prazeres.
Uma mulher bela, bela de verdade, é inteligente. Uma mulher bela, no dicionário da lulu, é sempre uma mulher interessante.


E aí o Alex falaria assim: não lulu....
você tá confundindo alhos com bugalhos....
beleza é beleza; não necessariamente relaciona-se à atração sexual, ou atração, que seja...
mas beleza é objetiva, sai bem na foto.
você está misturando beleza com outros predicados: elegância, interesse, inteligência, segurança, charme. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.

Pois é... taí... para mim, no mundo real ( não para ver no cinema, na revista ou na tevê ) não existe essa separação.

Uma mulher sem charme, sem interesse, sem inteligência, sem elegância, fica feia. E uma mulher feia charmosa, interessante, inteligente e elegante, fica linda.

Mas desconfio essa seja uma opinião somente de mulher... acho que os meninos vão chegar e falar: não lulu, mulher bonita é mulher bonita, e ponto.

mas o bom de ter um dicionário próprio é isso!! o verbete é meu e ninguém tasca! :)


beijinhos a todos.

lulu

E ATENÇÃO:
não deixem de ler os comentários. A papa fina está lá, excelentes comentários e depoimentos, em debate. Vale o desvio. :) (Bem melhores que o post em si!)

E leiam aqui, o Alex falando sobre as mulheres bonitas e as feias.

segunda-feira, 23 de abril de 2007

Quantas cabem?

Quantas cabem?

Quantas mulheres bonitas cabem no mundo? E se ainda por cima forem inteligentes e elegantes? E problemáticas ainda por cima? E se, mais ainda, forem interessantes? Quantas mulheres interessantes cabem no mundo? E ainda mais se forem especiais? E únicas?

Tem espaço para mais de uma?

Uma pode ser loira, uma morena e uma ruiva.

Uma japonesa, uma negra, uma chinesa, uma índia, uma indiana, uma branca, uma Filipina. Uma de cada país. Uma judia, uma mulçumana, uma católica, uma atéia, uma de direita, outra de esquerda.

Ainda sobra espaço?

Uma de cabelo encaracolado, uma de cabelo liso. Umas trinta?

Cada uma bonita, inteligente, elegante, interessante, especial, problemática. Gordas e magras, altas e baixas; cada uma com seu choro e seu riso escondido.

Uma para cada país. Uma para cada cidade, uma por bairro? Na mesma família? Cabe?

Umas um milhão?

Cabe?

Na mesma sala? Na mesma festa? Entre duas amigas?

Cabe?

Será que elas se agüentam? Cada uma bonita, inteligente, elegante, interessante, especial, problemática. Na mesma mesa, na mesma festa, na mesma família.

Falando de homem, sexo, economia, religião, cultura, política, arte, dinheiro, casa, família. Falando das outras mulheres. Falando mal?

Quantas mulheres andando de mãos dadas existem no mundo?

Quantas mulheres se agüentam?

Muita gente diz que não existe amizade entre mulheres.

Acho isso uma bobagem.

Já ouvi de um monte de mulher que é impossível ficar amiga de mulher. Uma pena, isso, ter esse sentimento.


Minhas amigas me ajudam a existir, sem elas acho que nem estaria aqui.


E é lindo um grupo de mulheres e... sabe...

cada vez tenho achado mais que todas cabem.

Infinitas.


deu saudades das minhas amigas.




Rua Augusta

Ao passar pela frente da casa Las Jegas (sic), onde "por dez real você entra, ganha um DRINK´S, , assiste o show e as muié num paga" deparei-me com o seguinte outdoor, logo em frente:


para você que está duro


O Studio A, de domingo a terça, depois da meia noite, te receberá de braços e pernas abertos pela bagatela de 49 real...

Para você que está duro.... é imperdível.



achei genial.
obs. para quem num é de sumpaulo, o Studio A é um motel famoso.

domingo, 22 de abril de 2007

faça sua parte

O blogue faça a sua parte propôs, para hoje, a seguinte blogagem coletiva:

"Esse ano, temos uma proposta a fazer para comemorarmos esse dia da Terra de modo a transformar essa que seria apenas uma homenagem lida e ouvida por nós humanos, em algo que a homenageada, a Terra, pudesse realmente perceber, sentir o quanto estamos a seu lado e lutamos por ela.

Como é até óbvio, o próprio nome do blog é um convite à ação. Pensamos somente em explicitar mais isso, com exemplos práticos e reais, de pessoas que estarão se esforçando para melhorar o seu modelo de consumo com vistas a uma melhoria do ambiente.

Propomos uma ação coletiva onde para a postagem do dia 22, a sugestão para quem for participar, é que faça um post onde se coloque uma sua meta a ser atingida no que se refere ao meio ambiente. Explicando melhor:

Cada um que postasse, poderia declarar a sua meta no que se refere a economia de recursos, a porcentagem de lixo separado, enfim, o que for. Exemplo: espero reduzir em 20 por cento meu consumo de combustível. Isso é um dado objetivo e mensurável. Alguém pode traçar como meta diminuir o consumo de água, ou o de embalagens, comprar menos supérfluos ou mesmo simplesmente andar mais a pé . Cada um fala do seu empenho no seu blog e o “Faça a sua parte” reúne os links no dia 22. Mas o objetivo também é o de ter uma meta que o “Faça a sua parte” possa noticiar ou linkar ao longo de todo ano. No próximo dia da terra, daqui a um ano, o “FSP” fará um grande balanço dos resultados."





Proponho aqui, então, em público, minhas metas pessoais. São bem simples, na verdade, e não é muita coisa, mas enfim...

1) Levar uma xícara própria para as escolas onde trabalho e parar de usar copinhos de plástico. Cada vez que bebo água, um novo copinho de plástico. São uns quatro por dia. Se a escola tem uns trinta professores, vai uma média de 120 copinhos por dia. Num precisa, ? Então, sempre me proponho a ter minha xícara pessoal, sempre me esqueço de levá-la. Aqui vai minha primeira meta: não usar mais copinhos de plástico no trabalho e quem sabe, até, influenciar pessoas.... :).

2) Reciclar mais, papéis, plástico e vidros. Tem um posto de coleta de recicláveis a três quarteirões da minha casa. Levo as garrafas de vinho, as latinhas de cerveja para lá de vez em quando. Minha meta: de vez em sempre, reciclar o que puder, sistematicamente.

3) Usar menos o carro, andar mais à pé. Dá perfeitamente para eu usar menos o carro do que uso. Fico na verdade com preguiça. Essa é uma meta boa porque além disso ajuda a diminuir o sedentarismo. Poderia ir para uma das escolas à pé, é uma caminhada de meia hora, vou a essa escola uma vez por semana. Seria um dia da semana sem usar o carro. Tá, essa é a minha terceira meta, a mais difícil de todas, vamos ver.






fonte das tiras da Mafalda:


http://mafalda.dreamers.com/


(para ler melhor as tiras, é só clicar na imagem)




fonfon
fonte das tiras da mafalada

sábado, 21 de abril de 2007

e então

e então fica um vazio, uma vontade de mais, de coisa muita, de um mundo inteiro.
Fica uma canseira e um sei lá o quê, uma tristeza estranha, uma mudez que não se domina. E então a gente espera e deixa que as horas passem para que cure, para que o vazio esfrie.

E um sábado passa.

E então, como que por espanto, o corpo se preenche de um amor pelo mundo que parece não ter tamanho, uma vontade de estar perto, uma vontade de abraçar, cheirar, viver, escrever, ser e estar plena. Como um temporal, vem, então, no final da tarde, e limpa todas as ruas da cidade. Vem, como uma música ouvida bem alto, como um belo concerto, como uma refeição perfeita, uma taça de vinho excelente, uma gargalhada que se dá, um abraço, um choro bem chorado.

Vem um amor que me deixa inteira.
Inteira. Como se nos braços de alguém, solta e louca., como uma vertigem. Como uma frase que vem e obriga a sentar e escrever, como um dito, um abraço, um vestido de caimento perfeito, uma flor na rua, um sorriso de um estranho. Como um gemido incontido, um riso abafado, um amor proibido, uma melodia perfeita, um poema inteiro que parece ter sido escrito para o agora já, um passo de dança, como uma palavra certa.

E então parece que quase não se tem corpo ou parece que ele está ali, inteiro demais, pronto para a vida, porque parece que o mundo tem pé, faz sentido e dá para dizer que sim, sim, sim.

sexta-feira, 20 de abril de 2007

as crianças

E para encerrar a saga acampamento chega de falar de mim, falemos das crianças.

Eu nunca mais vou achar que sofro nessa vida porque ninguém sofre mais que uma garota de 13 anos. É impossível sofrer mais que uma garota de treze anos, elas ganham da Xispita, a garotinha órfã que passava no SBT quando eu era criança e ficou na minha cabeça desde então como o parâmetro de todo o sofrimento possível.

As garotas de treze anos basicamente choram, gritam, têm ataques de riso e falam. De vez em quando elas respiram, nos intervalos, mas só nos intervalos. Meninos, eu vi. É fato. Uma coisa impressionante. Elas ficam amigas e inimigas mortais umas das outras em questão se segundos. O mundo acaba e se remonta diariamente, várias vezes por dia. Chega a ser bonito até. E se abraçam, beijam, mordem (sim, se mordem. A moda agora é dar mordidas nas amigas até ficar roxo. Pois é...) e querem conversar conversas sérias, o tempo inteiro, sobre garotos, sobre a vida, sobre amizade, estilos, família, pais e mães.

E os meninos, enquanto isso?

Aos meninos não resta alternativas a não ser admirá-las de longe. Não têm a menor chance, por mais legais e bacanas que sejam. As garotas de treze anos se apaixonam pelo monitor do acampamento, pelo irmão mais velho do amigo, pelo DJ da festa... difícil o menino da mesma classe, desengonçado, cheio de espinhas, todo torto como são os meninos de treze anos, ter alguma chance.

Então os meninos, enquanto as meninas choram, gritam, falam e têm ataques de riso, os meninos vão jogar futebol, e brincar. As meninas brincam também, mas tentam disfarçar um pouco.

No Ensino Médio isso muda, os meninos aí crescem dezesseis centímetros por mês e alguns conseguem até ficar interessantes.

Mas até a oitava série... sem chance....

E à noite tem discoteca. Nada de bailinho nem de música lenta. Achei chato isso, era emocionante dançar Dire Straits com o menino que ia lá te pedir pra dançar com ele. Aquele friozinho na barriga, o medo de tomar chá de cadeira. Já tomei chá de cadeira, uma vez, na terceira série. Foi horrível. Mesmo assim, traumatizada e tudo, sou a favor das músicas lentas, mas ninguém quer nem ouvir falar no assunto.

De qualquer maneira, as meninas vão dançar e os meninos... jogar bola.

Recusei um convite legal prum jogo de pingue pongue porque sou da turma que vai dançar também. É engraçada a dança das meninas, ficam de lado, colocam a mão no rosto, e rebolam, rebolam, rebolam. Todo mundo shaking on it, babe. Os meninos da sétima e da oitava nem se aproximam.

Lá pelas tantas, quatro garotos corajosos da sexta série aparecem para dançar também. Gostam de dançar e não tão nem aí. Ficam dançando, na deles, rindo e se divertindo. Adoro meninos que gostam de dançar. Meu marido diz que a única razão pela qual um menino ou homem vai para a pista de dança dançar é para tentar beijar na boca, mas é mentira. Tem meninos que gostam genuinamente de dançar, e é lindo ver meninos dançando. E palmas, muitas palmas, pros garotos corajosos que entraram na roda e, simplesmente, se divertiram.

E todo mundo, na verdade, ainda é bem criança. Embora as meninas da sétima, do alto de sua adulteza, viessem me contar:

-Luuu!! Sabia que quando a gente era criança, a gente não achava nenhum menino bonito?

- É?

- É!! A gente falava assim que o único homem bonito do mundo era o nosso pai!

É!! Lu, eu falava assim: “Meu pai é o homem mais liiindo do mundo!!!”

E risos e ataques de risos, de doze anos de idade.

- Luuu!! Quais meninos você acha bonitos? Luuu!! Quem você acha que devia namorar com quem? Luuu! A Gabi brigou comigo......Luuu, o Teco é insuportável....ele é legal, mas ele é insuportável!! Luuu....

Eu também achava meu pai o homem mais lindo do mundo. Na verdade, acho isso um pouquinho até hoje, o Bolinha que não me ouça.

E à noite a gente sai do banheiro, perfumada, limpa, banho tomado, cremes passados, camisola rosa, cabelo escovado, e a aluna, do beliche, te olha e fala:

- Nossa Luana !

-Que foi?

-Que linda !!

E a gente sorri, cobre a menina, passa gelol no joelhinho machucado e dá beijinho de boa noite.

Uma das minhas principais funções era apagar a luz de noite, meia-noite, luz apagada e bocas fechadas. E como eles, os professores de Educação Física, usam a técnica de “nem um minuto parado”, os garotos despencam exaustos, e de fato logo dormem.

Aí estava tudo escuro e uma menina da quinta me chama:

-Lu....

- Oi?

- Vem aaaaaqui....?

- Vou.

Cheguei lá, tateando no escuro.

Ela me chama para mais perto e fala no meu ouvido:

- Será que dá para acender uma luzinha? É que eu tenho medo do escuro.........

E, na porcaria do chalé, não tinha nenhuma porcaria de luzinha nenhuma. Ou se acendia as luzes do quarto inteiro, ou nada feito.

- Hum... como a gente faz?

- é... num sei... as pessoas podem reclamar, né?

- É ... acho que sim... mas eu posso ficar aqui com você de mão dada até você dormir, pode ser?

- tá bom.

(...)

E no jantar, entre os tais cânticos e jogos de ritmos com as mãos... torpedinhos. E o povo se diverte, mandando declaraçõezinhas infames uns para os outros. A melhor de todas:

“Imagine uma ilha.... Na ilha, há um coqueiro....... No coqueiro há um côco... O côco cai....

E aí?

Rola?”

Enfim, isso tudo para dizer que eu mesma recebi um, do menininho da sexta que me acha belíssima, falando que eu era que nem uma rosa. Hihihihihi....

- Professora, o quê você tanto escreve?

- É meu caderninho, eu fico anotando as coisas que vocês dizem, as coisas que acontecem...

- Ah, professora... eu acho que você devia se divertir!! Vir jogar com a gente, fazer esportes...

Era um conselho sério. Eu fiquei com vontade de rir e quis dizer que me divertia assim, escrevendo, mas acatei e fui lá jogar com ele. Foi uma delícia. Me diverti muito.

E... cheguem mais perto, que eu vou falar bem baixinho:

as crianças são maravilhosas, e foi até meio emocionante passar esses três dias com eles e elas.

E nada como, aos trinta, voltar ao lugar de pesadelo dos doze. Sabem, crescer é bão também.


para quem chegou agora...
Acabei de voltar de um acampamento com os alunos, da quinta a oitava série, do colégio onde leciono. Fomos eu, os professores de educação física e a orientadora educacional. Aqui no blog tenho contado de todos os preparativos, dentre eles, arrumar uma fantasia de ídolos da música.
Um amigo meu perguntou e acho importante responder em público: sim, recebo prá isso.

Enfim... fui, sobrevivi e agora tô contando tudo, aos poucos, mas hoje mesmo já encerro o assunto. ;)
beijinhos a todos.
Lulu Lee Gótica Vitoriana ma non troppo.

quinta-feira, 19 de abril de 2007

crônica de um post anunciado

Ok... vou falar do que todos querem saber: A FANTASIA!!!

Aviso desde já que este é um post fadado ao fracasso e ao insucesso.

Primeiro porque não, não tenho fotos. A imagem da lulu ficará como a de deus: etérea e sem forma ( hihihihihihi...).
Cada um imagina como quer.

Depois, porque falei tanto sobre a tal da fantasia, anunciei tanto, sofri tanto que qualquer resultado que seja será menor que o esperado. ..

Mas enfim... para todos que torceram por mim mandaram sugestões, pensaram e sofreram juntos... aqui vai o relato da lulu se fantasiando:

SOBRE A FANTASIA:

Sobre a fantasia fiz o que sempre faço quando algo me angustia e me dá nervoso e aflição. Fiquei angustiada, nervosa e aflita. Pensando, pensando, pensando, sem fazer absolutamente nada de concreto para resolver o problema, decidindo e desdecidindo mil vezes tudo.

E chegou segunda feira, o dia da viagem, e a decisão ainda não havia sido feita. Nem sequer havia arrumado as malas, para ser bem sincera. Fiquei vendo filme de faroeste, para me preparar para a vida fora da civilização. Mas é assim mesmo, tem até uma palavra chique para isso: sou uma procrastinadora crônica.
Deixo sempre para amanhã, mas o amanhã havia chegado...
(tá bom gente, perdoem-me o estilo exagerado/clichê do amanhã que é hoje e tal...
é que eu passei os últimos três dias no acampamento ouvindo Legião Urbana... acho que os alunos me passaram a Síndrome de Renato Russo... contagia, sabe?)

Era segunda-feira, e saí à procura de alguma coisa que pudesse me ajudar. Saí oito da manhã, e sabe o que acontece com as lojas de roupas, brechós e afins em São Paulo às oito da manhã? Nada. Elas estão fechadas. Então ´bora tomar café na padaria, sentar-se ao sol, ler jornal, e esperar as lojitas abrirem.

E lá foram elas, abertas às dez da manhã. Primeira parada: um brechó alternativo, com um mocinho alternativo no balcão. (Tava tocando queen. É claro que, assim que soube de tudo, ele quis que eu me fantasiasse de Fred Mercury. Declinado.)

-Oi!!
-Oi!!
-Eu sou professora.. blá, blá, blá... (sim, contei toda a história da minha vida, tenho essa mania, vou contando...) e aí? cê pode me ajudar?
- Hum... vai na 25 de março! lá tem tudo.
- Moço, presta atenção, a viagem é hoje, daqui a pouco, para falar a verdade, nem morta que eu vou me desabar prá 25 procurar fantasia.
- Hum...

Conversamos, enquanto experimentava uma sainha preta, estava lá mesmo e estava em liquidação... pecado, entrar numa loja em liquidação e nem levar nem uma coisinha.
Enquanto levava a sainha, pretinha bunitinha, rodadinha, chegamos à conclusão que o melhor mesmo era ir de Amy Lee. Podia até ir com a sainha nova.

Provavelmente, vocês leitores meus, nos "inta" e nos "enta", irremediavelmente velhos e gagás, não sabem quem é a Amy Lee. Até semana passada, eu também não sabia. A Amy Lee é a vocalista do Evanescence, um grupo que tá na moda, que faz uma espécie de metal meloso e, ao que me parece, um pouco religioso. Aquelas mulheres que cantam de olhos fechados, berrando com toda a força das estranhas, ao som de um roquinho pseudo-pesado e acompanhamento de violinos e orquestra, para dar uma emoção.
Ela se veste de preto e vermelho, é meio gótica, pelo que pude perceber, ultra comercial mas com pose de alternativa. Sofredora e séria, fica cantando dores de amor e da existência, acho.

Pronto, já tinham sugerido por aqui também, reforçaram a sugestão na escola, tudo parecia fácil. Estava decidida, seria a Amy Lee.


- Bom.. se eu colocar uma saia preta, uma blusa preta, já tô quase lá, né?
- Mais ou menos... - falou o mocinho do brechó. - você precisa de uns acessórios...
- Sei. Fora a 25, num tem outro lugar?
- Você pode ir pra Galeria Ouro Fino, mas o problema vai ser que lá vai ser tudo de verdade.
- e...?
- é meio caro.
- mas.. esse povo tem dinheiro prá comprar roupa?
- tem.


Pronto, era só o que me faltava, além de tudo, ter que gastar meu rico dinheirinho. Mas o tempo era pouco, não queria fazer feio e ´bora prá Rua Augusta, Galeria Ouro Fino, point de descolados.

Lá tem loja só de botas, loja só de acessórios pra maconha, loja só de roupas tipo exército, loja de roupas anos setenta, loja de roupas de couro e latex... até que achei uma loja com cara de gótica. Entrei.

-Oi.
-Oi.
- Eu sou professora e...blá, blá, blá... (sim, contei toda a história da minha vida, tenho essa mania, vou contando... o texto da minha angústia já tava quase decorado). E aí? cê pode me ajudar?
- Sim!! - respondeu-me a moça, de vestido preto, botona, rímel e uma infinidade infinita de lápis preto no olho.
- Obrigada!! - respondi emocionada.

Vamos, lá.
Comecei a passear pela loja, me empolguei, porque me empolgo em lojas. Lojas são sempre empolgantes.
- Ôba, luvas!!!- Uma caixa cheia de luvas, daquelas que os dedos ficam de fora e vão até o cotovelo. Já estava hiper empolgada, e escolhi uma tipo arrastão, branca. - Acho que eu vou levar essa!!
- Não.
- Não?
- Não.
- Puquê? ... (muxoxo)
- Essas luvas estão mais para Madonna. A Amy Lee jamais usaria luvas assim. Ela é séria. Você precisa de luvas de veludo, e botão.
-Mas essas luvas são certinhas, num têm graça, vou me sentir no meio de um romance da Jane Austen...
- Mas são essas que você deve usar. E um crucifixo.
- Mas... eu sou judia, fia!
- E daí?
- É... - recapitulei e rendi-me - e daí? A Madonna também é, ou virou, e usa... Vamos lá!!

Bora comprar um crucifixo tamanho gigante, de strass, lilás. Quinze real, item um da fantasia, cumprido. Já tinha um colar gótico.

- Chapéu!! Posso levar um chapéu?
- Não.
- Ai, ai... - me empolgara, fico bem de chapéu, não parava de experimentar, um atrás do outro...
- Chapéu é mais clubber. - me explicou a mocinha da loja gótica - A Amy Lee é séria, ela se inspira no estilo Vitoriano, ela é circunspecta, triste, romântica. Pode tirar os olhos da meia arrastão também.
- sei... ( já estava desanimando... pôxa!! que graça tem? se fantasiar de gótica e num realizar nem um fetichizinhozinho? ...)
- Tá. - falei, conformada. - Aposto que vou precisar de umas pulseiras com tachinhas e preguinhos.
- Não.
- Não?
- Isso é Emo.
- Sei... (%$$#@$%¨&&¨$#@*&¨&&&*#@@##@ )
- Pega uma gargantilha!!
- Sim, gargantilhas são legais.

Escolhi uma de renda, cinza, de colocar no pescoço, com lacinhos, tipo uma coleira chique. Gótica, ultra vitoriana.

Já tinha o crucifixo, já tinha a gargantilha... faltavam os brincos! Estava sabida já, e fui logo me adiantando:
- Aposto que de caveira num pode!!!
- Isso.
- Caveira é o quê?
- Caveira é punk.
- Tá.


Estava super obediente, aquela mulher havia virado meu guru. Sem jeito, tomei coragem e perguntei...
- Botas? ...
- Botas pode, de amarrar, até o joelho.
- Ôba!! Quanto tá?
- 300 reais.
- Esqueçamos as botas....



Entre o crucifixo, a gargantilha e um brinco vitoriano de usar numa orelha só, cheio de penduricalhos, já havia gasto uns quarenta reais. Já estava de bom tamanho. A moça resolveu me ajudar.

- Olha, assim já tá bom!! Faltava um cabelão, mas você prende o seu e pronto. E faz uma maquiagem assim bem bem bem pálida, ultra pálida, o mais pálida que você conseguir. E rímel e lápis no olho, pode espalhar, `a vontade.
- Tá. Obrigada, viu?
- De nada, qualquer coisa, me liga!!
Sério, ela me deu até o telefone dela. Ganhei uma consultora de moda, incrível, não iria errar. Meus alunos ficariam orgulhosos de mim.



E ficaram. Arrasei na festa, uns alunos da quinta série ficaram meio assustados, mas outros e outras me acharam linda de gótica. Tem uma menina que só quer que eu me vista de gótica agora na vida. Foi uma menina da quinta que me maquiou, toda contente (no dia seguinte tinha lápis preto até nas orelhas)...

Ai, ai...



para quem chegou agora...
Acabei de voltar de um acampamento com os alunos, da quinta a oitava série, do colégio onde leciono. Fomos eu, os professores de educação física e a orientadora educacional. Aqui no blog tenho contado de todos os preparativos, dentre eles, arrumar uma fantasia de ídolos da música.
Um amigo meu perguntou e acho importante responder em público: sim, recebo prá isso.

Enfim... fui, sobrevivi e agora tô contando tudo, aos poucos, mas hoje mesmo já encerro o assunto. ;)
beijinhos a todos.
Lulu Lee Gótica Vitoriana ma non troppo.

quarta-feira, 18 de abril de 2007

I´ve survived!!!!!!!!!!!

Pois é meninos... fui, vi, venci. Voltei , cheguei e aqui estou.
Das baixas de guerra, teve osso quebrado, dedo lascado, pés torcidos, arranhões e otras cositas más, mas nada meu... esse corpinho "marromenu" continua inteiro.


Aí... antes do acampamento, como todos sabem, eu estava assim:



E assim mesmo, saí do meu quartinho, da minha cidade poluída e cheia de trânsito que tanto amo, abandonei o aconchego do meu lar, e ... munida de duas malas de uns trezentos quilos, ... me meti dentro do ônibus, eu e umas cem crianças, e lá fomos nós para os prazeres da vida saudável no campo...

Sim, no ônibus, cantorias prá lá e prá cá. Devo dizer que nessa parte já me dei bem, porque já que tudo muda para continuar igual, as músicas de acampamento são exatamente as mesmas que eu cantava lá na época quando tinha a idade Deles (os Alunos) . Legião urbana, MPB - e mais uma geração de garotas que suspira pelos olhos verdes do Chico... - , e tudo mais...

num instante de profunda iluminação, a letra do Eduardo e Mônica me veio inteira à cabeça, o que me rendeu vários pontos entre a garotada. Muito cool, essa professora.

Um aluno veio todo sério, a fim de conversar:
- Professora, sabia que a Mônica ( do Gibi) na verdade tem uns sessenta anos?
- Como assim?
- É... ela foi criada pelo Maurício de Souza nos anos sessenta!! ( tratava-se de uma conversa seriíssima)
- Mas então ela tem uns quarenta, não uns sessenta - respondeu a chata da professora aqui .
- É, tanto faz! Mas o legal é que ela nunca envelhece.
- é, isso é legal mesmo.
- Sim, todo ano o Cebolinha faz seis anos!! Ele diz assim: "hoje é meu aniversário!!" e o Cascão pergunta: "Quantos anos você faz? " e ele responde: "Seis!! Como todo ano!!" É muuuito louco! - diz o molequinho da sétima série. - Sim , sim! É super legal!! - responde a outra.

"Até aqui, tudo bem", pensei, enquanto me afundava na cadeira e ouvia alguma música dos Mamonas Assassinas sendo berrada nos meus ouvidos.

Ao meu lado, uma menina, trança e I-Pod nos ouvidos, se enfiava no Edgar Allan Poe ( é a K!! - pensei).

Um outro veio conversar também, falar das redações:
- sabe, eu tô com problema nas minhas redações...
- O quê?
- Ah... eu não consigo fazer finais triunfantes...
eu comecei a rir, é claro. Mas logo me recompus:
- É difícil mesmo, fazer finais triunfantes. Fica tranqüilo... uma dia eles vêm, os finais triunfantes.

Chegamos.

Aquele ar puro, aqueles monitores animados e felizes, árvores e verdes por todos os lados... Crianças, muitas crianças... Uma felicidade geral, gritaria, uma histeria coletiva, lindo. Minha mala, devo dizer, era das menores. As meninas, todas, ignoraram solenemente a tal da listinha de roupas que tanto deu no que pensar. "Imagina que a gente ia levar quatro camisetas!!" me falaram. "Me poupe, né professora!! Quatro camisetas de cada cor!!"
E não houve nem suspiros, nem olhares cândidos, nem vozinhas melosas que fizessem os meninos sentirem pena de nós. Cada menina arrastou sua mala king size até o chalé, por um caminho de terra, pedras e pedregulhos.
Naquele momento, eu percebi que não era a única que estava sofrendo.


No altofalante (sim... um altofalante a todo vapor, rolando toda hora), música tocando. A Ivete Sangalo falando de bolhas de sabão e talz. Alegria geral moçada, vamos nos preparar para a primeira competição!!
Meu primeiro impulso, esse:




Mas então... eu pensei:
Lulu, você é um homem, ou um rato?????????

E... enquanto comia pipoca, no lanchinho da tarde, resolvi que, se estava na chuva, era para me molhar. Encharquei-me. Juro. A mulherzinha lulu virou homão.

Tinha lido I-juca-Pirama com a oitava na véspera, e recitei para mim mesma:

"Sou bravo, sou forte
sou filho do norte
meu canto de morte
guerreiros, ouvi"
e... se aquele era meu fim, que terminasse com dignidade.

Já que estava por ali mesmo, já que não tinha mais jeito, entrei decidida no chalé, vesti meus tênis velhos, minha MALHA de ginástica, pus uma camiseta, tirei os brincos e fui para a guerra.



A lulu aqui desbravou trilhas, subiu penhascos, passou por baixo, por cima e dentro de pneus velhos, remou, correu e até se dependurou numas alças e atravessou um penhasco que devia ser bem alto mas eu não vi, porque tava muito ocupada de olhos fechados gritando sem parar. Sim, caros amigos e amigas, fiz até tirolesa. Os alunos viram, fizeram fila para me ver quase morrendo.
Tudo porque quis provar mostrar do quê uma professora de português também é capaz...

No final, voltei do acampamento assim:




já já conto mais!!!
Tenho que ver se ainda sei escrever.

ps.:
adorei a festa no meu sofá vermelho durante a minha ausência!!

E, seus sádicos... já já conto da fantasia!!


update:

1)o post tinha saído com uma série de errinhose partes confusas que foram corrigidas (acho). desculpem a tia lulu, ela acordou sete da manhã hoje para arrumar chalé.

2) aproveito e já coloco aqui o excelente e mui apropriado - todas e todos vamos concordar- comentário da Sandra, que o sofá da lulu anda cada vez melhor:

Sandra disse:

"- É.. ela foi criada nos anos sessenta!! ( tratava-se de uma conversa seriíssima)

- Mas então ela tem uns quarenta, não uns sessenta - respondeu a chata da profesora aqui .
- É, tanto faz!"

Você poderia, por favor, ceder endereço e telefone do seu aluninho?? Eu, nos meus quase "enta" vou ensinar a ele que não é beeeemmm assim, "tanto faz!!"

O problema, Sandra, é que prum moleque de doze anos, basta ter mais de trinta para já sermos todas, irremediavelmente, velhas mesmo. Mas depois eles crescem e percebem que num é beeemmmm assim, também nesse caso!! ;)
beijo!!

domingo, 15 de abril de 2007

PHD comic´s

Oo PHD comic´s é uma espécie de Bíblia e Alento para qualquer pós graduando. Sim, quadrinhos sobre o dia a dia na pós graduação. E é divertido, super divertido. Mesmo. Vale a pena ir lá ver.

E eu estava lá xeretando e , em tempo de impostos, deparei-me com essa tirinha que resume minha situação de um ano e pouco atrás à perfeição.
Lulu, bolsista, fazendo impostos: era exatamente assim:

(atenção: clique em cima das tirinhas para vê-las em tamanho decente)

Depois virei professora e fiquei rica.
Ahãm....




Aqui, alguns outros exemplos e situações pelas quais passei :


O dia de depressão e improdutividade absolutas. Sim, todo mundo que escreve tese ou dissertação de mestrado já passou um dia inteiro sem conseguir escrever uma linha, deprimido, vendo na tevê as coisas mais estúpidas possíveis. Conheço gente que se viciou em Pokemon, gente que acompanhou, ávida , a série Malhação ... gente que viciou-se até a perdição total em joguinhos eletrônicos. Todos estudantes gabaritados, qualificados, pressionados...
Sim, meus amigos, a vida do bolsista pós graduando não é nada fácil...



A entropia de nossa mesa de trabalho. Uma quantidade espaçodinâmica que mede o grau de desordem de nosso local de trabalho e a impossibilidade de achar qualquer coisa que você realmente precise.
No último ano, de fato, só nos resta pedir socorro, já que as tentativas de reverter a entropia da mesa de trabalho são cada vez mais esparsas. Na fase final do meu mestrado, tinha papel e livro espalhados por todos os cantos da casa. Banheiro e geladeira inclusos. A gente mal conseguia andar e eu nunca sabia qual era a úlçtima versão que havia esrito. O horror, o horror.



e essa talvez seja a melhor dessa pequena seleção:
Nunca, jamais, pergunte a um pós graduando como vai a tese dele. Já basta aquela tia que em todo almoço de família pergunta quando você vai, finalmente, começar a trabalhar. Especialmente se ele estiver em cima dos prazos de entrega, nunca pergunte como vai sua tese.
Nunca pergunte, tampouco, quanto tempo demora para que ele termine a tese.
Sim, é o mesmo que perguntar para uma mulher quanto ela pesa. Simplesmente, ao encontrar um pós graduando em fase final de escrita, não toque no assunto.


Bom domingo a todos.
(Não, ainda não sei com que roupa eu vou. Sim, é amanhã. )

sábado, 14 de abril de 2007

Com que roupa eu vou? ou... Ainda sobre a fantasia para o jantar dançante....

enquanto isso, na escola... conversando sobre o Acampamento....
e a tal da fantasia de ídolos da música...

- então gente, acho que eu vou fantasiada de EMO!!
- ôba,a gente vai te ajudar!

Imediatamente, umas três garotas começaram a mexer no meu cabelo e a me dar instruções precisas:

1)
- Você vai fazer chapinha!!!
- Chapinha???????
- Esquece os cachinhos professora. EMO que é EMO tem que ter um franjão escorrido, caindo nos olhos.
- sei...






2)
- Quantas presilhinhas cê tem, Lu?
- Quê????
- Tem que arranjar umas 10 presilhinhas tipo fofinhas, no mínimo.
- Sei...

3)
-Tá bom.. aí eu vou de bota... e saia preta, tá?
- NÃO. Aí você vai virar gótica.
- sei...
- Professora, tem que ir de mini saia, tênis all star e meia daquelas com furinhos, sabe?
- Meia arrastão?
- Ééé professora!!
- Mini-saia, tênis, e meia arrastão?
- ééééééé!!!!!!!!!
( já estava ficando nervosa)

4)
-Lápis preto no olho. MUITO lápis preto no olho. E você pode desenhar uma lágrima caindo pela bochecha também. Os emos gostam disso.
- Sei.... É uma coisa triste, ser emo. Percebi.

5)

-Arranja também uns chaverinhos fofinhos, de ursinho, dadinho, hello kitty... um monte de badulaquezinhos tipo fofinhos.
- sei...
- A gente te empresta!!
- brigaada.. ( gaguejei)

6)
-E alguma coisa rosa!!
-Quê?
- È fundamental que você se vista com alguma coisa rosa. Emo que é emo sempre tá com alguma coisa rosa.

aí... enquanto eu praticava minhas respirações de Yoga e via, de relance, os professores de educação física rindo de minzinha ( "ah Lu.. cê num sabe o que a gente faz com professora nova!! hahahaha!!" sim, ele disseram isso prá mim. E riram. Os dois não param de fazer ameaças) , chegaram as meninas da oitava série. As meninas mais velhas do ginásio. As meninas que mandam.

- A lu vai de Emo na festa à fantasia!! - disseram as meninas da sétima, que ainda não haviam largado meu cabelo.
- Não pode.
- Não pode? - exclamamos todas.
- Não pode. Tem que ser ídolos da música.
- É !!!- disseram, imediatamente, as vira-casaca da sétima - pensando bem.. tem que ser ídolos da música!!!
- mas, mas, mas...
- Ah professora, se vira!!

e voltamos à estaca zero....


(ps: para as fontes das imagens, basta clicar em cima das imagens)

sexta-feira, 13 de abril de 2007

de manhã

Então acordo as sete horas da manhã, bem disposta e bastante culpada pois há pilhas de livros a serem lidos, redações a serem decifradas, exercícios a serem feitos, telefonemas esperando, e-mails, coisas a serem faladas, enfim.
todo o mundo a minha volta e eu mesma me esperam.

Mas acordar é um processo lento.
Lavo o rosto e pela milésima vez na vida encontro no espelho um ser estranho que não sou eu, quem quer que eu seja. Xixi. Comida prá gata, sono, cedo demais para metafísicas. A gata me acompanha, para onde vou, ela vai junto. É engraçada, essa minha gata.

Ligo o computador. Sim, ligo o computador logo cedo de manhã. De manhã gosto de ler jornais, mas de tão irritada com a Folha e o Estado, cancelei as assinaturas dos dois. Quando me dá saudade do papel jornal e das manchas nos dedos, vou à banca e compro, e aproveito e converso com meus amigos jornaleiros, definitivamente mais legais que os jornalistas. Hoje não era o dia de comprar jornal. Foi ontem, quando sai o caderno culinário do Estadão, mas esqueci. Preguiça de sair na rua, fico por aqui mesmo.

Um pão esquentado na frigideira, a cafeteira fazendo o café, sento por aqui, a gata pula prá cima do monitor, que voltou a fazer um pouco de frio nesse mundo, louvado seja.
Um blog, outro, outro....
delícias de textos. Há vida inteligente por aqui, gente que escreve bem.
Esqueço o café, que ferveu, e a torrada, que queimou.
Tomo café fervido e como pão queimado, raspei um pouco com a faca.
Queria ficar por aqui, escrevendo, lendo, o dia inteiro.
eu e a Meleca.

Então acordo as sete horas da manhã, bem disposta e bastante culpada pois há pilhas de livros a serem lidos, redações a serem decifradas, exercícios a serem feitos, telefonemas esperando, e-mails, coisas a serem faladas, enfim. todo o mundo a minha volta e eu mesma me esperam.

A pausa acabou e já são nove horas. Vamos lá.
num quero... mas vou.

Um beijo a todos vocês.

Lulu no mundo.
êta mundo sem pôrtera...

quinta-feira, 12 de abril de 2007

as coisas faladas

e então eu perguntei para a quinta série o que seria do mundo sem os substantivos, tanto os abstratos como os concretos.
E uma menina respondeu de maneira tão linda que eu pedi autorização e coloco aqui.

no mundo sem substativos abstratos os seres humanos não poderiam se expressar, pois sem os substantivos abstratos não haveria a felicidade falada, o amor falado, a raiva falada, o medo falado.


e para uma boa discussão, repleta de links bacanas, sobre essa história toda de escrever e ler... no flabbergasted, aqui.

sobre malhas, casacos, blusas e agasalhos.

Ok, a K ficou me perguntando o quê, afinal de contas, são as malhas pedidas na lista para o Acampamento na escola.

e então eu lembrei de uma das Discussões Risoto correntes aqui em casa.

Primeiro, devo explicar o que é uma Discussão Risoto.

Uma vez, aqui em casa, entramos numa briga furiosa, brava, incendiária até, sobre o Verdadeiro Risoto.

Eu dizia que o Verdadeiro Risoto é aquele que vc faz na panela, em fogo baixo, cozinhando o arroz num bom caldo, e tal.
Ele, que aliás estava e errado, sustentava que risoto é uma mistura de arroz com vários ingredientes, e que é levada ao forno.
Uma briga, basicamente, a respeito de posturas metodológicas diante do arroz arbóreo.

E foi uma briga feia. Até que nos demos conta, e foi assim um verdadeiro Estalo de Vieira, que brigávamos por causa de Risoto. E a briga terminou onde todas as boas brigas de casal devem terminar.
Mas ficou o Nome: Discussão Risoto. Toda vez que entramos numa dessas polêmicas soa o alarme que diz: essa é uma Discussão Risoto. E pronto, caímos na risada e damos a mãos, e os braços, e tudo o mais. A torcer, beijar e tudo o mais.

Mas , devo dizer, há algumas questões em aberto entre nós. E uma diz respeito à pergunta da K, sobre Malhas.

Ué... malhas são casacos.
Nãããoooo - ele diria.
Casacos são de abotoar, necessariamente um casaco, segundo ele, deve ter botões. Eu discordo, para mim, isso é Sobretudo.
E ele fala: então você quer dizer blusas...
E eu respondo: nããããoo... blusa é sinônimo de camiseta. Todo mundo sabe disso. Minha mãe nunca chegou para mim e disse: lulu, tá frio, leve uma blusa. Ela dizia: leve uma malha. A escola tá me pedindo para levar duas.
A palavra Agasalho tavez resolvesse a questão, mas não para mim. Nãããoo. Agasalho é roupa e ginástica, tipo moleton, aquele que eu não tenho.
Há também o pulôver, mas quem é que fala: vou pegar o pulôver ali e já volto?

Enfim... K, tudo isso para dizer que a resposta da sua pergunta é quase tão difícil quanto entender a diferença que só os cariocas sabem entre Biscoitos e Bolachas. Para mim, dá no mesmo, mas parece que há sim alguma diferença, mas isso é coisa de quem vive no Planeta Rio, nem vou tentar me meter.

E já que estamos no assunto, se alguém puder, finalmente me explicar se afinal Mandioca, Macaxeira ou Aipim são mesmo a mesma coisa, ficaria muito feliz.

Update:
leiam os comentários. Cada um deu uma resposta diferente. Uma delícia, dão de dez a zero no post.

E além disso a gente aprende que na Amazônia bala é bombom e bombom é bala.
ATENÇÃO: correção importantíssima:
Leia-se Amazonas, Amazônia é outra coisa. ..
sorry, ...
(e olha que sou filha de acreano...)


quarta-feira, 11 de abril de 2007

Acampamento: os preparativos.

Cartinha que acabei de receber com a sugestão de bagagem para O Acampamento .
Posto a lista aqui, junto aos
pensamentos luluzísticos sobre cada item pedido:

Caros alunos e professores,

segue abaixo a sugestão de bagagem do acampamento:


1 roupa de cama 1 cobertor
1 travesseiro 1 toalha de banho
1 toalha de rosto

Ok, normal. Teremos camas e chuveiros. Bom.
Preciso de uma mala só pro meu edredon, sou friorenta, morro de frio. Acho que talvez seja melhor levar duas toalhas, por via das dúvidas.

1 saco para roupas sujas
Ok, normal

2 calças compridas
Tá, as duas únicas que eu tenho, porque eu uso quase só vestido e saia. Uma jeans e uma preta. Um... acho que vou levar as de ginástica também. Calça fuseau. E uma que é meio bermuda, meio calça. E uma saia também. Uma saia comprida, e outra curta.

1 capa de chuva
Quem é que tem capa de chuva? Quem é que vai pegar chuva???

2 tênis
Hahahahahaha!!!
Tá. Tenho meu all star de couro preto e o outro da ginástica. O all star de couro preto num vai prá lama nem amarrado.

1 lanterna
Ai, ai… e quem é que tem lanterna nesse mundo? Será que no carro tem?
Será que vai haver saídas noturnas?Isso pode ser divertido.

2 shorts 1 maiô
Nem morta.

1 pijama
Ok, o tal do moletom.

2 malhas
Tenho casaquinhos de tricô e crochê...

3 meias
Sóóóóóó??? Se pedem dois tênis é porque, no mínimo, tem que levar umas cinco meias.

4 camisetas
No mínimo umas cinco também. também vou levar uma meia calça fio 40, e nesse caso também é melhor já levar um sapatinho. ou dois? dois é exagero... e sandália? ai, ai...

1 bota de borracha (opcional) 1 boné
Nesse momento tive uma visão: eu de galochas, boné, shorts. Se um dia na vida a lulu vestir uma bota de borracha, com boné e shorts, ao mesmo tempo, a lulu vai ter deixado de ser a lulu. Foi o etê de Varginha que apareceu lá no Rancho e abduziu a verdadeira lulu e deixou esse ser no lugar.
E quem é que tem uma bota de borracha em casa?Só quando a gente é criança e tem uma bota de borracha amarela, que aliás é super legal. Mas depois dos treze... quem tem?
E... pergunta mais assustadora de todas...
Para quê, a bota de borracha???
e se for prá pegar chuva, já tiro os sapatos e tomo chuva inteira, assumo meu lado hippie e ando descalça na grama. Já estarei na selva mesmo...

1 chinelo de borracha
Normal. Havaianas. Melhor levar umas duas logo de uma vez.

1 troca de roupas bem velha.
O item mais assustador.
Aposto que vão nos enfiar na lama, nos mandar atravessar o pântano, rolar na grama e sei lá mais o quê... já tô vendo...

Produtos de higiene pessoal
Sim. graças a deus.
Será que é over levar secador de cabelo?

repelente e protetor solar
Repelente número dois mil, protetor solar número um milhão, uma caixa de cada.

Além disso devem levar a fantasia para o jantar a fantasia e a roupa indicada para sua equipe de dança.
Aaaaaaaaaiiiiiiiiiiiiiiii, aaaaaaaaaaaiiiiiiiiiiiiii.....................

aqui, a Vandinha que no acampamento também teve que se fantasiar.
A ela coube a Pocahontas,
a Lulu tá entre Janis Joplin, Evanescence, Marisa Monte, Carmem Miranda, Elvis Presley, Rita Lee e sei lá mais quem ( Sula Miranda e Mercedes Sosa foram definitivamente e devidamente defenestradas da lista). Mais notícias em breve.


um aniversário

Ontem peguei um dos trezentos caderninhos de escritos e anotações, e em meio às páginas me encontrei com um escrito meu, contando do meu aniversário de trinta anos. Foi em 2005, setembro, e os bons em matemática logo perceberão que conto agora com 31 e em setembro farei meus 32. Acho bela a idade dos trinta. Uma vez uma pessoa querida me falou que as mulheres mais lindas são as de trinta anos, porque sabem o que querem e podem fazer o que querem. Aí isso ficou na minha cabeça e, relendo meu dia, achei que ele traduzia essa liberdade e autonomia conquistadas e além disso acaba fazendo um mapinha de alguns dos meus lugares de São Paulo, e da minha vida também.


trinta.

Acordamos às 8:00. Eu, o F*** e a gata. Na noite anterior, havíamos transado, somente eu e o F***, a gata ficou de fora.

Vesti um vestido novo, preto com flores, manga três quartos, saia no joelho, decote em V, justo logo acima da cintura. Saltinho preto - um sapato de amarrar - rímel, batom.
Fomos tomar café da amanhã na Deli Paris, Vila Madalena. Uma média bem tirada, meia baguete quente com bastante manteiga. O jornal comprado, um dia de sol, lemos e comemos na calçada, com calma.

Andei bem devagar até chegar na escola, encontrei meus alunos. Aulas.

Almoço com a Fa e a Su, no restaurante japonês. Entre sushis e coca light: regime, sexo, casamento, maridos, trabalhos, leituras. Horas de conversas.

Liguei prá minha mãe e pro meu pai, antes que eles me ligassem. Fui ver com a Fabiola as jóias da Lu Guerra, de prata e pedras, mas como já havia gastado muito, não comprei nada. Passagem rápida pela Livraria da Vila.

Passei em casa, esqueci o xale que deveria levar para minha mãe, vi e alimentei a gata.

Shopping Higienópolis, onde encontro minha mãe. Um copo de vinho no América. Nossos trinta anos.

F*** no La Tartine. Continuo no vinho, uma garrafa bebida a dois, com calma.
Queijo de cabra quente, uma salada verde com bacon, queijo forte e nozes. Sopa de agrião para os dois. Um couscous marroquino, suave, dividido. Creme Brulée para mim, o F*** na sua busca eterna pela torta perfeita de maçã com creme de baunilha, decepcionou-se mais uma vez.

Passagem rápida pela casa de um amigo que iria para a Alemanha.


Em casa, na cama, um amor de boa noite.
Sono suave, sem sonhos, para a festa no dia seguinte.