quarta-feira, 29 de agosto de 2007

desiderar

(revirando arquivos antigos, achei um trabalho que escrevi quando estava no terceiro colegial, sobre amor e desejo, para o curso de filosofia. Resolvi colocar uns pedaços dele aqui. Não coloquei notas de rodapé à época, mas tenho a impressão que minha maior fonte de consulta foi a coletânea O Desejo, organizada pelo Adauto Novaes)





Em Roma, o ato de contemplar os astros, ou o espaço sideral era chamado: "CONSIDERARE". "SIDERIS" quer dizer Estrela, ao passo que "SIDUS" é o nome dado aos astros na linguagem dos adivinhos romanos. Os adivinhos eram pessoas que observavam os astros e através de seus passos percebiam os passos da vida humana, podendo assim prever seu futuro.

No entanto, havia aqueles que, descrentes, desistiam de "considerar". Em Roma, quando um homem já desesperançado, miserável, mal mesmo, desistia de contemplar os astros, e passava a olhar para si mesmo, o verbo mudava. Nasce a palavra "desiderare", que significa algo como "a curtiçåo da ausência. "Desiderium" significa, sobretudo, Perda, ausência, falta. Quando se priva de saber sobre o futuro e cai-se na roda da incerteza, dessa roda, nasce o desejo. Desiderar é buscar um preenchimento de algo que seja palpável, ansiar, apetecer, ser atraído, pelas coisas da Terra. É sobretudo, o abandono da contemplaçåo. Do Verbo desiderar, nasce o substantivo DESEJO, O HOMEM PASSA A CRIAR SEUS PROPRIOS PASSOS, os quais seguem o caminho que ele mesmo criou.





Olhem o final, como o trabalho acaba.
Eu achei tão adolescente, e tão bonito, que fiquei até emocionada, e resolvi colocar aqui:


O Homem precisa daquilo que lhe escapa. É necessário, mesmo nos tempos mais racionais, de menos estrelas, viver a experiência do sublime, do incontrolável. Um homem precisa ter a sorte de ser carregado, de criar asas e sair voando, pelo menos uma vez na vida. O contrário significaria muitas dor, nas pernas.
O pensador contemporâneo tenta hoje entender as leis do amor, assim como outrora tentaram entender as leis celestiais... É o homem buscando o controle daquilo que o controla. Daquilo que suas mãos não pegam, que é brilho e luz puro.
O amor e as estrelas colocam o homem no seu devido lugar. Fazem o bicho homem viver que nem gente. Não há bicho que pare pra olhar as estrêlas, não há bicho que conheça o amor. As estrelas mostram ao homem sua pequenês e falta de brilho físicas. O amor lhe mostra sua pequenês e falta de brilho espiritual. Em ambos os casos, o sugerido é a busca. Não somos tão belos assim e isso permite que vivamos a sorte do pardal que é marrom e canta mal. Os pássaros vistosos foram todos presos ou estão em extinção. O Universo, e o Amor são provas concretas da existência de mais, prova de que pecisamos, precisamos. Não por luxo, mas por necessidade. É uma alegria poder ver as estrelas e pensar que, se a terra explodir, não vamos saber tanta falta assim. É um alívio poder se apaixonar, ver estrela, e viver feito gente.





Enfim... essa era (é) a lulu, aos dezessete.








E atenção:
não percam a semana Shakespeare que ele está fazendo aqui. Um must total, vão lá.

4 comentários:

  1. Às vezes, penso que só eu reconheço o Felipe como um extraordinário escritor e articulista. Fico feliz de que tenhas chamado atenção de teus leitores.

    Beijo.

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  2. Pô pessoal, desse jeito vocês vão me deixar constrangido... ou muito mais metido.

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  3. Lulu: que lindo! vou deixar rastro seu no meu blog hoje!
    abç

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  4. Milton,
    pois é, o Felipe Amorim é o máximo mesmo. Impressionante.


    Marta,
    obrigada!!

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