quinta-feira, 31 de maio de 2007

Serra modifica decretos

Deu na uol, agorinha mesmo:


"Após 28 dias de ocupação da reitoria, Serra tenta explicar decretos sobre autonomia"

Da redação
Em São Paulo*

A pedido dos reitores da USP (Universidade de São Paulo), Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e Unesp (Universidade Estadual Paulista), além do presidente da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), reafirmou, em um decreto "declaratório", que a autonomia universitária não será afetada pelas mudanças anunciadas no início deste ano para a educação superior e que estão no centro das reivindicações de estudantes, funcionários e professores universitários.

O documento foi publicado na edição desta quinta-feira (31) do Diário Oficial. Clique aqui para acessá-lo.

Na prática, o governador formalizou o que já vinha afirmando oralmente, tentando explicar melhor o teor de quatro decretos -- nº 51.636, de 9 de março de 2007; nº 51.471, de 2 de janeiro de 2007; nº 51.473, de 2 de janeiro de 2007; e nº 51.660, de 14 de março de 2007. Mas modificou o conteúdo de um deles: o de nº 51.461, de 1º de janeiro de 2007, que organiza a Secretaria de Ensino Superior, foi editado.

O decreto, que antes definia como função da secretaria a "ampliação das atividades de pesquisa, principalmente as operacionais, objetivando os problemas da realidade nacional", agora fica mais amplo, e elimina o suposto direcionamento dos trabalhos acadêmicos para os problemas concretos do país. O novo texto diz apenas que o órgão tem a função de "ampliação das atividades de ensino, pesquisa e extensão".

Em outro ponto do decreto, o texto definia como outra função da secretaria a "busca de formas alternativas e adequadas ao atual estágio tecnológico para oferecer formação nos níveis de ensino de terceiro e quarto graus, com vista a aumentar a porcentagem de jovens que cursam a universidade". Agora, esse trecho do documento tem nova redação: "busca de formas alternativas para oferecer formação nos níveis de ensino superior, com vista a aumentar o acesso à universidade, respeitadas a autonomia universitária e as características específicas
de cada Universidade". Na prática, o governo buscou dizer que possíveis políticas governamentais para ampliar o número de ingressantes nas universidades não ferirá a autonomia dessas instituições.

Leia os decretos em sua forma original.

No pedido, os reitores das três universidades reafirmam que os decretos não ferem a autonomia universitária, mas que, "no entanto, têm surgido controvérsias acerca de sua interpretação"; por isso, pedem que o governador "esclareça o alcance dos referidos decretos".

A atitude do governo contraria as afirmações feitas até agora, de que as mudanças assinadas no início do ano não interfeririam na autonomia e as universidades não precisariam de autorização para fazer seus remanejamentos orçamentários.

Entretanto, o secretário de Justiça, Luiz Antônio Marrey chegou a afirmar, nas últimas reuniões realizadas com os estudantes que ocupam a reitoria da USP desde o último dia 3 de maio, que os decretos poderiam ser "aperfeiçoados", para evitar que fossem mal-interpretados.

Os estudantes ainda não se manifestaram sobre o assunto. Para o secretário do Ensino Superior de São Paulo, José Aristodemo Pinotti, o governo não recuou. Ele afirmou em entrevista a Rádio Jovem Pan que não há mais motivos que sustentem a ocupação do prédio da reitoria da USP pelos estudantes, que hoje completa 28 dias.

Justificativas e reformulações
O documento divulgado nesta quinta foi elaborado "considerando que surgiram interpretações reiteradamente equivocadas acerca do alcance e aplicabilidade dos referidos decretos às universidades públicas estaduais e à Fapesp" e também pela "conveniência de eliminar os equívocos de interpretação e fixar o exato sentido dos referidos decretos."

O novo decreto afirma que a execução orçamentária, financeira, patrimonial e contábil das universidades e da Fapesp será realizada de acordo com o princípio da autonomia universitária.

Diz o texto que as universidades e a Fapesp "manterão contas específicas (...) e poderão efetuar transferências ou remanejamentos, quitações, e tomar outras providências de ordem orçamentária, financeira e patrimonial necessárias."

Os diretores das 23 unidades de Unicamp finalizaram na última quinta um manifesto, em que pediam ao governo a reformulação dos textos e exigiam o fim da recém-criada Secretaria do Ensino Superior.

Os alunos da USP, professores e funcionários marcaram para esta quinta-feira (31) um ato de protesto no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo de São Paulo. Segundo os estudantes, o número de manifestantes pode passar de 3.000. Não há confirmação de que o governador irá recebê-los."


Então o Diário da Lulu parabeniza os alunos, que iniciaram um debate que foi ficando maior, e maior e maior. Na prática, o governador recuou e certamente isso foi consequência da movimentação iniciada e suscitada pelos alunos.

Agora, ao meu ver, os alunos poderiam voltar para casa, que faz muito frio em SP, tá todo mundo ficando doente, cansado, e o disparador da ocupação (os decretos) foi modificado.
As outras reivindicações continuam pertinentes e mesmo urgentes, o debate público sobre as universidades deve continuar, e assim por diante, mas a ocupação poderia terminar.

Com essa belíssima vitória, os meninos e meninas poderiam ir hoje dormir em casa, um sono justo.

terça-feira, 29 de maio de 2007

como fazer um moço feliz

ele chega em casa cansado, reclamão, mal humorado, soltando os bofes para fora?

ele não te dá atenção, reclama da vida, quer jogar joguinho de computador, ver tevê no canto dele?

ele está suado, barbado, descabelado e grunhindo?

...

não se desesperem.

Sim, há inúmeros jeitos de reverter esse caso, e eu mesma posso pensar em vários, inclusive mais interessantes que esse que exponho, mas aqui vai um, que passa pelas artes do estômago...


A receita é simples, caras colegas, e na maior parte das vezes, funciona :

Duzentos gramas de carne moída ( sim, tudo isso, não economize nessa hora- pode ser contra filé ou alcatra, ou patinho).

Muuuiiiitooo queijo, muito mesmo, queijo derretido é conforto.
( pode ser muzzarela, ou queijo prato, prefiro queijo prato, acho mais consistente)

Cogumelos. Sim, cogumelos, para ele falar: uauuu! e pensar: nossa, que mulher sofisticada e bacana ....

E um pão, com gergelim ou da preferência do moço.

Ah sim, last, but not least... cerveja!!! esqueça a skol, ignore a brahma, pegue seus trocadinhos e invista logo numa dessas bem encorpadas e amargas, que é pro moço não perder a macheza e ficar feliz de vez.














e mãos à obra.

Com suas mãozinhas de fada, tempere a carne com pimenta do reino, sal, um pouquinho de mostarda, um pouquinho de ketchup, e um pouquinho de azeite. Transforme a carne em um bolinho, do formato de hambúrguer, mas deixe-o alto, para que fique tostado por fora e mal passado por dentro. Coloque na chapa bem quente ( se vc tiver uma daquelas de ferro e um bom exaustor, mande brasa! senão, vai na frigideira mesmo).
ATENÇÃO: três minutos de cada lado são suficientes, os moços gostam do boi mugindo, querem ver sangue, essas coisas...

Enquanto isso...
fatie os cogumelos ( pode ser do tipo Paris mesmo, que os outros são muito caros e vc já gastou um monte com a Guiness de dez real) e salteie-os ( nossa, ficou chique isso!) numa frigideira, com um pouquinho de azeite, sem deixar passar demais. Se houver muita boa vontade, pode colocar um pouquinho de alho que fica bão também.

E derreta o queijo, eu gosto de derreter antes, em separado, e depois deixar um tempo em cima do hamburguer, para terminar. Derreta com coragem, deixe ali, até que forme aquela casquinha crocante.




Monte o sanduíche,
um equilíbrio difícil, mas compensador.







P.S.:
hmm.. sim, o foco da câmera é automático...
sim, a ineficácia da fotógrafa é absoluta...

"Manifesto em defesa da desobediência civil"

Pronto,
uma das coisas mais bacanas que saíram por aí sobre toda essa história. Achei genial.
No jornal da ciência, 29 de maio, 2007;

Leia aqui.

faz frio



Faz frio em SP, o tempo é curto e eu
acho que até minha gata tá me olhando feio...

segunda-feira, 28 de maio de 2007

Ainda sobre o ensino público

Esse post tem uma história que talvez precise ser contada.

Ando muito muito atarefada e tinha resolvido que, por falta de tempo para dedicar-me com o afinco e a seriedade que a questão merece, não me meteria por aqui em discutir a ocupação da reitoria e a greve na USP. Do que conheço bem, sinto-me à vontade para falar com mais ligeireza, não é o caso da história da ocupação nem dos decretos , conheço um pouco, mas não BEM. Mas meus dedos começaram a coçar, tenho montes de amigos envolvidos em tudo isso, e não aguentei e postei algo meio em cima do muro, divulgando um fotolog de amigos meus.
E , claro , me pediram, com toda justeza, um posicionamento. E procurei escrever algo mais, ainda ligeiro, mas algo, porque nessa vida a gente tem mais é que dizer a que veio. E ficou do jeito que ficou, pouco informativo, muito opinativo, talvez bastante idealista.
E logo fiz mais um post, com mais links para posts e artigos bem mais interessantes e ponderados e sábios do que o quê eu dizia.
E prontamente a Meg entrou para a dança também, e em meio a um post bem interessante e ponderado, conversou generosamente comigo.
Aqui vai uma resposta, ou a continuação da conversa:

Minha querida Meg,

As coisas da vida: li seu post hoje ainda de manhã, e um dia inteiro de tarefas me aguardava. As aulas de literatura das segundas feiras, uma reunião na outra escola, outra reunião à noite, nada de tempo para sentar e escrever. Então, o resultado é que passei o dia inteiro conversando internamente com você; talvez, para ser mais justa, posto que por mais que vc seja presente, ainda não tenhamos inventado a telepatia, passei o dia inteiro conversando comigo mesma, imaginando que conversava com você.

E sobre o que falei, sobre o que falamos? Ah, tantas coisas!

Falamos sobre quem mandou escrever um post sobre um assunto tão sério, assim tão intempestivamente? Falamos que deveria escrever de e sobre e na literatura, e cozinha, e momentos de mulher e vida, e aulas, escrita, e quê que foi isso, de escrever também sobre universidades e políticas? Não sei falar dessas coisas. Ou achamos que não sabemos - respondi. Mas falei que pôxa, essa é minha vida, meu ninho, uma espécie sim de lugar seguro, onde me formei e continuo sendo formada, pelo qual tenho imenso carinho, um lugar que eu acredito, o da educação pública.

Falei de como é difícil a gente se posicionar, ai quanta coragem para se expor, mas como é bom, tão bom o debate, e como eu te gosto e te respeito mais ainda, por me ter convidado ao debate, porque as idéias paradas, guardadas para nós, são tão válidas como coisa nenhuma.

E hoje, em uma das escolas em que dou aula, uma escola particular, bastante especial, pelo projeto pedagógico que tem e pela história, um professor falava que todo projeto de educação é, afinal, baseado e radicado em um projeto político, em um projeto para a sociedade, e nisso, Meg, eu acredito com todas as minhas forças. Acreditamos.

Um dos sentidos que eu construí para minha vida é o de ser professora, porque eu acho, mesmo, que sendo uma professora decente, dentro das minhas possibilidades, eu posso contribuir para, quem sabe?, um mundo um pouquinho mais decente. Um mundo do tamanho da minha aldeiazinha, que é do tamanho da minha aldeia, é verdade, mas você mesmo me falou um dia que somos da altura dos nosos sonhos, não foi assim que você disse? Então é assim que eu me criei, ao menos essa parte de mim.

E, sabe, eu cada vez acho mais importante o trabalho intelectual, o cultivo do saber pelo saber, a formação de sensibilidades para o mundo, algo sobre o qual eu falava alguns posts atrás, a possibilidade da imaginação, da observação, de se colocar no lugar do outro, e assim por diante. Achamos.

Quando entrei na graduação, em letras, quis fazer grego. Para quê? Para ler Homero e os gregos no original, só para isso, mais nada. Para quê? Para nada. Para poder ler. E isso é tão importante. Porque eu fico achando que é sempre bom que haja alguém, no mundo, que saiba ainda ler os gregos no original ( eu não sei, aprendi um pouco, lentamente, e desaprendi um monte, de maneira rápida...).
E eu não sei, no Brasil, onde mais isso é possível senão no espaço do ensino público, porque me parece que em cada vez mais lugares daqui de Pindorama o ensino vira mercadoria, o saber transforma-se em produto. E como produto, fica à serviço desse mundo que está aí. E venhamos e convenhamos, se eu e você não estamos nada bem, o mundo que está aí está bem pior, não é mesmo?

Se fossem outras as minhas habilidades, eu poderia falar que resolvi estudar física teórica, matemática de base, história antiga, sei lá. Coisas que não servem imediatamente para coisa alguma, que são conhecimento, que têm seu espaço na universidade. O fato é que um professor que é pago pela hora aula que dá, mal tem tempo de pensar, quanto mais estudar, produzir conhecimento e assim por diante.
A boa educação, ao meu ver, é uma educação sempre, na medida do possível, contra o mundo. Uma educação que provoque alguma mudança, incômodo, movimento, desconforto. Eu não vejo outro lugar onde essa educação possa ocorrer senão na esfera pública, Meg, não vejo mesmo, e talvez esteja sendo ultra romântica idealista; aceito.


As coisas são mais complicadas, eu sei, e sei eu me chamasse Raimundo seria uma rima, não uma solução, e talvez eu esteja sucumbindo àquilo mesmo que eu critico. Mas estamos discutindo tudo isso agora. E até a Folha de SP, por exemplo, deu para questionar o Serra e seus decretos. Há uma discussão no ar, e isso é um mérito. A universidade está se repensando? A usp, a mastondôntica usp, está se repensando? Não sei, provavelmente não. Mas me parece que essa hisitória toda ao menos criou um zum zum zum, e isso já é tão importante.

Há aqueles que acham que esse movimento é uma espécie de canto do cisne antes da decadência final. Que a partir daqui o ensino público estadual irá ladeira abaixo, como foi o ensino público de ensino fundamental e médio. Outros, que tudo faz parte do grande processo de privatização, ou dessa nova concepção utilitarista de universidade.

Eu não sei... Eu sei, por um monte de experiência própria também, como graduanda e mestranda, que na greve, quem se ferra mesmo, é o aluno. Que na universidade nada mais pára, e que mal se nota que há uma greve, sei de tudo isso. Sei da apropriação partidária que se faz dos movimentos, sei de um monte de coisa.

Mas sei que, para mim, a mim, todo esse debate e todo esse movimento, emocinam e tocam. Porque nada dá em nada, mas e então? Fumemos nosso cachimbo na varanda, leiamos nossos livros, sejamos bons pais, boas mães, bons maridos, bons amantes? Para mim, isso não é suficiente, porque somos também animais políticos, seres públicos, mas isso eu acho que você pode explicar melhor que eu. Eu sei que fico meio triste, meio envergonhada, de não ter como, agora na minha vida, dar aulas em uma escola pública, isso é quase uma desgraça.
E que tudo isso me deprime também, não pelo movimento dos alunos, da greve, e tal, mas pela nossa pouca esperança em mudanças de fato.


Mas enfim, sei que nossa conversa fica em aberto, e que te agradeço profundamente pelo debate respeitoso.

Um beijo enorme, minha amiga, e que bom que pudemos nos encontrar.
Com toda admiração respeito e carinho,

Luana, Lulu.

e quem está acompanhando a discussão, leiam a bela resposta da Meg, a continuação do nosso diálogo, lá no sub rosa ( trata-se do comentário que está aqui, que virou post, porque tinha que virar mesmo).

Sabem que eu tô achando tudo isso bem bacana? Nada como o debate inteligente e respeitoso!

:-) e vivam as amizades internéticas.

Alguns links, sobre a greve na USP

Em primeiro lugar, olha que bacana a programação de greve que fizeram na Letras :

Atividades de Greve nas Letras - FFLCH/USP

Dia 29/5, terça-feira:
10h - ASSEMBLÉIA GERAL DA ADUSP
19h- "O Direito à Literatura", por Roberto Zular

Dia 30/5, quarta-feira:
10h- Formação do romance inglês, por Sandra Vasconcellos

Dia 31/5, quinta-feira:
10h- Poesia e participação, por Ivone Daré Rabello
19h- [tema a definir], João Adolfo Hansen

Dia 1/6, sexta-feira:
10h- Violência e melancolia, por Jaime Ginzburg

Dia 4/6, segunda-feira:
10h - "O louvor como vitupério", por Paulo Martins
19h- "Dom Casmurro", por Luiz Roncari

Dia 5/6, terça-feira:
19h- "O Auto da Barca do Inferno", por Flávia Corradin e Francisco Maciel Silveira

Dia 6/6, quarta-feira:
10h- Cervantes, por Maria Augusta da Costa Vieira
19h- "A Cidade e as Serras", por Helder Garmes

Dia 11/6, segunda-feira:
10h- Oswald de Andrade, por Maria Augusta Fonseca
19h- "Poemas Completos de Alberto Caeiro", por Adma Fadul Muhana

Dia 12/6, terça-feira:
10h- Teatro político no Brasil, por Cláudia de Arruda Campos
19h- "Iracema", por Eduardo Vieira Martins

Dia 13/6, quarta-feira:
10h - "O Áporo de Drummond", por Betina Bischof
19h- "Vidas Secas", por José Miguel Wisnik

Dia 14/6, quinta-feira:
10h - "Baudelaire", por Viviana Bosi
19h- "Sagarana", por Yudith Rosembaum

Dia 15/6, sexta-feira:
19h- "Memórias de um Sargento de Milícias", por Cilaine Alves da Cunha



Além da idéia louvável de fazer uma programação durante a greve, para que greve não vire férias e o prédio não esvazie e as pessoas não sumam, a programação está de lamber os beiços. As aulas acontecem na sala 107 do prédio da Letras e estão abertas para todo mundo, inclusive a programação noturna é pensada para alunos que estão se preparando para o vestibular. Achei bacana.
Que vontade de ir a tudo! eu, que não vou a nada, porque trabalho, trabalho, trabalho...


Depois, dois blogues interessantes cobre o tema:

Esse: Autonomia e justiça
do professor Paulo Martins, professor do departamento de Letras Clássicas e Vernáculas, da Letras da Usp - de onde, aliás, eu tirei a programação da Letras.
E esse: Ocupação que é o blog dos próprios estudantes.




Na vontade de ter um tempo para estudar e escrever mais sobre tudo isso, com calma.

Lulu.

E agora todos parem tudo porque o Idelber excede, de novo ( !! :-) ) e escreve o post que eu gostaria de ter escrito, pronto, assumo.

Vão lá, que o biscoito é fino, e a massa, muita.

E aqui, a Meg levanta a questão por um outro lado.
***

E sobre a questão do utilitarismo e da utilidade das universidades, sobre qual a sua vocação, reproduzo aqui trechos de uma entrevista interessante com o Professor Brito Cruz, que saiu na folha de SP, no sábado. O link para a matéria inteira é esse aqui. Os negritos nas respostas são meus.

FOLHA - Fala-se muito hoje em interação universidade-empresa. O caminho é esse?
BRITO CRUZ -
Raramente dá certo usar pesquisadores da universidade para resolver problemas para os quais a empresa precisa ter uma solução na semana que vem ou no semestre que vem. Essa interação precisa ser vista pela empresa como forma de ela entrar em contato com a fronteira do conhecimento. Não se trata de uma substituição de atividades de pesquisa que a empresa precisaria ter e não tem.

FOLHA - O ambiente para inovação existente hoje no Brasil é saudável?
BRITO CRUZ -
Eu vejo com alguma preocupação o panorama atual da ciência e da tecnologia no Brasil. Tem se intensificado uma concepção equivocada que chamo de utilitarismo da pesquisa acadêmica. Isso é fruto de uma conjunção. Pessoas da própria universidade, às vezes do governo e da própria imprensa acabam esperando muito pelos resultados utilitários da pesquisa acadêmica. Mas o que temos de valorizar é o avanço do conhecimento humano. Não seguir nessa direção nos traz dois tipos de perigo. O utilitarismo de direita, que pretende valorizar a pesquisa que se faz nas universidades pela sua contribuição para a indústria, e o utilitarismo de esquerda, aquele que dá valor para a resolução de certos problemas nacionais: desigualdade, segurança, pobreza, etc...

FOLHA - A universidade, portanto, não faz parte da solução desses problemas?
BRITO CRUZ -
Todos esses problemas são relevantes para o desenvolvimento do Brasil, não ponho isso em xeque nenhum minuto. Mas é um equívoco esperar que a universidade traga a solução. O desenvolvimento tecnológico é a indústria que precisa resolver, com a construção de seus centros de pesquisa. As questões candentes da agenda nacional precisam ser tratadas pelo Estado brasileiro por instrumentos criados por ele, como institutos de pesquisa com missão dirigida.

FOLHA - A missão da universidade, então, está desvirtuada?
BRITO CRUZ -
Quando se olha a universidade de forma muito utilitária perde-se de vista que a missão fundamental da universidade é fazer avançar o conhecimento e educar os estudantes. Essas atividades são relevantes em si. Não temos de ficar perguntando para que serve a aquela pesquisa, que problema ela vai resolver. Que utilidade tem descobrir que a idade do Universo é 13,7 bilhões de anos? Se procuramos utilidade disso em termos de geração de empregos, não vamos achar.
Responder a perguntas sobre a literatura, por exemplo, apenas a academia pode fazer. Nenhuma indústria vai querer estudar isso. A universidade no Brasil precisa recuperar a convicção, que já teve um dia, de que avançar o conhecimento e educar bem os estudantes é a contribuição que a sociedade espera dela. As pessoas, depois, podem ser usadas tanto na indústria quanto nos institutos públicos.

São Paulo, sábado, 26 de maio de 2007. Folha de SP, Caderno Ciência.

sábado, 26 de maio de 2007

A favor da USP

Me perguntaram se, afinal, eu era contra ou a favor da ocupação que os alunos e funcionários estão fazendo da Reitoria da USP.

Esse é um tema delicado, o da ocupação, pois ali há grupos distintos, com posições distintas e motivações distintas. Não se trata de um movimento unificado nem centralizado, e isso pode gerar coisas interessantes mas também complicadas, por exemplo a de uma pauta de negociação em eterna expansão.

Eu me posiciono contra os decretos do governo que ameaçam a autonomia orçamentária das universidades estaduais, me posiciono a favor da contratação de mais professores, da reforma e ampliação do CRUSP ( moradia estudantil da USP), da melhora das condições físicas das salas de aula e de muitos dos espaços da USP. Qualquer um que já dependeu dos circulares bissextos que rondam pelo campus se posicionaria também a favor do aumento de ônibus circulares, e é importante sim pensar nos alunos que moram na USP e ficam ali nos finais de semana, por outro lado, sou contra a expansão do prazo de jubilamento, por exemplo.
O principal: há - de fato - o perigo de um processo sistemático de desmantelamento do e intervenção no ensino superior público, por parte do governo paulista atual, que precisa ser combatido.

Quais as melhores formas de realizar esse combate? Não sei, talvez os alunos devesssem sair da reitoria e ocupar outro espaço, sei lá. Mas que a ocupação está tomando um lugar importante na mídia e levantando um debate fundamental, está. Ok, um monte de alunos encarna uma coisa Rosa Luxemburgo, Maio de sessenta e oito, e assim por diante - e isso pode nos soar ultrapassado, romântico, hippie, talvez mesmo coisa de gente desocupada, como vi falarem por aí - mas isso não deslegitima o fato de que é necessário sim chamar atenção sobre o que ocorre na USP e nas outras universidades estaduais paulistas, e sobre uma série de decretos que retiram delas muito da sua autonomia.

Uma parte da minha vida é dedicada ao ensino, outra, à pesquisa. O estudo contínuo é fundamental para a formação de qualquer professor. A USP pode ter mil problemas mas é um centro de excelência, é um lugar de pesquisa e produção acadêmica de altíssima qualidade, é um espaço onde ainda pode haver debates intelectuais. A USP deve se fortalecer, crescer mais ainda, abrir-se mais e mais para a sociedade, aumentar suas vagas, aumentar suas cotas, aumentar o salário de seus professores, as suas salas de aula, os seus espaços de moradia estudantil. Aumentos quantitativos e também qualitativos, notem bem.

E a produção científica, intelectual, o estudo e a pesquisa são base para o desenvolvimento da nossa sociedade, isso é um clichê, eu sei, mas o fato é que parte esmagadora dessa produção é feita nas universidades públicas brasileiras. E o cientista, o pesquisador, tem que ter liberdade e autonomia de gerência de seus recursos, de orientação de suas pesquisas. São raras - e muito louváveis e algumas inclusive de excelência, também - as universidades particulares brasileiras que incentivam a pesquisa, que fazem contratos onde o professor não é horista, que investem em bibliotecas, laboratórios e assim por diante.

O papel de uma universidade não é somente o de dar diplomas. É muito maior, é fundamental na formação de um contingente crítico, que possa pensar sobre o mundo, que possa atuar na sociedade de modo a modificá-la, que possa produzir cultura e conhecimento, contra a barbárie, a escassez de pensamento, a alienação, a dependência, de maneira utônoma e séria.

E talvez venham me falar que a USP tem mil problemas, que ali há professores picaretas, que está tudo decadente, que a universidade parou no tempo, que é elitista, sei lá mais o quê. Sim, a USP tem mil problemas, e todo esse processo está talvez ajudando a enxergar alguns deles. Não joguemos o bebê junto com a água suja.


Eu me posiciono a favor do ensino público superior, eu me posiciono a favor da USP.

sexta-feira, 25 de maio de 2007

Star wars, a new hope

Aí eu li no Pirão sem dono que hoje fazem trinta anos do lançamento do filme Star Wars, a new hope.
Quase a minha idade, sou um ano mais velha.
Mas esse filme marcou toda minha geração, principalmente os meninos, engraçado.

E então, quem não conhecer, leia esse post meu aqui mesmo sobre a Princesa Leah, e um grande mito da infância que me foi derrubado por água abaixo quando soube que aquela cena da princesa Leah acorrentada foi cena de sonhos para muitos garotos púberes com algum tempo livre e algum espaço privado....

Mitos de infância desfeitos: a princesa Leah e o Jaba...

imagens da ocupação na Reitoria





Veja aqui fotolog interessante com fotos de dentro sobre a situação da greve na USP.



quinta-feira, 24 de maio de 2007

LLL

O Alex me deu as chaves da casa dele, prá eu cuidar enquanto ele vai para Cuba. A idéia pelo que entendi é que apareça de vez em quando, para regar as plantas, olhar a correspondência, dar um oi pro Oliver, essas coisas...

Na verdade, ele falou que é para aparecer mesmo.
- Como assim, Alex?
- Ah, sei lá.... posta o que você quiser... - E continuou: - O Bia anda muito ocupado, as filhas, toda aquela mulherada e tal... O Rafa trabalha que nem um louco, o Mauro também, você é que é assim, mais animada...
( Bom... sim, eu percebi. O moço me chamou de desocupada. Tudo bem. Eu tenho as chaves da casa, ele mal vai ter internet, HAHAHHA ....)

Então, além das chaves da casa, tenho também um lado adolescente, e lanço aqui uma série de opções sobre o que fazer com o LLL enquanto o Alex viaja e faz a Revolução...
(hê, hê, hê...)


Primeira enquete:

Enquanto o Alex está viajando, você acha que o LLL deve...

a) Ser atualizado diariamente com cânticos exorcizando o Satanás que há dentro de nós e louvando a Luz Divina ( com direito a trilha sonora automática, é claro, que é acionada assim que a pessoa entrar no blog) .

b)Ser atualizado diariamente com notícias de todos os partidos de ultra esquerda da América Latina, e se tornar um posto de informação e ponto de encontro de todos os compañeros revolucionários e proletários do mundo, unidos?

c)Ser atualizado com os boletins da nova juventude conservadora e cristã s.a., com dicas de como viver na abstinência sexual, como se livrar de pensamentos pecaminosos, pela volta da monarquia e que cada um saiba, finalmente o seu lugar, conforme sua raça, sexo e credo, amém.

Aceitam-se sugestões.

E hoje o Rafael Galvão publicou um post perfeito, engraçado, crítico e brilhante.
( geeente.. quantos adjetivos! o Marcos VP vai me matar!)

olhar para fora

O Polzonoff, ontem, fez um post interessante sobre a imaginação. Falava que os bons escritores, os grandes, são aqueles que conseguem imaginar. Que conseguem se colocar em outros lugares, e conseguem criar personagens diferentes de si próprios, conseguem, enfim, sair do próprio eu e têm capacidade imaginativa o suficiente para criar, de maneira genuína.

Eu acrescentaria que um bom escritor além da imaginação, deve também ter uma enorme curiosidade e interesse pelo mundo. Pelas pessoas. Durante uma época da minha vida fiz teatro e um dos exercícios era observar as pessoas a nossa volta. Reparar nos seus trejeitos, em como andavam, se movimentavam, falavam. Os melhores alunos eram aqueles que ficavam irreconhecíveis nessa arte de imitação, que de fato se transformavam na pessoa imitada, sem nenhum esforço aparente, que conseguiam, enfim, sair de si para entrar no outro.
Difícil prá burro. Para a oitava série, que está criando personagens, eu sempre pergunto: como esse personagem fala? Como ele olha o mundo? O que ele enxerga e o quê ele deixa escapar? Como ele sente e se comporta? E é uma arte, achar a voz das personagens, cada um tem uma voz.

E eu lembrei e contei pro Paulo, na caixa de comentários, de um aluno que tive uma vez, que se chama Enrico. Ele estava na quinta série e o exercício - que se mostrou difícil demais para uma quinta série - era criar um personagem que escrevesse em primeira pessoa.
O Enrico não conseguia, toda vez que escrevia EU não havia jeito: falava de si mesmo, e começava a falar da sua vida, de seus pais, amigos, do que gostava, não gostava, do que havia feito e assim por diante.
E eu cheguei para ele e disse:
- Não, Enrico. Você tem que criar um personagem, uma pessoa sobre a qual você vai falar.
O Enrico me olhou, abriu um sorriso e falou:
- Entendi!
E voltou a escrever.
A primeira linha:
O Enrico....

Essa história da quinta série, acontecida faz tempo, se tornou para mim uma espécie de parábola de algo que acontece muito na literatura contemporânea, por exemplo. Uma impossibilidade de se sair de si mesmo, de se falar de algo que vá além do umbigo, ou das entranhas, sei lá.

É claro que isso não impossibilita que se faça grande literatura, e os bons memorialistas estão aí. Ler as memórias de Pedro Nava, por exemplo, é um prazer dos grandes, absoluto. Mas o Pedro Nava, assim como Proust, é também um grande observador do mundo. Descreve os tipos e as pessoas que atravessaram sua vida com uma generosidade e entrega fenomenais, procura a palavra exata, nele, o texto escrito se torna maior que ele mesmo. E os personagens da sua vida ganham existência própria, os espaços ganham uma materialidade que só a entrega e um olhar para fora podem possibilitar.

Uma coisa é falarmos sobre nossa aldeia, e falando de nossa aldeia, falarmos sobre o mundo. Outra, bem distinta, é não conseguirmos sair de nós, de um auto encantamento que o Narciso já mostrou, há um bocado de tempo, que afoga. E o pior é que afoga não somente o próprio Narciso, muitas vezes afoga também todos aqueles que dele se aproximam e que, por serem diferentes, ele não consegue nem ver nem enxergar, quem dirá entender, amar, conhecer...
Haja solidão, haja deserto.

para os donos da verdade




VERDADE

Carlos Drummond de Andrade



A porta da verdade estava aberta,
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.

Assim não era possível atingir toda a verdade,
porque a meia pessoa que entrava
só trazia o perfil de meia verdade.
E sua segunda metade
voltava igualmente com meio perfil.
E os meios perfis não coincidiam.

Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram ao lugar luminoso
onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em metades
diferentes uma da outra.

Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
Nenhuma das duas era totalmente bela.
E carecia optar. Cada um optou conforme
seu capricho, sua ilusão, sua miopia.

quarta-feira, 23 de maio de 2007

se eu pudesse...

quase nunca coloco trechos de trabalhos de alunos aqui, por uma questão ética. Mas esse é um trecho tão curtinho e tão bacana que eu não resisto.
A quinta série tinha que listar seus desejos, o que faria se pudesse fazer o que quisesse, ter os poderes que quisesse. E um menino escreveu assim:

Seu eu pudesse fazer o que quisesse eu teria poderes de voar, ler mentes e prever o futuro. Eu iria conhecer os céus, ver se eu seria um baterista profissional e leria as mentes das mulheres que gosto para satisfazer os desejos delas.



achei pefeito.

terça-feira, 22 de maio de 2007

Nua de tudo

Então eu fui trabalhar pensando no post que havia escrito sobre como a gente vai ao cabelereiro e fica tirando tudo, o anterior . E comecei a imaginar uma história, que ficou assim:



Ela havia percebido que o grande lance era tirar. Tirar os pêlos da perna, da sobrancelha, as peles dos dedos, tirar as cutículas, o buço, os pêlos das axilas. Entusiasmou-se, resolveu tirar os poros da cara, lixou toda a pele do corpo, esfoliou, fez peeling. Tirou toda a pele velha, tirou as cor dos seus cabelos, tirou os cachos, e tirou a penugem das costas e da barriga também, tirou as rugas e as marcas de expressão. Na onda, resolveu tirar o escuro dos dentes, e já que estava por ali também tirou todos os dentes do ciso. Resolveu tirar de vez as gorduras que insistiam em permanecer e foi tirando, coxas, ancas, barrigas, braços. Tirou uma tatuagem velha, e também a que dizia: "Alê, eu te amo". Descobriu tratamentos que tiravam estrias, marcas e manchas, tirou também. Tirou as sardas que tinha no rosto, tirou as estrias que tinha na perna, tirou parte da bunda e aproveitou para tirar um pouco dos seios também, que sempre os achara exagerados. Soube que dava para tirar uma costela, para ficar com a cintura fina, e tirou, logo duas de uma vez, e arrumou um espartilho moderno, para tirar mais cintura ainda. E repetiu, e tirou, e cada vez tirava mais.
Foi desaparecendo.
Desaparecendo.
Até que tirou a si mesma, que incomodava tanto. Fez PLUFT! E sumiu.

no cabelereiro

Então no sábado fui ao cabelereiro. Nessa vida sem tempo, os pêlos haviam crescido, as unhas haviam crescido, o cabelo crescido, todos de maneira desordenada e indesejada. A caminho do Salão ( adoro chamar cabelereiro de salão) lembrei-me de um outdoor que outro dia vi na rua:

"Seu marido anda acordando com a macaca?
Vá à depilação não sei das quantas"

Lembrei, e frente a essa lembrança, só me restava pisar no acelerador.
Então cheguei lá, agarrei minha Caras da semana e, entre a volta por cima da Suzana Vieira ( viram que ela voltou com o rapaz? ), o novo namorado da Ana Maria Braga e a volta por cima de não sei quem, fiquei pensando.
A pessoa vai ao cabelereiro para basicamente deixar lá um terço dos pedaços dela, haja DNA.

Vejamos:

vão te fazer as unhas e sábado a minha manicure era daquelas obsessivas e obcecadas, a mulher tirou cutículas até de onde não tinha. escavocava, achava peles nos cantos mais recônditos do meu ser. Lixa-se as unhas, esmalta-se, e a gente olha nossas novas mãos, lixadas, pintadas e se sente até mais bonita. Aí molha-se os pés, e raspa-se os pés, furiosamente, até que não reste nada, escava-se as unhas dos pés também lixa-se, e ao final, pés novos.

Vambora para a salinha de tortura, isso é, a sala de depilação.

Muitas salas de depilação colocam no teto fotos de homens sarados, que é para a gente ficar olhando enquanto sofre. A mulher fala assim: olha pros homens, e pensa que vale a pena. Eu acho engraçado, e confesso que ficar olhando o Brad Pitt sorrir para mim enquanto me arrancavam os pêlos da virilha não foi lá muito alentador. E dá-lhe tirar pêlos. Nesse momento a gente percebe quanta superfície de pele tem no corpo. É impressionante. Pernas inteiras, virilha, pá pá pá, axilas, buço, sobrancelhas... Pinça, pêlo a pêlo, você ali nua, a mulher com a cera quente, conversando de filhos, marido, estudos, fofocas, enquanto levanta o seu braço, estica a perna, dobra a perna, agora vira, tá quase acabando, nossa, essa doeu..... e tira, tira, tira... olha o Brad Pitt, oi Brad, filho da puta.

E agente sai de lá outra, mais uma batalha vencida, acho que fica até mais leve.
E simbora cuidar dos cabelos. Sim, meus meninos, ainda não acabou.

Eu só lavo e corto, mas muitas ainda vão tirar a cor, colocar cor, tirar os cachos, colocar cachos, e sei lá mais o quê.
Chega o moço: não corta muito. Tá... e lá vai ele, tirando mais pedaços seus... Corta daqui, corta de lá, aquela angústia, será que ele não tá tirando muito? Vira dali, vira de lá, puxa e amassa e pronto, novos cabelos.

No caixa, três dígitos. Caixinha para todo mundo. A gente agradece, e vai embora, deixando para trás vários pedaços de nós, indesejáveis, vencidos, fora desse corpo ao qual não mais pertencem. E ao pisar na rua, mais leve, mais bela, mais feminina, vem logo à cabeça a memória, e a certeza absoluta que no mês seguinte, eles todos, os pêlos, as peles, os cabelos... voltarão.

-êta vida Besta, meu Deus.

segunda-feira, 21 de maio de 2007

declaração

eu gosto do Filipe dos meus amigos das minhas amigas da minha casa da minha gata das minhas famílias de cozinhar de receber e amar, de falar fofocar, conversar, beber vinho e alguma cerveja, fazer compras, ler, dançar muito muito muito, ouvir música, conversar, gosto também de cuba livre diet, ver arte boa, ver arte média, cinema, dança música exposição e teatro, ver filmes bem ruins mesmo e novela, gosto dos meus alunos, gosto de falar, escrever e não sei cantar mas gosto também, gosto de passear por são paulo, gostaria de desenhar mas não sei, gosto de inventar, gosto de escrever ficção e sobre coisas cabeças, gosto de quem me gosta e fico mal com quem não gosta, gosto de assistir aula, palestra e conferência, gosto da academia, de ginástica e da outra também, gosto de fazer unha e ler revista de gente famosa, gosto do povo que me lê e comenta, do povo que me lê e eu nem sei, gosto daqui, gosto de tomar banho, gosto de água gelada da cachoeira e gosto do que me faz pensar e sentir, mas não gosto de sofrer muito, tento evitar mas consigo médio, gosto do bem, gosto de gente mas não todas, gosto de novo dos meus amigos e mais que gosto do Filipe.

cinco blogues que me fazem pensar

1. mea culpa:

Estou em falta com esse blogue. Eu que escrevo todos os dias, por princípio e disciplina, nesse mês de maio andei fraquejando. Outro dia até minha mãe ligou, cobrando. Juro, levei até bronca de mãe. Uma mistura de final de trimestre escolar, com uma canseira de meio de ano, com muitas coisas acontecendo na vida. A semana passada foi especialmente complicada: meu avô fez noventa anos, sábado tivemos uma festa linda de dançar até seis da manhã, mil compromissos sociais, um monte de coisas para contar, uma falta de tempo crônica.

O problema do adiamento da escrita é que, no caso de blog, se o momento se perde, muitas vezes ele não pode mais ser recuperado. Quando as palavras pressionam para serem escritas, há que obedecê-las, senão elas ficam vingativas e não voltam mais. Desaparecem, e aí tchau. Para não correr esse risco, comprometo-me a voltar à rotina de um post diário, sem falta, com a coragem e o desencanamento necessários para tal, sobre o que for, o que estiver pedindo para ser contado, naquele dia, todos os dias.

Enquanto isso, vou aos poucos também escrevendo os assuntos pendentes, os posts que ficam sendo escritos e reescritos mentalmente, e que acabam me tirando o sono, como esse dos tais blogues que me fazem pensar.

2- O tal do Thinking Blogs Award:

A indicação dos tais Thinking Blogs Awards não é um prêmio, mas sim um uma espécie de Même bacana, onde vc indica, dos blogs que lê, aqueles que operam sobre vc de maneira específica, fazendo pensar. Fui indicada por duas pessoas que respeito imensamente, e isso para mim significou um monte.

os blogues qu eme fazem pensar são muitos. Gosto de ler blogues. Passei a gostar, ano passado mal sabia o que eram blogues, nesse ano entrei nessse mundo, que ainda estou descobrindo.
Gosto muito de blogues pessoais, bem escritos, blogues de afinidades semelhantes a esse daqui, que tratam de literatura, escrita, artes, cultura, cinema, amor e sexo. Blogues que contam do dia a dia, blogues confessionais, engraçados, despretensiosos. Os que mais gosto, e que visito todos os dias, estão listados ao lado, no lulu lê.

Há alguns específicos, porém, que têm a ver com minha trajetória por essas bandas daqui. Um que me faz pensar pela qualidade do escritor, outro pelo modo como trata os livros, pela qualidade do leitor.
Ficam faltando três, sobre os quais escrevo em outro post, porque um dos problemas de não escrever diariamente é que fico descontroladamente prolixa, e se o povo não lê nem tanta notícia, imagine posts quilométricos....

Então me desculpem pelo título mentiroso.

3- Hoje, falo sobre dois blogues que me fazem pensar.

LIberal, Libertário, Libertino. ( ex. Agora: Radical, Rebelde, Revolucionário. Ai, ai...)


O Alex me conquistou através de suas crônicas e contos. Uma vez, quando começava a navegar por blogues, o Inagaki comentou e publicou o conto A porta, uma obra prima que o Alex escreveu ( o conto está disponível on line na íntegra, aqui ). Fiquei impressionada, como uma coisa assim boa podia existir na internet? Bobeira e preconceitos de iniciante.

No mesmo dia, um domingo aí qualquer, entrei no LLL e me perdi - o cara é especialista em usabilidade em internet e eu não entendi o funcionamento do site dele, imaginem... - escrevi reclamando, comprei o livro de contos, escrevi agradecendo, e eu e o Alex nos tornamos amigos.

Toda a parte das prisões, das idéias polêmicas e tal, acho até legaizinhas, mas o Alex guru não me interessa tanto, embora tenha todo respeito do universo por pessoas que se posicionam, sustentam suas idéias e expressam suas opiniões.
Essa postura em cima do muro, apaziguadora, tão comum por essas bandas, enche e não leva a lugar nenhum, o Alex se posiciona, é inteligente e alimenta debates importantes.

Mas o cara é, além de excelente leitor, sobretudo um grande narrador, um grande escritor, dos melhores que há. Aí está a melhor qualidade e, ao meu ver, a verdadeira vocação do Alex - enquanto ele quiser, enquanto durar a vontade de escrever - ele é um grande escritor de literatura.

A literatura do Alex não se rende a nenhum modismo desses que assombram os novos escritores de literatura brasileira. Tem estilo, é sóbria, direta, sabe das palavras e da narrativa, distancia-se do escritor, ganha vida própria, trata de temas grandes com humildade ( no bom sentido da palavra) e de temas pequenos com grandeza.

Uma literatura sensível sem ser piegas, generosa nas descrições dos sentidos ( cheiros, sons, tatos, cores, são sempre elementos importantes nas narrativas do Alex), sempre à procura da palavra exata; uma literatura de enredos cheios e ao mesmo tempo concisos, sem sobras e sem exaltações ao próprio eu ( ah.. que alívio!) , o Alex cria e sabe contar boas histórias.

Eu espero que o Alex cada vez escreva mais literatura, o livro de contos dele Onde perdemos tudo é talvez o melhor livro de literatura contemporânea que li nos últimos tempos.

E o Alex faz pensar também porque, mesmo sendo um grande escritor, e tendo os milhares de leitores diários que tem, encontra dificuldades para publicar no Brasil brasileiro, e para alcançar um status de Escritor de literatura - e esse é um debate interessante - não adianta: tem que publicar em papel.

E muitas vezes as editoras no Brasil têm razões que a própria razão desconhece. Ele e o Bia, fazem pensar sobre isso.
Sobre o que é ser escritor, sobre o papel dos blogues na cultura e no ( pouco) espaço dado à literatura e à escrita no Brasil; sobre políticas de publicação e alternativas que a internet pode proporcionar, sobre políticas editoriais e status.

Afinal, quando um escritor de literatura se torna um escritor? Quando é lido por milhares de pessoas diariamente, mesmo que seja on line? Quando publica seu primeiro livro em papel, mesmo que seja por uma editora tão pequena que o livro fica praticamente inacessível? Quando ganha as páginas dos jornais culturais? Quando encontra um padrinho peso pesado? Quando publica por uma grande editora? Quando ganha prêmios? Quando, simplesmente, decide que não pode viver sem a escrita, se exercita nisso diariamente, e escreve bem?

Questões complicadas, que merecem um post em si, mas o Alex, sendo o escritor que é, sempre me faz pensar sobre tudo isso.

E além da literatura, a nossa amizade foi uma das coisas mais bacanas, belas e divertidas que me aconteceram desde que entrei nesse mundo de internet e blogues. E como esse mundo pode proprocionar relações verdadeiras e profundas é algo que ainda me enche de espanto. Um espanto bom.

Falando em todo esse assunto - livros, internet, e talz - visite o blogue do Biajoni sobre o romance Sexo Anal, uma Novela Marrom, que eu também adoro e resenhei aqui.
E principalmente, leiam os livros desses caras, que são bons `a beça.



Paulo Polzonoff

Eu não conheço o Paulo e não o conhecia antes de encontrar o blogue dele. Isso também é interessante na rede, a gente encontra pessoas sem saber o que ou quem elas são, sem ter referências anteriores, e se isso por um lado pode ser perigoso - dá que a pesssoa é uma louca assassina...? - também é muito bacana, pois permite encontros verdadeiros, de certa maneira despidos de opiniões pré-concebidas ( quer dizer, na internet, uma pessoa interessante e talentosa pode encontrar um espaço que não encontraria jamais na imprensa ou nos meios de escrita impressa. É verdade que o mesmo vale para uma pessoa desinteressante e sem talento algum...).

Eu falo muito sobre livros, mas não sei falar sobre livros. Às vezes, nas minhas aulas de literatura com as crianças, tenho vontade de ler o livro em voz alta, a aula inteira, e só. Terminada a aula, interrompo a leitura, e falo assim: "legal, né? na aula que vem continuamos." E pronto. E a aula de literatura podia ser só isso, aula de ler. Sem que eu falasse uma palavra sobre a coisa lida. Que o livro falasse por si. E pronto.

Quer dizer, às vezes, a maioria das vezes, fico achando que não tenho nada, absoutamente nada, para acrescentar à obra. Que aos leitores, cabe ler, e pronto. Que toda discussão é vã. Gostaram, ótimo. Querem discutir, vamos embora. Não gostaram, paciência, vamos ao próximo.
Fico perdida, perdida, não sei bem como tratar os livros; sei lê-los ( e isso salvou minha vida - não sei viver sem leitura) mas fazer resenhas, ler junto com os alunos, fazer crítica literária, pensar sobre os livros, é outro negócio.

O Paulo me parece ser um grande leitor. E sabe compatilhar isso. Como poucos.
De novo, os posts mais reflexivos dele, ou das listas que ele faz, são interessantes, as listas são curiosas porque fazem a gente lembrar das nossas próprias e traçam uma espécie de perfil, mas o que é bacana mesmo é quando ele conta dos livros que o tocaram profndamente. Ele faz uma espécie de relato de leitura, onde ao enredo da história se mistura o enredo da vida do leitor da história, da vida do Paulo.

Ao falar da matéria lida, o Paulo se expõe e fala de como o que foi lido significou para o que estava sendo vivido.
Lindo.
O Paulo se prende ao roteiro das histórias que resenha, faz uma leitura bem substantiva dos livros, fala da personalidade dos personagens, dos acontecimentos e da estrutura do enredo, sobre gêneros, e fala, principalmente, porque ficou tocado. É muito bonito o jeito como a literatura é lida e tratada nesse blog, bem subjetivo e ao mesmo tempo com muita propriedade. Me fez e faz pensar. Que talvez esse seja um caminho. Contar porque o livro nos diz respeito, porque e como o que acontece nesse mundo inventado toca nas coisas vividas.

(Leia, por exemplo, o post dele sobre um "clássico pessoal", quer dizer, um livro que é clássico em nossas vidas, mas não necessariamente na história da literatura: O Encontro Marcado. )

sexta-feira, 18 de maio de 2007

olha só... duplo, com gelo, puro malte.



E a Meg, minha querida Meg, me surpreende hoje com essa indicação/prêmio, o thinking blogger award, diz ela que esse Diário da Lulu aqui a faz pensar.

E o que eu posso dizer, a não ser que fico toda contente, toda orgulhosa, toda feliz da vida?
Agora eu quero colocar a figurinha na barra lateral do blog, prá ficar mais chique e tudo, mas sei lá como faz isso...


E o meu querido amigo Alex me indicou também.
Vixi Maria, tô me achando... ;-) ( fiquem tanquilos, dura pouco. Daqui a pouco me perco de novo! )

E cabe a mim indicar cinco blogues que me fazem pensar. Estou pensando, são mais de cinco, quando souber mesmo, indico e falo aqui. :-)

E já que é assim, linko também um post excelente sobre educação e direitos, que cita meu manifesto pelos direitos dos alunos leitores e não leitores, lá no blog da Ceila Santos.

Lobo solitário








Saiu este mês o último volume da saga do Lobo Solitário, publicada inteira pela editora Panini. É o vigésimo oitavo volume de uma longa e bela história, publicada mês a mês, por 28 meses.

Aqui em casa acompanhamos a história inteira, avidamente. Sim, durante dois anos e pouco o Lobo Solitário e seu filho, Daigoro, fizeram parte da minha vida. Todo início de mês, uma ida à banca, quando o novo número chegava. Abríamos ansiosos, rasgando o plástico com cuidado, afoitos pela leitura.
Uma edição bem cuidada, que respeita o estilo do mangá, tem um glossário cuidadoso, e prefácios explicativos interessantes.
Pelo que sei, é a primeira vez que a história é editada de maneira completa aqui no Brasil.

Um clássico.







Eu, que sou tão inconstante, mantive essa constância na minha vida, temos todos os volumes, mês a mês. Quase um folhetim, acompanhado com choro, angústia e ansiedade.


Sei lá o que aconteceu na minha vida durante esses dois anos e meio, sei mais ou menos, mas sei bem o que aconteceu na vida do lobo solitário, Itto Ogami, e seu filho, Daigoro. Acompanhei de perto, lealmente, vivi junto. Nesse último volume desfiz-me em lágrimas, trata-se de uma das histórias mais lindas que já li. Um épico, trágico e forte, de homens fortes e honrados, cheios de sentimento que precisam ser ocultos e enterrados, com um senso de dever e justiça que paira acima de tudo, disciplinados, inteiros.











A história de um pai e um filho, sozinhos no mundo, párias no Japão Feudal, no período Edo, que escolhem o caminho do Meifumadô - uma espécie de Limbo, não estão nem na vida nem na morte - pois têm uma vingança a cumprir. Como escolheram esse caminho, não temem a morte, e tampouco temem matar. Vivem fora da fronteira, fora do mundo dos vivos, fora da lei, dentro do código de honra dos verdadeiros samurais.





Itto Ogami, o Lobo Solitário, era um Samurai executor oficial do Xogum. Honrado, célebre por uma maestria no manejo da espada. Por intriga política, seu nome é jogado na lama e toda sua família, inclusive sua esposa, é assassinada. Os únicos sobreviventes do massacre: Itto Ogami e seu filho de três anos, Daigoro. Está montado o enredo: Itto Ogami abandona seu posto, deixa de ser um Samurai, torna-se um Ronin, carrega seu filho nas costas e erra pelo Japão. Torna-se um assassino profissional, o melhor que há, e acumula dinheiro para executar sua vingança contra a família mais poderosa do Japão, os Yagyu, liderada pelo velho patriarca, Retsudô Yagyu, responsável pelo massacre.





Pai e filho vivem então um caminho entremeado pela morte e por assassinatos. Itto Ogami torna-se o melhor matador do Japão, abandona seu nome, sua história. Sua origem passa a ser desconhecida, extremamente hábil, cumpre todas as missões a que é designado, sem nunca deixar pistas. Aqueles que o contratam precisam contar a razão do assssinato precisam expor suas fraquezas e segredos que, no entanto, nunca são usados. Assim, cada novo contrato é uma nova história, e as histórias envolvem paixões, vinganças, justiça social, política, honra.


Um clima um pouco parecido com o filme Os Sete Samurais , do Kurosawa - um dois meus filmes preferidos. Costurando os pequenos enredos criados a partir assassinatos que Itto Ogami comete, está o enredo principal: o caminho do pai e do filho rumo à vingança, o crescimento e o endurecimento de Daigoro - que mesmo com três anos, escolhe ficar com o pai e seguir o caminho do pai. A perseguição que ambos sofrem - pois são procurados pelo Xogum e perseguidos pela família Yagyu, e a progressiva aproximação do momento da vingança.


Enquanto esse momento não chega, pai e filho erram pelo Japão, Itto Ogami leva consigo sua espada e um carrinho de madeira, e essa é a figura do assassino, do Lobo Solitário e seu filhote.

Daigoro não conhece uma família convencional, tem alguns momentos de afeto e brincadeiras, mas é, principalmente, um companheiro do pai, dotado do senso de honra de um Samurai, uma criança acostumada com a morte e as despedidas. Uma criança solitária e silencisa, atenta, com olhos de adulto.



Eu nunca li mangás e não sou uma leitora de Mangás. O lobo solitário, de Kazuo Koike e Goseki Kojima é uma obra de arte, não somente pelo enredo da história mas, principalmente, pela beleza e arte da construção narrativa. A história é inteira contada cinematograficamente, os diálogos são econômicos, há sequências inteiras sem letra alguma.
Quadrinhos inteiros somente com desenhos de pés, de uma flor, do vento, do movimento de uma espada. O desenho é construído como se fosse cinema. Cinema dos bons, onde a narrativa acontece por meio das imagens, do movimento da câmera. O foco narrativo centra-se não na fala mas na linguagem própria do cinema - ou dos quadrinhos - ou seja, quem conta a história é o movimento das imagens, aquilo que o enquadramento escolhe mostrar e aquilo que escolhe ocultar, aquilo que escolhe realçar, e assim por diante. Contraposições, detalhes, panorâmicas. Um desenho em movimento, poetico.

Frank Miller, um dos principais quadrinistas da atualidade, enlouqueceu quando deparou-se com o Lobo Solitário, e diz ter aprendido a fazer seus quadrinhos a partir dali. Quentin Tarantino bebe na mesma fonte, muito do estilo de Kill Bill, por exemplo, está aqui.







A história de um pai e um filho, sozinhos no mundo, assassinos os dois, silenciosos, cúmplices. Daigoro é um dos personagens mais lindos e tristes que já encontrei na vida. O Samurai torna-se um fora da Lei, mas um fora da Lei que se coloca nesse lugar a fim de preservar sua honra, manter o seu caminho, encontrar a morte honrada. Para que esse caminho possa ser cumprido, há um despreendimento absoluto das coisas do mundo, pai e filho não têm amigos, não ficam no mesmo lugar por muito tempo, traçam laços que logo são desfeitos. Daigoro encanta as mulheres, ao longo da história muitas se oferecem para criá-lo, mas o menino está e quer estar ao lado do pai, na fronteira da morte.

Um assassino e uma criança. O lobo e seu filhote. Um épico em quadrinhos, dos bons.
















um ótimo artigo sobre o Lobo solitário, aqui.
Imperdível: Itto Ogami, uma ( ainda mais) bela morte, aqui.

terça-feira, 15 de maio de 2007

Tipo assim, ó:

Tipo... a pessoa tem que ler jornais, trabalhar, preparar aulas, corrigir, fazer ginástica, passar cremes, cuidar do cabelo, pintar as unhas, ser simpática, contente, ver pessoas, fazer depilação, ler por trabalho, ler para si mesma, escrever por trabalho, escrever para si mesma, telefonar para pessoas, se comunicar e não perder a pose, nem o tesão.
Tipo assim, ó: às vezes fica difícil.

segunda-feira, 14 de maio de 2007

Every time we say goodbye



Every time we say goodbye
por Annie Lennox.

E no Cavaleiro inexistente, do ìtalo Calvino, a um certo momento Agilulfo parte à procura da sua história, à procura da donzela cuja virgindade teria salvo. Se for falsa a história, Agilufo perde seu título de Cavaleiro e todas as suas atribuições, e com a perda daquilo que lhe nomeia, Agilufo deixará de existir naquilo que é, perderá inclusive sua amardura. Agilufo foi desacreditadoo, e parte à procura de seu Nome.
Com ele parte Gurdulu, seu escudeiro - uma espécie de Zelig na literatura - , que tem existência, mas não tem essência, e se confunde com a sopa que toma, as rãs que o rodeiam, a árvore que lhe ladeia.
Agilulfo tem uma existência uniforme, ditada pelas regras do exército e da guerra. Sem contradições, sem oscilações, é ditado pela burocracia, contornado por sua armadura branca, impecável. Não tem existência, mas tem uma absoluta consciência de si- e é essa consciência que é abalada quando sua história é desacreditada. Gurdulu é o exato oposto, tendo existência, não tem consciência de si. Diversos nomes " que delizam nele sem jamais fixar-se", tem também diversos eus, sem ter nenhum. Mimetiza seu redor e acha que até o pé tem vontade e existência própria.
Atrás de Agilufo vai também Bradamante, a cavaleira mulher, que ama o cavaleiro perfeito, o cavaleiro inexistente, o único capaz da absoluta precisão ao atirar uma flecha no alvo:
"Preparem-me tudo, partirei, partirei, não vou ficar aqui nem mais um minuto, ele se foi, o único pelo qual este exército tinha sentido o único que podia dar sentido à minha vida e à minha guerra,e agora não resta nada além de um bando de beócios e violentos, eu incluída, e a vida é um revirar-se entre camas e caixões e só ele sabia a geometria secreta, a ordem, a regra para entender o princípio e o fim!"
E atrás de Bradamante, na Ciranda que é o romance ( e todas as histórias de amor?) parte também Rambaldo, que corria a pé para procurá-la e grita um dos mais lindos gritos de paixão:

"Aonde vai, aonde vai Bradamante? , eis-me aqui, para você, e você vai embora!" com aquela teimosa indignação de quem está apaixonado e quer dizer: "Estou aqui, jovem, pleno de amor, como pode meu amor não agradar-lhe, que deseja essa que não me toma, que não me ama, que mais pode querer além daquilo que sinto poder e dever dar-lhe? " e assim se enfurece e não consegue aceitar e num certo ponto a paixão por ela é também paixão por si próprio, é o apaixonar-se por aquilo que poderiam ser os dois juntos e não são. E nessa fúria Rambaldo corria para sua tenda, preparava cavalos armas alforjes, partia ele também, pois a guerra só é bem combatida onde entre as pontas de lança se dintingue uma boca de mulher, e tudo, as feridas a nuvem de poeira, o odor dos cavalos, só tem sabor a partir daquele sorriso. "



Porque toda vez que a gente se separa ou se vê separado, da pessoa que ama, parece que o mundo se desmonta um pouco.
E porque o apaixonado que fica sozinho nunca entende bem ao certo, ou é tão difícil compreender, porque seu coração está partido.

aviso importante:
Eu, Luana, estou bem, mas hoje - relendo o Italo Calvino - me deu vontade de fazer um post sobre corações partidos, e buscas pelo amor e pelo Nome, História e Existência da gente.


sábado, 12 de maio de 2007

Recalque

eu acho que ele...






na verdade,

queria ser ela...







Estão ou não estão cada vez mais parecidos?

(e é sacanagem colocar a Marta ao lado do Clodovil - com todos os problemas da nossa ministra, é sacanagem. Mas foi irresistível...)

sim, tirei do post umas fotos delas duas, porque toda vez que abria o blog estava ficando com enjôo...

sexta-feira, 11 de maio de 2007

dia de redação

Sexta-feira é o dia mais legal da semana. Além de ser sexta-feira, véspera de sábado, maravilhoso sempre, é Dia de Redação, e a aula de redação é a aula mais legal que tem. :-)

É assim:

todos os alunos, da quinta à oitava série, têm um caderno de redação. A primeira tarefa do ano é fazer uma capa para o caderno de redação. Uma capa onde cada um coloque as coisas que mais gosta. Fotos, escritos, letras de música, uma pintura, o que for. Cada um faz a capa do seu caderno e encapa depois, com contact transparente. Tem desde capa com mulheres lindas, até capas cabeças com fotos abstratas, capa com heróis de desenho animado, e até um da quinta que colocou fotos dele bebê. Na sexta-feira eles trazem seus cadernos para a escola.

Sempre as atividades de redação têm a ver com a leituras que estão sendo feitas, é um jeito legal de melhorar a escrita, no começo, perceber o estilo e a técnica dos autores lidos e tentar fazer parecido. Assim os alunos também começam a perceber a especificidade de cada gênero literário e percebem que cada tipo de narrativa - ou mesmo de escrita - pede uma construção diferente - com vocabulário, estilo e estrutura próprias.

A idéia é que da quinta à oitava série eles passem por tudo, escrevam histórias de aventura, histórias de fantasia, histórias de suspense, terror, ficção científica, crônicas, poemas, histórias sem histórias, notícias de jornal, cartas, e-mails e assim por diante.

Além disso, e essa é uma técnica ótima para desengatar a escrita, trabalhamos o tempo inteiro com os elementos da narrativa:
personagens, tempo, espaço, foco narrativo, enredo.
Em toda história alguém ( pode ser um grupo se pessoas, animais, objetos, o que for ) faz alguma coisa ( mesmo em "Esperando Godot", uma peça sobre a espera, coisas acontecem Toda história tem enredo, nem que seja um enredo interno), em algum lugar ( fechado, aberto, inventado, real...) , num determinado período de tempo ( uma história que se passa em três minutos, num dia, em um asemana, um ano, muitas gerações...) , e isso é narrado sob algum ponto de vista ( que pode ser imparcial, parcial, etc. ) .
Esses elementos são como peças de montar, brinquedos, com os quais a gente monta as histórias. Basicamente essa é a base: escrever histórias é como brincar, a gente cria mundos, pessoas, e decide o que acontece com elas. É basicamente bem divertido.

Na quinta série, já contei, estamos lendo Tom Sawyer. O grande barato do Tom Sawyer é que ele é um personagem muito bem construído, tudo o que ele vive, as aventuras em que se mete e assim por diante, têm a ver com a personalidade dele. Aí a gente conversou um monte sobre isso, e na aula de redação cada aluno está criando personagens. Na quinta série isso funciona assim:
cada um ganha uma folha sulfite, em branco. Todos devem dobrá-la ao meio ( as aulas de redação na quinta série têm que ser super ritualizadas, e o mais engraçado é que eles entram no ritual e obedecem cada passo com toda seriedade.). cada um olha para sua folha em branco, dobrada. Essa será a ficha de identidade de cada personagem, que passará a existir no momento em que a ficha for preenchida ( ohh...).

E aí eu vou ditando os ítens que eles têm que preenchere eles vão preenchendo a medida em que eu dito, sem pensar muito:
Nome. ( Nome completo, é claro. Faz a maior diferença a pessoa se chamar só Maria ou Maria da Conceição Tavares de Mello) . Data e local de nascimento ( aí uma menina decidiu que ia fazer uma mulher parisiense, o outro que a história ia se passar na idade média , e assim por diante... - se for necessário, nesse momento, pode mudar o nome) . Idade atual ( ou seja, o ano em que se passará a história. "Pode ser no futuro? " Pode, ué... ). Aspectos físicos ( e na quinta série tem que ser bem objetivo: altura, cor da pele, peso, tipo de cabelo, tipo de corpo, roupas que gosta de usar e assim por diante). Personalidade: duas coisas que ama ( "espinafre e namorar!" gritou um menino e a classe inteira cai na risada) ; dois medos, dois sonhos, duas coisas que odeia. Depois eu peço que descrevam o "jeitão" da personagem, se é tímido, nervoso o que faz da vida, como passa o seu tempo, como é o quarto dele ou dela, essas coisas. Quanto mais elementos, melhor.
A essa altura cada um já tem um personagem inteiro criado. Eles vão ler em voz alta para o resto da classe, e a gente vê se dá para visualizar ou não como é a personagem. Alguns querem colocar a foto no documento de identidade, e fazem também um desenho.
Eles estão criando três personagens, que depois vaõ se juntar em alguma história. Essa é a aula de hoje.


Na sexta série eles têm que criar uma história de detetive. E aí é muito legal porque não tem jeito, têm que planejar a história antes. Primeiro escolhemos a ambientação. O livro que estamos lendo se passa todo no Egito, num barco, com pessoas de classe alta que se juntaram ali. Cada um escolhe que tipo de lugar e que tipo de pessoas vai querer em sua história. Clube, escola, cidade ( mas que partes da cidade? que tipo de cidade? ), parque de diversões, sei lá. Tem que ser um lugar meio fechado, pois isso facilita elencar os suspeitos e assim por diante. Pode ser mais de um lugar, uma boate e o condomínio, por exemplo. Pode ser em outro país, outra época, o que quiserem. Que eles percebam como os ambientes escolhidos determinarão toda a história: os tipo de personagens, os diálogos, as cenas, e assim por diante.

Isso feito, cada um decide qual vai ser o mistério a ser resolvido: roubo , assassinato, desaparecimentos....
E aí cada um vai fazer uma lista de cinco suspeitos. E têm que pensar e listar:
-quais as ligações dos suspeitos com o mistério? ( vive na casa onde foram roubados os quadros; é irmão da assassinada, é amigo da pessoa que desapareceu, uma paixão antiga, sei lá... )
- quais as motivações de cada um, ou seja, por que eles se tornam suspeitos?

O tipo de detetive.
Cada história de detetive tem um tipo clássico, que dá o tom da história. Pode ser desde a velhinha boazinha que faz chá e enquanto conversa reitira todas as informações necessárias do suspeito, até um cara fortão e cheio de tecnologias, que gosta de ação, perseguições e ciência. Pode ser um grupo de gente, que nem no Gênio do Crime, pode ser o jeito que eles quiserem. Cada um escolhe como será o investigador, e isso determinará também como o mistério será resolvido.

Pronto, as peças estão montadas. A tarefa é começar a escrever o primeiro capítulo, de maneira a apresentar aos leitor esses elementos: o ambiente da história, as personagens principais, as ligações e conflitos que existem entre eles ( que vão dar as motivações) e, se der, o detetive. Essa é a aula de hoje.

Na sétima série eles estão lendo Italo Calvino, e há duas coisas que eu pretendo tabalhar. O romance é todo narrado por uma freira que, depois descobre-se, é também personagem. O que muda quando uma história é narrada por um personagem que faz parte dessa história?
O exercício de hoje é pegar uma história curta (peguei o conto " os músicos" do Rubem Fonseca) e recontá-la a partir da perspectiva de cada personagem que aparece. Mesmo o garçom que aparece de relance, se ele fosse narrar aquela cena, como narraria? E aí é feito todo um exercício de entrar na cabeça das pessoas que estão no mundo e narrar o mundo a partir da visão delas. Difícil prá caramba, mas bem legal. A mesma história contada sob várias perspectivas.

Na oitava, Clarice Lispector. Eles têm que criar um personagem, como na quinta série, mas apresentá-lo em forma de texto narrado em primeira pessoa, como um fluxo de consciência - não a deles, mas a da personagem. Uma pessoa que está escrevendo sobre si mesma e sobre o ato de narrar ( sim, é a mesma estrutura do livro). Atenção: essa pessoa tem que ser diferente de você. E essa pessoa tem que ganhar contornos de humanidade. O que é isso? E aí a gente discute. Uma pessoa que tem história, tem defeitos, falhas, pensamentos e angústias. Única regra: essa pessoa tem que ser diferente de você.
Essa é a aula de hoje.

As regras das aulas de redação, para todas as séries, são:
cada um é obrigado a escrever pelo menos vinte linhas. Não tem choro nem vela, vai escrevendo, a primeira coisa que vier à cabeça, as palavras depois se ajeitam e uma coisa puxa a outra. Escrever sem pensar muito, sem tentar fazer nada de genial, sem grandes ambições. É uma brincadeira e a única regra é que tem que brincar. Não precisa se preocupar com erros de ortografia, nem de gramática. O primeiro passo é escrever, o bom escritor não encontra barreiras entre o que lhe vai na cabeça e o que aparece no papel, a mão é extensão dos pensamentos, que fluem. Depois a gente arruma tudo, corta o que for necessário, reescreve, mas o primeiro momento tem que ser o de uma escrita fluida.

Não pode passsear pela sala, pode sair para beber água a hora que quiser, nem precisa pedir, dois de cada vez. Não pode conversar com o amigo, nem para ter idéias. Escrever é um ato solitário e silencioso.

E assim vai. Demora uns quinze minutos para que todos engatem, mas logo a sala está no maior silêncio. Cada pessoinha ali escrevendo, criando seus mundinhos, e eu fico parada, olhando.
Acho bonito. Me divirto.

É uma delícia escrever e criar histórias, depois a gente fica adulto e não faz mais isso. Que pena.

Post relacionado: dia de literatura.

ATUALIZAÇÃO:
A Clélia fez um comentário tão lindo e rico, tão bacana e generoso, enfim, tão Clélia, que eu fiquei com vontade de colocá-lo aqui.
E como nessas horas o melhor é obedecer às nossas vontades... aqui vai.

Aproveitem!! Papa finíssima!


Lu,

Como a Vivien, também adoro seus relatos! E este último remeteu-me a Gabriel García Márques...

Em setembro de 99 (lembro-me a data, pela dedicatória), comprei um livro pro Arnaldo, com a intenção de incentivá-lo a escrever: "Como Contar um conto" – Oficina de roteiro de GGM [Casa Jorge Editorial, 3ª edição, 1995]. Nas orelhas, escritas por Eric Nepomuceno (tradutor do livro), as palavras:

"Todo escritor tem suas manhas e suas manias na hora de construir uma história. Esses truques de equilibrista, pequenos segredos que se dissolvem nos caldeirões da escritura e dão sabor único aos grandes cardápios literários, costumam permanecer ocultos aos leitores. (...) Pois bem: neste livro você vai poder desfrutar de um privilégio raro. Vai acompanhar o trabalho de um dos maiores narradores do século - o colombiano Gabriel García Márquez - junto a um pequeno grupo de roteiristas. (...) Resultado: no final do livro, você terá convivido durante alguns dias com um escritor que sabe, como pouquíssima gente, arrancar histórias de quase nada. Uma imagem, uma frase, uma situação: ele não precisa mais do que isso para erguer suas narrativas."

Na Introdução, escrita por García Márquez, uma passagem qu’eu acho incrível...

O enigma do guarda-chuva

(...) A coisa mais importante deste mundo é o processo de criação. Que tipo de mistério é esse, que faz com o simples desejo de contar histórias se transforme numa paixão, e que um ser humano seja capaz de morrer por essa paixão, morrer de fome, de frio ou do que for, desde que seja capaz de fazer uma coisa que não pode ser vista nem tocada, e que afinal, pensando bem, não serve para nada? Algumas vezes acreditei – ou melhor, tive a ilusão de estar acreditando – que ia descobrir, de repente, o mistério da criação, o momento exato em que uma história surge. Mas agora acho cada vez mais difícil que isso aconteça. Desde que comecei a dirigir estas oficinas ouvi inúmeras gravações, li um sem-fim de conclusões, tentando ver se descubro o momento exato em que a idéia surge. Nada. Não consigo saber quando isso acontece. Mas nesse meio tempo, tornei-me um viciado no trabalho coletivo. Esta coisa de inventar histórias em grupo, coletivamente, virou um vício. Dia desses, folheando uma revista Life, encontrei uma fotografia enorme. É uma foto do enterro de Hiroíto. Nela, aparece a nova imperatriz, a esposa de Akihito. Está chovendo. Ao fundo, fora de foco, aparecem os guardas com suas capas brancas, e mais ao fundo ainda, a multidão com guarda-chuvas, jornais e pedaços de pano na cabeça; e no centro da foto, totalmente vestida de negro, com um véu negro e um guarda-chuva negro, aparece a imperatriz, num segundo plano, solitária e muito magra. Vi essa foto maravilhosa e a primeira coisa que me veio ao coração foi que ali havia uma história. Uma história que, claro, não é a da morte do imperador, a que a fotografia está contando, mas outra: uma história de meia hora. Fiquei com essa idéia na cabeça, e ela continuou lá, dando voltas. Já eliminei o fundo, me desfiz completamente dos guardas vestidos de branco, das pessoas... Por um momento, fiquei unicamente com a imagem da imperatriz debaixo da chuva, mas logo descartei também. E então, a única coisa que me ficou foi o guarda-chuva. Estou absolutamente convencido de que existe uma história nesse guarda-chuva. Se a nossa Oficina tivesse uma finalidade diferente da que tem, eu proporia a vocês que partíssemos desse guarda-chuva para tentarmos fazer um longa-metragem. Mas nosso objetivo são os filmes de meia hora. Tenho a impressão de que, de um jeito ou de outro, vamos acabar encontrando o tal guarda-chuva no caminho. E quero deixar bem claro que não vou criar nenhuma armadilha para forçar esse encontro... (...)

[extraído das págs. 14 a 16]
Depois dele, outro livro, da mesma Oficina de Roteiros, me atraiu pelo belo título: "Me alugo para sonhar" [Casa Jorge Editorial, 2ª edição, 1995], com prefácio & comentários de Doc Comparato, tradução de Eric Nepomuceno.

Eis o trecho inicial:

PREFÁCIO

Em latim as palavras "inventar e "descobrir" são sinônimas. Aliás segundo Aristóteles a multiplicação destes dois verbos teria como resultado o ato de "recordar".
Se não existem invenções ou descobertas, só recordações, o criar torna-se, com efeito, um admirável exercício da memória. Um incansável esforço do lembrar.
Esta hipótese seria apenas curiosa se não fosse também verdadeira. Pois um dos efeitos mais perturbadores do ato de criar é aquele que nos dá a sensação de que não estamos descobrindo nada de novo, somente resgatando algo esquecido.
O talento da criação estaria, portanto, na maneira que utilizamos para revelar aos outros este algo, esta estória, uma vida, saga ou percepção, que sempre existiu, mas que de alguma forma oculta foi esquecida pela humanidade. Ficou adormecida sem emocionar ninguém.
E é exatamente o que você encontrará neste livro: uma jornada cuja missão é o ressuscitar da verdadeira estória de uma enigmática mulher, Alma.
A investigação é realizada por vários profissionais da escrita, cada um deles levando a bagagem dos instintos, emoções e das sensibilidades, mas acima de tudo a capacidade de imaginar. (...)

Acredito que isso tudo tem muito a ver com as suas aulas... Conhece estes dois livros? Procure-os...

Bjo gde,
Clélia

Outros links:

http://www.submarino.com.br/books_productdetails.asp?Query=ProductPage&ProdTypeId=1&ProdId=16246&ST=SR
http://www.opovo.com.br/opovo/vidaearte/676398.html

http://www.submarino.com.br/books_productdetails.asp?Query=ProductPage&ProdTypeId=1&ProdId=47618&ST=SR
http://www.releituras.com/ggmarquez_sonhar.asp
http://pphp.uol.com.br/tropico/html/textos/2642,1.shl

12 de Maio de 2007 06:38

Clelia Riquinho.