quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

E como a gente faz?

E como a gente faz com aqueles dias em que nada, nada, parece dar certo, quando parece não haver lugar no mundo onde se caiba, quando tudo é duro, doído e do contra, como a gente faz?
Eu respiro, e espero que passe.
passa. Mas às vezes demora. E um dia para passar é muito tempo.

terça-feira, 27 de fevereiro de 2007

e aí nada.

Na sétima série, estamos lendo e escrevendo crônicas. Das grandes, Drummond, Bandeira, Clarice, e do hiper ultra plus ultra do Rubem Braga. Adoro crônicas, depois do Monteiro Lobato, aprendi a gostar de ler lendo crônicas. Sabia o Para gostar de ler de cor, tinha um com uma capa que era um pintinho que é uma das minhas memórias mais queridas.

E a garotada, além de ler, tem que escrever crônicas também. E o exercício para os alunos da sétima, é o grande e dificílimo exercício de olhar para fora.

- Como assim?
- É que para escrever crônicas, pessoal, tem que olhar para o mundo e prestar atenção, nas pequenas coisas, nas pessoas, nos que as pessoas falam e como elas falam. Essa é a lição de casa, olhar para fora.
- Como assim?
- Vocês pegam e vivem, normalmente, como vocês fazem sempre, só que prestando atenção. Peguem até um caderninho, para anotar as coisas que vocês acharem legais. Tem que observar. Os bons escritores são, sobretudo, bons observadores. Vão lá, todo mundo olhando para fora. Aula que vem cês me contam.
- Tá.

Na aula seguinte...

- E aí pessoal?
- Aí nada. ( a classe inteira, parecia ensaiado)
- Como assim e aí nada?
- Aí nada. Num tem nada de interessante que aconteceu comigo.
Comigo também não!
Comigo também não...
Minha vida é uma chatice.
A minha também, a minha também! A minha é mais chata!! Não, a minha é que é!!!! ( balbúrdia total)

A competição foi estabececida e depois de ter ficado absolutamente claro e nítido que ali só havia tédio e sem gracisse e que todos levavam uma vida que era basicamente a mais sem graça de todo o mundo mundial, universo e galáxia, em todos os tempos, pude voltar a falar.

-Não gente, tá errado.
-Errado?
- É.
- Ah, num é nossa culpa que na vida não acontece nada!!!
- Errado. Claro que acontece. Cês acham que acontecer algo é viver um furacão? Ir para Paris? Ser chamada para fazer um filme? Dirigir na fórmula 1?
- éééééé!!!!!!!
- E o encantamento com o mundo?
- Quê?
- O encantamento com o mundo, gente. Cês tão muito blazês. Uns chatos.
- Blazês? Que qué isso? ( entre si: Ela chamou a gente de chatos? )
- Blazê é esse povo que fica fazendo tipo e acha tudo sem graça. Eu, heim? Outro dia, tava conversando com um amigo que falou que num se impressionava nem se perturbava com nada. Que a pessoa podia chegar para ele e falar que tinha transado com um macaco e ele num ia ficar impressionado.
- Transar com um macaco!! hahahahaa (os meninos). Creeeeedooooo (as meninas) .
- E eu falei assim para ele: eu heim? já pensou, num se impressionar com nada na vida? Que coisa mais chata... E ele me explicou melhor: não... eu não me impressiono, mas me comovo. Me comovo com o mundo, com a pequenas coisas do mundo, com as pessoas, os pequenos acontecimentos mais simples. E eu fiquei aliviada, porque esse amigo é muito legal, e eu sabia que era assim. Todo mundo a nossa volta é muito mais interessante que os grandes acontecimentos, gente. Basta vocês observarem. Vocês não precisam contar coisas impressionantes, essas geralmente são as mais sem graça, basta contar coisas. A vida é uma maravilha não no atacado, no atacado é uma porcaria, é no varejo que é legal.
- Hum?
- Se você for ver assim a soma de todas as coisas, acho que o saldo é mais negativo que positivo, assim, no mundo... mas no dia a dia, acontecem várias coisas legais, ou comoventes, ou mesmo ruins, pequenas e grandes, às vezes, mas que fazem desse negócio que é viver uma coisa legal. Não são os grandes acontecimentos, gente, não é o dia do casamento, é todos os dias do viver junto.
- Hum????

e uma menina levanta a mão:
- Professora, essa aula tá meio EMO!!! ( riso geral)
- Tá, me calo. Conta, o que você fez ontem?
- Nada ué...
- Não, alguma coisa você fez.
- Eu briguei com a minha irmãzinha.
- e aí?
- Aí a gente tava brigando e eu falei que a culpa era dela. E ela falou: a culpa num é minha, a culpa é da minha tatatatatatatatataravó, que começou tudo e eu vim parar aqui!!
Uma louca, essa minha irmã.

- E você?
- Eu olhei pela janela.
- E aí?
- Aí eu fiquei olhando o prédio da frente. E vi um monte de apartamentos. Um monte mesmo. E me deu um vazio. Sempre me dá um vazio, quando eu olho os apartamentos da frente.
( a amiga:)
- Eu adoro quando me dá um vazio!! me sinto tão bem....
- Ai credo, você é louca né? ( a classe inteira)
Ela responde, jogando os cabelos para trás:
- Ai gente, vocês é que são muito superficiais ( menina adolescendo, eu vivia me saindo com essa também) ... é tão bom o vazio... dá uma paz...

- E você, Lá?
- Eu?
-É. o que aconteceu na sua vida?
- Tem um hominho lá no meu prédio....
- Pronto!! Fala do hominho!!
- Tá louca? Que que eu vou falar do hominho?
- Ué... num sei, mas se você falou que ele existe é porque deve ter alguma coisa.
- Não!! é um hominho, e um dia a gente tava lá, e minha mãe começou a apagar e desligar a luz da sala, tipo para ficar estroboscópica, porque ela é meio louca, a minha mãe.
- Sei.
- E aí, os meninos do apartamento da frente, uns meninos que semrpe tão lá no apartamentos da frente, começaram a apagar e acender a luz deles também.
- E aí? ( todos queriam saber)
- Aí nada, gente. Eles ficaram rindo, e pegaram um papel e escreveram oi, e a louca da Ju gritou oi de volta. e a gente se escondeu e teve um ataque e riso.
- Você ficou meio apaixonada?
- Ai professora, você é louca mesmo, né?

- Hum... acho que sim. mas não por isso.
- ih.... ( todos pareciam suspirar e pensar: essa aula emo vai longe...)


crise, não importa qual, você ainda vai ter a sua

e aqui vai o momento crise da minha amiga Caki, diretamente de Noviorque. Ela me escreveu por e-mail e eu pedi para publicar, para que fique claro que os problemas da vida são infinitos,e ninguém, nunca, tá satisfeito, anyway!! :)
beijucas a todos,



Lu,

Sabe,eu tava conversando com o Anthony (meu marido americanne) sobre seu
post momento mulherzinha, "a difícil vida das mulheres" e comentei que há
muitos anos não tenho um destes momentos. Talvez sejam os onze anos de
terapia, talvez seja pelo fato de que desde que vim para NY eu vou a
academia quase todos os dias e o meu corpo virou essa coisa meio Madonna
como diz minha amiga. Ou talvez seja por que sou brasileira entre poucos, o
que gera mini comoções e todos me acham linda de cara. Mas longe de
triplicar minha auto estima eu percebi que ainda vivo momentos mulherzinha
de outra forma. E o diálogo com o marido é assim:

- Eu achei que você estava gostando do seu trabalho novo.
- Não sei... Não é criativo como o anterior.
- O anterior te dava um cheque "simbólico" e você trabalhava até altas
horas.
- Mas eu tinha liberdade criativa.
- Você quer o emprego perfeito, liberdade criativa de uma artista,
pagamento e horário de muiltinacional.
- É...
- Você estava feliz quando trabalhava na Vogue?
- Sim e não. Era legal, mas o salário, as horas, o stress.
- Tá vendo você nunca tá feliz.
- É que eu não faço nada pela sociedade, todo trabalho que eu arranjo é só
sobre vender, vender, vender. Vender revista, vender bolsa. Quantas horas
da minha vida eu não passo retocando bunda de modelo? Ou fazendo as bolsas
de 2 mil dólares parecerem que valem dois mil dólares? Minhas amigas todas
são juizas, professoras, psicólogas.
- Você sabe que poderia ficar sem trabalhar um tempo, agente tem uma boa
situação...
- Eu ficar sem trabalhar? Nem pensar! Aí é que eu fico infeliz de vez!
- Desisto.
- Não, não desiste não...
- Tá bom, mas então não stressa com trabalho.
- Tá bom.
...
- Você viu só esta capa desta revista?
- Que que tem?
- Eles bem que podiam ter retocado mais a pele desta menina, ninguém
merece ver pelo encravado assim a luz do dia.


e você? qual foi sua última crise? conte aqui que a lulu publica. depoimentos de leitores são particularmente bem vindos!!

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007

Musas

Sim, vamos ao que realmente importa no Oscar: o vestido das atrizes.

E antes que me chamem de machista, fútil, supérflua, e tal, respondo: vamos combinar, para além do show da coisa, do glamour, status e essa pataquada toda, o que realmente sobra da premiação? Bom gosto? Ousadia? Aulas sobre cinema? Critérios? Bons números musicais? Boas piadas? os comentários do Zé Wilker na Globo? Hummm....

Nenhuma premiação nunca é absoluta, e nunca é unânime, mas das que eu menos levo em consideração como indicação de algo é o Oscar. Tudo é previsível, meio chato, pouco supreendente, enfim, cinemão do cinemão, e na maioria das vezes nem na premiação do bom cinemão a Academia acerta. Mas eu vejo? Vejo, faço apostas, me comovo com os discursos (juro) e tal, mas sei que tudo isso é besteira pura. Chatice mainstream, indústria cultural e etc. Ao meu ver, o cinemão está cada vez pior, cada vez mais voltado para o público adolescente, cada vez mais imbecilizado. Os grandes diretores do cinemão holywoodiano estão em falta, e de fato, nesse ano, nenhum dos filmes indicados tirou meu fôlego, mas já aviso que não vi todos, por isso nem posso opinar muito.

O bom mesmo é olhar os vestidos das mulheres, e vamos a eles:

Categoria Hiper Super Ultra Elegante ai que raiva:


Cate Blanchet

Categoria Estou crescendo e acho que aprendi a me vestir bem:

Reese Whiterspoon


Categoria Sim, morram, vocês outras, mortais:

Nicole.


Categoria A arriscada opção pelas plumas:

Kirsten Dunst
( discreta, achei que ficou bacana)
Adendo: mentira. ficou horrível mesmo, a Caki tem razão. Tinha me dado um ataque de boazisse. já passou.
Penelope Cruz
( ok, e com essa beleza toda, quem vai prestar atenção na tal da toalha felpuda que ela usou para a saia do vestido? )
Categoria das costas poderosas
( porque se até suas costas são tão poderosas a ponto de aguentar num aboa umas florzinhas penduras e um vestido amarelo, é porque você tá bem meeesmo)
Keisha Whitaker
Portia de Rossi
(elegantésima)


Categoria da bunda, ombro e tudo o mais também poderosos:

Ela, a nossa amiga aqui do blog, a Cameron.



Categoria Além de linda tenho estilo e sou bacanésima:

Rachel Weisz

Kate Blanchet

Categoria hum... do que a gente tava falando mesmo?

Shake on it babe, Beyoncé.

Categoria ôps, escorregou um bocado.... :
Anne Hathaway e seu laço de fita.


Categoria Num tô a fins de mostrar minhas curvas:

Jennifer Lopes, escondendo seu lado B.


Categoria não provoque, é cor de rosa choque.
Jessica Biel


Categoria babados:

Jennifer Hudson

domingo, 25 de fevereiro de 2007

por dentro e por fora

Do que as mulheres falam, parte dois:


- Ai, Lu... aí eu tava conversando com ele, via msn...
- com o ...?
- É, que fala "prá mim fazer" e nunca leu um livro... Ele me deixa louca, Lu, num tem jeito, tô me apaixonando....
- Que delícia!! É sempre bom se apaixonar.
- Espera.
- Tá, conta!
- Aí a gente tava comentando nosso último encontro. Eu tava com o corpo, a pele, toda impregnada dele, sabe como é?
- Sei.
- E tava contando para ele, falando assim: você me marcou.
- Ui....
- É, e a gente começou a brincar assim: me marcou nos seios, nas pernas, na barriga, na boca, e talz...
- hihihihihi.....
- E foi então que eu resolvi dar uma de romântica, e criei coragem e disse: pois é... você me marcou, por fora e por dentro...
- ah... que lindo!
- pois é, eu tava toda com medo de dizer coisas assim, por que você sabe, a homada se assusta, neah?
- é, às vezes se assusta... ele se assustou?
- assustou.
- ai meu deus...
- mas pelo motivo errado, péra.
- tá, conta.
- Aí , voltando... eu tinha falado que ele tinha me marcado por dentro e por fora. E com uma revoada de borboletas na barriga, aguardava a resposta. E ele: " Nossa, desculpa..." eu: "por quê? ""por ter te marcado por dentro... eu exagerei com meus dedos em você, lá dentro, né? pô, foi mal se te machuquei... desculpa aí..."
- Quê???
- Juro Lu.... ele achou que tinha me marcado por dentro literalmente, ali, na pirikita, afinal os dedos dele percorreram meu corpo por dentro e por fora....
- hahahahahhaha!!
- e eu ainda me vi escrevendo, em caixa alta: ERA UMA METÁFORA!!!!
- hahahaha!!! e ele?
- ele? ainda escreveu:"ah bom... ufa... que bom!!!"
- Quem mandou, querer ser romântica?
- Eu sei, mas às vezes escapa... ai, ai...
- Eu sei... Hum... Tá, mas agora conta... quero detalhes literais: ele te marcou mesmo?????
- Sim....
- Por dentro e por fora? :o

adendo:

Posto aqui, enquanto penso bastante, o excelente comentário da Brigitte:

há um bom tempo percebi que somos muito preconceituosas, criticamos os meninos por isso, mas nós também somos, do nosso jeito. queremos que as coisas se explicitem nos encontros iniciais...se o cara fala "pra mim fazer" ou "haviam muitas pessoas lá" é porque não pertence ao nosso código linguistico e tudo pode ir por água abaixo, então a reação é desprezo ou no máximo tolerância, e assegurar só o gozo que já tá muito bom.
se o cara é intelectual, sabe das coisas eruditas, várias línguas, jazz, etc., ah! esse aí pode ser sensível, e vamos logo entrando pro enfrentamento do quem sabe mais... e esquecemos de explicar prá ele que na verdade o que queremos é "a coisa na mão e a mão na coisa", na boca, etc. depois vem o susto, putz, o cara não sabe que mulher também pensa sacanagem...
Meninas, nada está definido numa relação entre duas pessoas vivas, nada, nunca... tudo pode acontecer, e o inusitado, a novidade, a diferença, o encontro da semelhança na coisa mais improvável é que vale a pena perseguir. essa é prá vc lua_adversa... menos expectativa, mais paciência com o que o outro não sabe.

e sim... o moço foi fofo. okay, sem mim ou com mim fazendo, abalou profundamente o coração da minha amiga e foi um cara legal, mas continuo achando a confusão engraçada, e sei ele achou também, e riu também, por isso postei aqui.
e conhecer os pensadores, jazz e talz, de fato, num quer dizer nadica de nada.

ai... viver é complicoso.

beijocas a todos e todas,
Lulu.

sábado, 24 de fevereiro de 2007

Motivo de xoxota

Aconteceu. De verdade, fonte segura.

São Paulo, uma conhecida escola particular, a classe uma zona, zoam com o professor. O tal, bravo, consegue o silêncio e atenção dos alunos, que ouvem a bronca que lá vem:

- Porque eu não quero virar motivo de xoxota!!

Virou.
Motivo de xoxota; na classe, no colégio, na cidade inteira, para todo o sempre.


(com agradecimento para a minha querida L. , que foi quem me contou e é uma das inspiradoras da "categoria" dicionário da lulu).


Leia também: o nome Dela.

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

como assim?

Aí um super amigo meu, melhor amigo desde a adolescência, que tem pós doutorado, passou um tempo na França, lê grego, é professor universitário coisa e tal, achou meu blogue. Na verdade eu tava enrolando para mostrar para ele, mas um dia não agüentei, comentei que o blogue existia, e ele achou. Achou, começou a ler e, bastante aflito, ligou lá em casa:

- Eu num tô entendendo...
- O quê você num tá entendendo?
- É ficção ou realidade? Porque você começa a falar de Curitiba, e eu começo a procurar o Bolinha, e o Bolinha num aparece, e eu num sei do que você tá falando.... e aí eu comecei a ficar aflito e aí... num tô entendendo...
- É um blogue, é meio ficção, meio realidade. Sei lá o que é...

- Hum... Mas... assim.. eu num tô vendo uma linearidade!!! Eu num tô entendendo... é meio desconexo!!
O Bolinha, já morrendo de rir:
- Isso é o mal de um marxista convicto, o cara é incapaz de entender a pós modernidade. É uma coisa fluida, é assim um multi texto pós moderno, que vai e que vem... um hiper texto, você tá muito ultrapassado...
- Ué... mas como assim? eu tô lendo um atrás do outro.... fica meio desconexo... é legal, mas tá quebrado.
Eu, já mais sem paciência:
- Pede para tua filha te explicar que ela te conta.
Depois, com mais paciência...:
-Não... num tem uma linearidade, não é para ser um texto corrido, que você lê de uma vez só. Não é um livro, é um blogue.
- Mas... e as categorias que você coloca ali?
- Que categorias???
- Ah.. sei lá... o momento mulherzinha....
- Ah! Num são categorias, assim, do tipo categorias kantianas!! São só um jeito de arquivar os posts... mas uma coisa não tem que ver com a outra...
- Posts?
- É.. são.. tipo crônicas, sei lá.
- Tá... tô achando muito bom, mas num tô entendendo direito, mas tô lendo, vou ler tudo.
- Num precisa ler tudo, lê aos poucos...
- Tá, vou ler tudo.

No dia seguinte....

- Muito bom.
- Obrigada.
- Eu entendi. Não são crônicas, são tipo assim.. impressões do mundo.
- Isso!!
- Tá legal mesmo, principalmente os momentos mais rés do chão, são ótimos.
- Que bom, obrigada!
- É , você tá escrevendo muito bem.
- Obrigada!!
- Hum... Quem é o menino que te ligou chorando?
- Um amigo meu...
- de onde?
- Da internet...
- COMO ASSIM?????
- Um amigo meu da internet....
- Você tem amigos da internet? - ele tava ficando nervoso, dava para perceber.
- É, tenho, um monte.
- COMO ASSIM?
- Ué...
- E ele tem o telefone da sua casa?
- Tem , ué. A gente é super amigo.
- LU!! PÁRA COM ISSO!!
- Ai, ai... você é muito careta.
- mas.. como assim? e de onde você o conhece?
- Do orkut, a gente participava de comunidades comuns e acabou ficando amigo, ué. normal...
- Normal?
- É, normal...
- COMO ASSIM?????? Eu num tô entendendo...

ai, ai....

( beijos, meu amigo querido!!!E obrigada por me ler sempre, ao longo da vida. )

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007

Uma receita legal

Principalmente pelo estilo, com Miojo. Aqui.

Quer dizer, eu não vou fazer, mas vale a pena ler. E quem fizer que conte!!
beijos,
lulu.

Cinemas de rua

E se no carnaval você foi pelo terceiro dia consecutivo ao cinema, às três da tarde, e assistiu a um filme do Cassavetes fenomenal, e reencontrou, ainda, seu cinema de rua predileto?
Um cinema de rua, como todo cinema devia ser, que é tão legal, mas tão legal, que dentro, tem um bar, que é esse:



e nesse bar, as pessoas podem sentar, tomar um café, beber algo, fumar um cigarro até, e assistir o filme, ali, sentadas em uma das mesas. Sim, fui ao Cinesesc, o cinema mais legal de São Paulo.

É, estava um clima meio assim.
Ou pelo menos eu inventava um clima assim, o que dá quase no mesmo.








E antes de me embalar e ser embalada pela louca da Malde, Uma mulher sob influência, de ficar presa na cadeira, estatelada e tomada pela excelência da interpretação da Gena Rowlands, nesse grande filme, dos mais impressionantes que já vi, sobre a loucura de uma mulher e da família burguesa, do casamento, amizade e tesão, lembrei da minha história nesse cinema, e fiquei lembrando do quanto da minha história se passa nos cinemas da cidade.

Lembrei que quando era criança minha mãe me levava a um cine-clube no bairro do Bixiga, acho que chamava Cineclube Bixiga, e lá eu vi um filme do Charlie Chaplin pela primeira vez. Lembro de ter achado tudo o máximo, a ida ao cinema, um monte de gente vestida de jeitos diferentes, e na entrada, havia uma câmera de filmagem, linda, enorme, mágica, da qual nunca me esqueço. A sala era pequena, a gente ouvia o rodar da fita, era lindo.

Lembrei de um outro lugar, para onde ia primeiro pelas pernas da minha mãe, e depois por pernas próprias, o Cineclube Bijou. Lá eu vi Dersu Usala, um dos filmes mais impressionantes da minha vida, vi ainda criança, e nunca me esqueço.

Lembrei de um primeiro namorico meu, que terminou numa sessão de cinema no cinema Marabá, no Centro. Assistíamos Dança com lobos, eu que ia terminar tudo, estava meio triste, meio incomodada, lembro da tela enorme, das poltronas daquela sala gigantesca, da platéia já quase sem ninguém. Me mexia sem parar, não me achava na poltrona porque não me achava em lugar algum.

E quando estava no colegial, pegava um ônibus para voltar da escola e parava , toda quarta feira, na frente do Belas Artes, via os livros dos sebos, dava um pulo na Livraria Belas Artes, e entrava na sessão, qualquer sessão, era a sessão das quartas feiras, no Belas Artes.

E lembrei do Cinesesc, onde vi Morangos Silvestres, do Bergman. Onde vi Através das Oliveiras, do Kiarostami, onde vi Quanto mais quente melhor pela primeira vez, primeira de inúmeras. E o cinema estava lá, enorme, a tela enorme, como um cinema deve ser. O bar estava lá, e na minha frente o milagre de um grande filme se operava.

E depois, ao sair na rua, o bafo quente do calor paulistano, a cidade voltando ao seu normal, de poulição e gentes, o trânsito, a rua.

O cinema não é o mesmo sem essa experiência da saída para a rua, do choque entre a sala escura e o mundo e o céu, entre os cheiros, os barulhos. Não há nada que me irrite mais do que sair da caixa escura que é a sala do cienma e dar de cara com a caixa iluminada, condicionada, ilhada e mal cheirosa que é a caixa shopping.

Não, ir ao cinema é uma experiência de vida, e não há nada como entrar da rua para a sala de projeção, e depois sair meio tonta de um grande filme, e respirar o ar das ruas. E ver tudo diferente, porque grandes filmes bons, e isso é que são bons filmes bons, fazem a gente ver o mundo de modo diferente.

E as salas de cinema, as poucas sobeviventes que ainda guardam seu espaço nas ruas, cheias de personalidade e estilo, são personagens não só da cidade, mas de nossas vidas também. Viva o cinema, viva o cinema de rua.

mulheres

Por Edward Hooper.









terça-feira, 20 de fevereiro de 2007

mas... a difícil vida das mulheres

-Pára de se achar o cocô do cavalo do bandido.
- mas, mas, mas...
- Mas nada! Chega, você é maravilhosa, eu fico te elogiando, e parece que você não acredita.... Enche, de verdade. Acredita mais em você.
- Mas...
- Mas nada. Nós somos falhos, Lu, porque somos humanos. Ninguém é super herói, super herói num existe. Você queria ser perfeita.
- É... queria...
- Você queria ter a beleza da Gilda (não da Rita Hayword, a Rita Hayword é pouco para você, você queria ser a Gilda), a inteligência da Hanna Arendt, a sensualidade da Anaïs Nin...
- É!! - toda animada- a Anaïs Nin não sei.. achei meio chatos os contos eróticos que ela escreve...
-Ai lu... você é uma louca. Pois é, isso não existe, não existe ninguém assim, você ia virar um Frankenstein, um monte de pedaços, e ia deixar de ser você. Você é maravilhosa, toda essa insegurança cansa, eu não entendo...
- é que eu ando feia, chata, gorda...
- sim, de repente, você acorda um dia, e decide que tá feia, chata e gorda, sendo que no dia anterior, tava linda, legal e gostosa.
- É... acho que é meu cabelo.. ele que estraga tudo...não se ajeita mais.. .você reparou? ele anda horrível...
- Seu cabelo tá como sempre. Acho que é sua cabeça maluca. Uma vontade que você tinha de não precisar fazer nada e tudo ficar perfeito automaticamente.
- É....
- Enche.
- Tá.
- Eu num entendo, juro... Não precisa ficar tão infeliz com você mesma....não faz sentido.
- Ninguém entende as mulheres.
- Nem as mulheres entendem as mulheres.
- É...
- Por isso que tá todo mundo virando viado! Não é uma questão de tesão só, é porque vocês são muito complicadas!!!
- ai... isso é uma ameaça?
- Olha lá, heim? - rimos. ele me faz rir.
- tá. sou linda...
- é mesmo.
- tá. sou mesmo, vou ficar menos louca, tá? juro.
- por favor.
- tá...
- hm...
- é que...
- o quê?
- cê viu o corpo da Juliana Paes na tevê? geeente. que corpo era aquele? ( bico) ...
- ai, ai... - e ele olha para cima e dá um suspiro.
- ai, ai... suspiro também... e dá-lhe iogurte diet.





p.s: sobre o tema, leia também instruções. ou dê para seu namorado ler.
e para nós, ataquezinhos de insegurançazinhas. bão também....

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2007

mitômano

De brincadeira, e inspirada pelo Bia, encarei a proposta da Revista Piauí, e escrevi um continho com a frase: Mas Alice, eu já disse que não sou um mitômano.
Meu exercício ficou assim:


Todo dia

Mitômano... droga, que porra é essa? O filho da puta fica repetindo toda hora que não é isso. Ontem, encheu os pulmões e gritou: mas Alice, eu já disse que não sou um mitômano! E eu com isso? E que porra de mania essa de ficar usando esse tipo de palavra chata e esnobe. Outro dia veio com outra, falou que nem tinha uma ontologia mitômana, quanto mais ser a coisa em si. Ora, vá se fuder. Eu digo para ele: você delira. Você é um louco alucinado, com mania de grandeza, que delira sem parar. E sabem o que ele responde?

Mas Alice, eu já disse que não sou um mitômano.

Puta que pariu...


segunda-feira, feriado

HAHAHAHAHA!! Porque hoje é segunda feira e a semana não começou.É quase uma vingança. E a cidade está vazia, sem vivalma, e São Paulo sem trânsito e sem gente até faz a gente crer que, talvez, a cidade seja viável.
Que delícia!! E como bônus, não tem nem aquela melancolia clássica do domingo à noite. Uma maravilha. E sabem o que eu vou fazer? vou ao cinema, às duas da tarde, porque hoje é segunda, e eu posso.

domingo, 18 de fevereiro de 2007

sobre o ótimo uso do computador

aí é de madrugada. Eu fico no escritório, escrevo. Só, gosto de escrever de madrugada, sozinha, no silêncio. A gata aparece no escritório, ela sempre vem ficar onde eu estou. Ela é quem melhor aproveita o computador na casa. De um salto, se acomoda sobre o monitor e fica lá, no quentinho. Sim, ela dorme em cima do monitor, enquanto trabalho. De vez e quando acorda e levanta a cabeça, para checar se está tudo certo comigo.




Eu digo que tá tudo bem, que é para ela ficar tranqüila, que logo meu sono vem, e a gente pode ir junta para a cama, explico que para mim, ao menos, lá na cama é um pouco mais confortável, embora deva ser realmente bom ficar em cima dos furinhos do monitor, por onde sai um arzinho quente. Se você usasse saia, digo para ela, sua saia talvez levantasse. De qualquer jeito, parece que o sono não vem, então ficaremos nós duas por aqui mais um pouco.


Ela se enrola três vezes, responde: tudo bem então. Vira uma bolota de pêlos, e dorme, enquanto eu escrevo, e nós duas, juntas, atravessamos a noite. De vez em quando ela acorda, me olha, e eu repito: tá tudo bem, pode ficar aí, eu tô aqui.
E ela fica, ficamos.





leia também: Insônia.
Nomes de bichos.

sábado, 17 de fevereiro de 2007

Esplêndida

Fiz esse texto a pedido do meu amigo Dionísio, que dirige e toca, junto à Companhia Satélite, o projeto Os dois lados da Rua Augusta, contemplado pelo Programa Municipal de Fomento ao teatro para a Cidade de São Paulo.
Um texto sobre a Rua Augusta, para ser publicado na quarta edição do jornal O satélite, parte do projeto.
O texto saiu, médio, o jornal saiu, bacana, mas meu texto, além de médio, saiu sem o final, então o publico aqui, inteiro, já que no jornal tem o endereço do blog. Se algum desavisado vier parar aqui, fica sabendo que o último parágrafo foi cortado, e o conto inteiro é esse. Fico cheia de vergonha, porque não é um super texto, mas gosto do título, Esplêndida, que é também o nome da heroína. Como no carnaval ninguém lê blog mesmo... aí vai:

Esplêndida

Esplêndida de Albuquerque Bulhões Magalhães sempre soube o que queria quando fizesse dezoito anos e, desde os nove, se preparara para aquela viagem escondida. Economizava cada centavo, ensaiava os atos, decorava o itinerário, repetia com cuidado cada passo e cada fala e havia sonhado e imaginado tudo tantas vezes que era como se houvesse já vivido aquilo. De cor e salteado, uma coreografia internalizada a tal ponto dela não precisar mais nem pensar, como uma fala decorada por um ator, que depois de um tempo deixa de ser uma fala decorada e passa a ser uma fala que flui e nem se sabe mais de onde.

A Rua Augusta era parte dela, e ela era parte da Rua Augusta. Desde pequena havia sido assim, quando, aos nove anos, ouvira pela primeira vez sua primeira canção do Roberto. E agora fora seu último aniversário, ganhara maioridade e havia chegado o momento de, finalmente, se conhecerem. Ela sabia que seria bíblico e sublime, e mal contendo o prazer antecipado, se preparava, com todo cuidado.

O dinheiro da passagem de ônibus, tão cuidadosamente guardado em baixo da cama, sem que ninguém percebesse os centavos que sempre faltavam dos trocos, do dinheiro contado para o leite e para a carne. O dinheiro exato de uma passagem de ida: Pirapora, São Paulo. Mais o dinheiro do metrô e ela decorara as baldeações, conhecia tão bem o caminho a ser feito que, se ficasse cega, suas pernas andariam sozinhas. Nem queria saber da Avenida Paulista, saltaria na Consolação e iria direto a sua Rua Augusta. O carro a estaria esperando lá, o Maverick alugado por uma hora, era suficiente, o moço pensou que era para um comercial, ela soube explicar tudo direitinho, daria uma boa atriz, a menina.

Colocou em sua malinha dura e antiga o vestido cuidadosamente passado, igual ao ela vira no filme, a saia rodada com uma combinação de renda quase aparecendo, um cinto justo que marcava a cintura fina, mais fina que a da Marta Rocha, embora seu quadril fosse maior ainda. Luvas, tiara, sapatinhos combinando, em ritmo de aventura. Batom, rímel e cílios postiços, porque era assim que se usava na época.

Saiu de casa, sem contar para ninguém para onde iria, nunca nem tinha atravessado a rua do fim da sua cidade, e não tinha também dinheiro para a volta, mas nada daquilo importava. Sua garganta sufocava quase, de alegria e antecipação. Não precisava da autorização nem da ciência de ninguém, iria sozinha e era agora.

Saltou do ônibus, entrou no banheiro da rodoviária, um real, ela já sabia, e se vestiu cuidadosamente. Estava idêntica à moça do filme. A mala velha ficou ali mesmo, assim como suas roupas antigas. As pessoas a olhavam com simpatia, davam risinhos, ela retribuía com seu sorriso mais gentil. Tirou as luvas para pegar em sua carteira cigarrete o troco exato para o bilhete do metrô, fez as baldeações sem nem precisar olhar o mapa, desceu na Consolação e lá estava o carro a esperando.

Tomou a direção e aquela menina nova desceu a Rua Augusta a cento e vinte por hora, com carro sem farol e sem buzina, envenenado, envenenada, acenando para o Alfredo e para o Johnny, parte da gangue, sem medo. Aquela menina nova parou na contramão, e foi feliz.

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007

cuidar de si

Vixi!! E parece que outro dia acabaram as férias e agora parece que não podia vir em hora melhor, um feriado, cheio de cinema, escritas, causos e coisas para contar. Porque esse negócio de trabalho diário cansa, é legal, mas cansa, e gente é difícil. Meu trabalho é lidar com muita gente, e cada adolescente vale por mil, hoje um chorou... outro desabafou, outro me deu um presente:
-tó .
-que é isso? - era uma pintura -
-Fiz prá você nas férias. tchau.
Eu corri e falei:
- obrigada, adorei!
Ele correu mais, com um sorrisinho no rosto.

Sendo professora você tem que tomar mil decisões por minuto, eu fico sempre confusa, me divirto muito mas canso à beça também.

Tô contente com o feriado, com meu carnaval quietinha, em casa, com os livros, namoros, amigos, a gatinha. Gosto de ficar comigo mesma, adoro, não me temo e tenho cuidado bem de mim. É bom. É bem gostoso, cuidar de si.

Se cuidem todos, e aproveitem.

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007

carnaval: propaganda enganosa?

Uma amiga minha, em outro lugar, falou assim:

No carnaval, detesto ver um bando de gente moralista dando aquela reboladinha "autorizada".

A Caki, ótima, chamou a globeleza de maior tradução do apelativo, e mais: o carnaval, de maior propaganda enganosa do país (até roubei a expressão e coloquei no título), já que fica todo mundo achando que somos liberais e liberados, mas num é bem assim, com todo fio dental e micro calcinhas do universo, basta uma menina mostrar os peitos em Ipanema que a praia inteira vem abaixo. E basta a outra dar muito, ou falar que gosta da coisa, para ser tachada de puta, galinha, e tal. E a outra transar na praia com o namorado, para causar escândalo nacional (tudo bem todo mundo comentar, o problema é as pessoas se escandalizarem) .

E sim, todos jogamos pedras na coitada da Geni. Ou não?

Por outro lado, toda essa fama gera problemas, especialmente para as meninas no exterior que logo não só têm que dar uma sambadinha básica, mas também, justamente, têm que ficar explicando e se desviando dos gringos malucos loucos por uma brasileira caliente e tal ( isso até pode ser interessante, mas demais fica bem chato, mesmo).

O diálogo da Brigitte com o espanhol ficou tão bom que reproduzo aqui também:

"e sobre o que os gringos pensam da nossa liberdade sexual, vixe! tenho uma história recente dessas prá contar, o cara nuintendeu naaada e perguntava: "tu no te vas desnudarse para mi guapa?" eeeeu heim? sai prá lá cabrón..."

e o interaubis falou que identificava as brasileiras na praia de Barcelona assim: eram as únicas que não faziam topless.

Enfim... ainda temos muito que evoluir quanto à nossa suposta liberalidade. Muito mesmo, somos ainda bem machistas, sexistas, moralistas e outros quejandos... e o carnaval talvez funcione como uma espécie de prova disso tudo, ao contrário, e assim mesmo.

Sei lá.

ziriguidum!!

Brigitte, queremos saber as novas aventuras, quando você voltar, tá?

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007

carnaval

Vai passar.

Ainda bem. Enquanto isso, mantenho-me em casa.

terça-feira, 13 de fevereiro de 2007

a cada vez

O mais difícil, eu acho, é viver a cada vez como se pudesse ser a última, como se fosse a primeira, como se não pudesse ser desperdiçada. O mais difícil é não perder o momento, é lembrar de respirar, curtir muito, olhar, sentir os cheiros, o tato, o gosto, ver as formas e cores, e ouvir toda ela, a vida, que tá ali, a todo instante, agora. O mais difícil é sermos sinceros conosco, com nossos desejos e vontades, de longo e curto prazo, e verificarmos, com cuidado, o que é realmente importante, e batalharmos por nossas bestas importâncias. O mais difícil é seguirmos nossas decisões, e sermos nós mesmos, e como é difícil ter coragem de levantar da cama, às três da manhã, para fechar melhor a janela que ficou meio aberta, por onde entra aquele fio de ar gelado, que incomoda. Mas como é bom não ignorar o tal do frio do ar gelado, e criar coragem e força, levantar e fechar a porra do vidro e dormir bem depois, sem incômodo.
Difícil é não exigir tanto e, no vagar dos dias, nos divertirmos muito, que, afinal, daqui do mundo nada se leva.
Difícil é ser, mas é bão também.

"você já mentiu bastante? "

Quinta série, aula de redação:

- Fessora, não sei mais o que escrever...
- Pô, fulaninho... só dez linhas?
- É... não sei mais o quê colocar... ( todo chateadinho)

Um menino ao lado ouvia o papo, atento, e veio em socorro, ajudar o amigo:

- Você já mentiu bastante?
- Quê????
- É!! Ela (eu, no caso) falou que na redação, a gente pode inventar o que a gente quiser, mentir à vontade!!
- É???? ( olhando para mim)
- É. ( respondo, firme)
- Então... ( diz meu menino assistente) ... mente bem bastante que aí você escreve um monte. Cê vai ver!!
- Pode mesmo?
- Pode, falei. Minta à vontade, escreva o que você quiser.
- Ôba!!! e ele volta, todo empolgado, para a carteira e escreve sem parar até o final da aula.

- É... o legal de redação é que a gente pode inventar um monte de mentira!!
- É mesmo!- concordei.

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007

banheiros modernosos; quem é quem mesmo?

Ok... vamos combinar....
Você bebe umas cervejinhas naquele barzinho modernex e hype e tal. Tá tudo ótimo e logo vem a indefectível vontade de fazer xixi. Meio tonta, cria, depois de um tempo, a coragenzinha necessária para ir ao banheiro. Levanta e vai toda contente, ansiosa pelo momento, e....
se depara com esses símbolos chics, sutis e modernos....


Fiquei uns quinze minutos em frente a essas portas, pensando. Sério, parei e comecei a refletir, num sabia em qual porta entrava. Para começar, se for o que todo mundo tá pensando (e que demorou para eu pensar também) , os ângulos de visão são completamente diferentes, não dá certo...
Tá bom, não se esqueçam que eu estava já meio tonta.

E não é a primeira vez que isso acontece, o povo tá com mania de botar símbolos cada vez mais obscuros nas portas dos banheiros. Ou sou eu que sou jeca mesmo e não entendo de nada. Deve ser, mas...

custava abdicar um pouco só da atitude e originalidade e botar nas portas dos banheiros o bom e velho minininho com duas perninhas e a boa e velha minininha, de sainha e tal?

ai, ai...
acho que, definitivamente, tô ficando velha.

dar certo na vida

Uma vez, no colegial, olhei para dois colegas, que não eram meus hiper amigos, mas eram duas pessoas que admirava, e falei assim, para minha super e sábia amiga Helena:
- Fulana e Sicrano são tão legais e inteligentes, né? Acho que eles vão dar certo na vida.
A Helena olhou para mim e respondeu:
- Lu, eles já deram certo.

E eu fiquei que nem boba, pois ela tinha toda razão. Já demos certo, sempre, aqui, no presente. Nunca somos realizados, ainda bem, e sempre já demos certo, na vida, porque dar certo não quer dizer ganhar dinheiro, fama, filhos, super empregos sei lá o quê. Dar certo significa existir, e ser uma pessoa legal.

Para meu amigo Zusé, que ontem ligou para mim chorando e disse todo triste que estava cheio, cheio de vida dentro dele, e tinha medo de não conseguir vivê-la. Queria que ele acreditasse que já a vive, toda a vida que tem dentro de si, simplesmente existindo e sendo.
Feliz aniversário, meu amigo querido.
lu.

Edições Quem mandou?

Estão no ar as edições Quem mandou? do Sérgio Alcides.
As edições Quem mandou? praticamente não existem, mas tornam-se, desde já, indispensáveis.
Para quem gosta da boa poesia, tão rara. Ali, a coisa é fina. Não percam.
Um palhinha :



Inclusive, lá, você pode baixar o Quase nada a ver com a lua ( poemas, 1989-1996). Uma maravilha de livro de poemas. E Sobre um poema que eu ainda não li, mas já sei que é ótimo também.


E deixo com vocês também uma pílula, da série Alguns comprimidos, da qual aliás ganhamos um lindo exemplar, único, impresso e costurado pelo autor que, aliás, viciou um pouco ( tanto o autor, como os comprimidos, aliás, o primeiro viciou irremediavelmente) :



PROZAC

Partido Revolucionário Operário Zapatista Anarquista e Conformista.






por Sérgio Alcides

domingo, 11 de fevereiro de 2007

Primeiras leituras

Ao final, quando perguntei sobre as leituras na escola, sobre as primeiras leituras de cada um, tanta gente me escreveu, e de jeitos tão bonitos, que eu resolvi colocar algumas coisas aqui, num post só, até porque um leu algo que lemos e que nos lembra de algo, e assim vai. E não sei se todo mundo leu os comentários, e alguns ficaram muito legais.

E há poucas coisas mais bonitas que o encontro com a literatura, com livros de histórias, com a palavra escrita, poderosa. Fico mal quando algum aluno meu diz que nunca gostou de ler um livro, nenhunzinho. Eu digo que é como se ele nunca tivesse comido chocolate, visto o mar, sei lá. Porque ser devorada por um livro, ler devagar para que demore para terminar, ler e reler, querer decorar, se ver ali, é um ato de amor.

Selecionei alguns depoimentos que apareceram nos comentários. Aqueles que me presentearam com textos, o Fabiano, o Alberto e o Evandro, estão aqui, e aqui.

Nos comentários...

o Fábio escreveu:

A primeira recordação é de um livro que mexeu muito comigo, lá pelos dez anos: “Meu Pé de Laranja Lima”, do José Mauro Vasconcellos. Eu lembro até da edição! Eu contei para um amigo, do qual já nem lembro o nome, acho que Ricardo, como havia chorado com a morte de um personagem, um senhor português, e chorei copiosamente, e ele me olhou como se eu fosse um louco. Bom, logo percebi que o RIcardo era um bom amigo para criarmos préas e galinhas de codorna, mas nunca mais falamos sobre livros, e continuei a chorar, a rir, a sonhar, a passar noites em claro lendo livros que foram uma tábua de salvação de minha infância e boa parte da adolescência.

Ainda no 1º grau (como a gente falava à época), lembro da Coleção Vaga-Lume. Era tudo para mim! E fiz amigos leitores, e com eles competia para saber quem lia mais títulos da coleção, cujas capas apareciam perfiladas no verso dos exemplares.Eu me diverti muito lendo as aventures do Xisto; lembro também de algo como “Assassinato no Hotel Cinco Estrelas” (em Taubaté só havia um hotel quatro estrelas, que ficava no caminho da escola, e tentava imaginar como seria um 5 estrelas, mas o 4 estrelas de minha cidade era meu cenário imaginário enquanto lia esse livro). Recordo-me também de “Cabra das Rocas”, “O Feijão e o Sonho”, “Éramos Seis”, “Açúcar Amargo”. Eu não pensava nesses livros há pelo menos um 15 anos...

Eu devia ter uns 13 ou 14 anos quando descobri uma banca de jornais em uma praça em frente ao quartel onde levava meu cachorro para tomar vacinas. Fiz amizade com o dono (minha primeira amizade com um adulto que não fosse parente ou professor), e ele passou a me vender, por preço de custo ou fiado, os livros de uma coleção Agatha Christie, impressa em papel jornal. Eu mergulhava naquelas leituras quase que obsessivamente. Li todos. E guardo alguns até hoje. Foi minha primeira paixão. “Morte na Mesopotâmia”, “Punição para a Inocência”, “Noite sem Fim”, “Os Elefantes não Esquecem”, “Assassinato de Roger Akroyd”, “Convite para um Homicídio” (deste, eu descobri o assassino!!)...

Já na 8ª Série, li “Capitães da Areia”. Foi um choque. O sexo, a miséria, a violência (os assassinatos da Agatha Christie pareciam uma espécie de jogo, o que atribuo, retrospectivamente, à estrutura do romance policial na linha “who’s done it”).

Lembro ainda, na 8ª., de ter lido “Olhai os Lírios do Campo”, “O Ateneu” e o “Diário de Dany”, de Michel Quoist. Este último, eu gostaria de reler: lembro que gostei muito, mas não recordo nada da história, só que o protagonista tinha minha idade! Li também “Demian” do Hesse, mas não entendi muita coisa.

Ah, nesse anos, nas minhas férias em São Paulo, eu lia os “livros adultos” da minha irmã mais velha: J.M. Simmel, Sidney Sheldon, Morris West, Irving Wallace. Lembro de ter ficado muito impressionado com “São Lucas: Médico de Homens e de Almas”, do West. Outro livro que me empolgou foi “Os Ricos são diferentes”, o maior livro li nessa época, uma calhamaço, mas não lembro mais a autora, acho que era Susan... O final ficou na minha cabeça por dias...

Bom, até a 8ª série, acho que é isso. A lista do colegial fica para outro dia.

Luana, foi super legal, emocionante, reviver essas leituras graças a seu pedido...

7 de Fevereiro de 2007 22:32


a Dani escreveu assim:

Nossa, na adolescência, Lu? Eu lembro de 'Mal Estar na Civilização " de Freud. E também aquele sobre luzes e sombras do Merleau Ponty. Mas, peraí, adolescência pra mim é meio tarde, será? Porque tô falando de quando eu tinha mais ou menos uns 18...
ele disse - isto é adolescência, adolescência é até os 19...
eu - hum , pra mim foi até uns 21, acho...eu era tão mítida!
ele - então o que você leu na pré-adolescência?
eu - na pré-adolescência, fudeu! Eu só fazia namorar! Namorar e beber, não conseguia me concentrar em nada! Aliás , na adolescência também.
ele - isto que você tá falando é interessante.
eu - pra quê? Pra todo mundo ficar desesperado por saber quem eu sou?
ele - pois... isto sim é interessante.
eu ( pensando )- o amor é lindo mesmo
livros marcantes lidos dos 11 aos 16 :
A série Inspetora ( que é tipo Scooby Doo ), Diário de Anne Frank, Contos do Esconderijo, Polyana, Polyana Moça, Ballerina ( não tenho noção do autor ), Caçadores da Arca Perdida ( acredite se quiser, eu li o livro ), Lolita( mas, admito que preferi ver o filme ), Madame Bovary ( pra passar a guiar o bom gosto por leituras daqui pra frente ), depois veio A Caverna, de Platão, O Alienista de Machado,, uns Alvaro de Campos..." O anticristo " de Niestche...Memórias de Adriano, de Margeritte Youcenar... ( puta que pariu! a mulher escreveu em primeira pessoa e você acredita que é o imperador romano )...
... e da série filmes na pré-adolescência... lembro bem de quando vi Taxi Driver pela primeira vez e por aí vai...


A K, foi a K : ) :

Eu devorava livros desde o jardim de infância. Claro, as crianças normais iam brincar e correr e k ia com um gatinho de plástico prum cantinho da biblioteca (sol nem pensar. Nunca!) ler os livrões de bordas "de ondinha".

Não me fez feliz.

k


e a Brigitte, Brigitte :) :

eu sempre gostei de ler, desde pequenininha... qualquer coisa: livros, enciclopédias, fotonovelas, gibi da Turma da Mônica. sempre adorei tomar sol, sempre tive amiguinhos e "acho" que sou feliz, tem algo errado comigo????

e a Caki, lembrou dos cursos do Equipe. Esse povo que trabalha no Equipe....

Lu, acho que as dicas equipanas não valem né? Tipo Kafka na oitava e Becket no colegial. O curso de portugês do Equipe era total "on crack". Me sinto de férias para o resto da vida. Porém casada com professor de literatura é fuego, não terei férias nunca!

Gosto de leitores. E gosto de ver crianças lendo, acho bonito. Ler tem que ser como uma brincadeira, desde o começo, até agora. Ainda bem que existem livros, como falou o Fábio, eles salvam a gente.

da lulu, se você não conhece, leia também A biblioteca alheia, sobre nossas histórias e nossas bibliotecas.

sim, e como perguntaram, respondo aqui: sempre leio todos os comentários, mesmo de posts antigos, recebo aviso via e-mail quando chega um comentário novo. ;)

as comidinhas lá de casa.

salada verde.

Simples, gostosa, básica. Já contei como a mistura de vários tipos de alfaces dá um tchans para a salada. Nessa tem alface americana, alface roxa (que coloco sempre, para dar uma cor) alface crespa. É importante secar bem as folhas (e viva o secador de saladas) para que o molho pegue e nada fique com gosto de água.

Gosto de rasgar as folhas com as mãos, em pedaços diferentes, e jogo o molho por cima.

Lembremos do molho básico: três para um, três de azeite para uma de vinagre. Esse molho tá escuro porque foi feito com aceto balsâmico, prefiro. Quem não curte vinagre, meu caso, devia experimentar, é meio caro mas também dura um ano na geladeira. Coloquei um pingo de mostarda e um pouquinho de mel. Fica ótimo, podem experimentar sem medo.

Lulas grelhadas com batatas cozidas.


Para os puristas, logo aviso: não tenho grelha, tenho só meu fogão e umas panelas. Então essas lulas não foram propriamente grelhadas porque não foram feitas na grelha, ok, mas idéia é que vale, que não tem cão...

Você vai à feira e pede pro peixeiro deixar a lula inteira, mas limpa, é claro, já que ninguém quer ter trabalho nenhum, muito menos limpando peixe.
Aí vc bota as batatas para cozinhar e enquanto isso deixa as lulas um pouco num temperinho simples, de sal, pimenta, alho esmagado e azeite, passe por cima, acariciando a bichinha. Quando as batatas estiverem quase cozidas, vc liga o fogo e esquenta bem a frigideira, tem que ser ultra bem esquentada. Coloca azeite, só para não grudar, mas bem pouco mesmo, e joga as lulas ali. Tem que fazer aquele tisss (é importante esse lance do fogo alto e da frigideira quente, senão as lulas cozinham e vc não quer que isso ocorra). Essas lulas foram limpas, mas pedimos para que deixassem a pele delas, daí esse aspecto vermelho. Fica bonito, né? vc gira, para dar essa tostadinha final. É pouco tempo, coisa de cinco minutos de cada lado, no máximo. Vc pega as batatas, joga um azeitinho e sal em cima, junta as lulas, e voilá. Como vcs viram, a gente nem tirou as cascas das batatas, um pouco por preguiça, um pouco porque fica bom assim mesmo.


Saint Peter

O peixe dessa semana foi o Saint Peter. Vá à feira e peça para o seu peixeiro. Sim, ando numa fase peixes. Tanto mar, e comemos tão pouco peixe. Comamos mais peixes. Pede para ele, o peixeiro seu amigo, cortar o São Pedro em filés, deixando a pele, eu gosto com a pele que fica crocante e dá um gosto. Aqui, ele foi grelhado, na frigideira mesmo, cinco minutos de cada lado, fogo quente e azeite, e com a tinta da lula, fizemos um risotinho. É mais complicado, explico outra hora....

O peixe é uma delícia, de sabor suave, vai lá e peça. Super fácil de fazer.



Berinjelas com queijo e tomate

Tinha sobrado um queijo feta que compramos para fazer uma salada grega. E tinha uma berinjela no meio do caminho.

Aí você corta a berinjela em fatias finas, e bota na já célebre frigideira, agüenta, e não coloca óleo nenhum. Espera até a bicha ficar molinha. Faz isso com todas as fatias
de berinjela que vc tiver. E depois monta: uma fatia de berinjela, um pouco de queijo... outra, mais um pouco de queijo, outra, e assim por diante. Um sanduíche de vários andares, ao invés de pão: berinjela. Se vc não tiver de regime e quiser colocar um queijo muzzarela que derreta depois no forno fica bão também.

Em cima, para não ficar muito seco, piquei uns tomatinhos e pronto. Ao lado, alfaces romanas, e uns cubinhos do queijo que havia sobrado.



Peito de frango com cogumelos, arroz integral e quiabo.


Os acompanhamentos:
esses são os cogumelos mais baratos que tem para comprar, se der para vc usar shitake e coisa e tal, ótimo, mas esses são cogumelos simples, do tipo paris. Inteiros, passados rapidamente no fogo, sal e pimenta.
Sobre o quiabo... sim, quiabo é esquisito. baba. Mas quiabo desse jeito fica ótimo. Vc, se puder e não estiver de dieta, vai lá, coloca um monte de azeite na caçarola, e dá uma boa fritada, deixa queimar um pouquinho, fica crocante, parece um salgadinho, uma delícia. Seguimos o mesmo princípio, mas como nossa linha metodológica tem sido light, foi na chapa de ferro sem azeite nenhum. Fica bom também.
Arroz integral, que eu gosto.
E o peito de frango, que já veio sem a pele, e ficou um tempo tomando banho de limão, azeite, pimenta e sal, bastante tempo, para pegar bem o gosto. Como somos chics colocamos um pouco de açafrão, os pistilos mesmo, para dar um gosto. Se vc não tiver em casa, desencana, ninguém vai morrer sem ele. Depois o frangote foi colocado na panela ultra quente. Virado de um lado e outro. E pronto.



Frutas, muitas frutas.
e menos um quilo de lulu nesse mundo.
(primeira semana)

Bom apetite!!
ah, se você clicar em cima das imagens elas ficam gigantes e dá para ver tudo em detalhes.









para saber mais dos princípios cozinhológicos de lulu, leia também: Saber cozinhar... a experiência do ovo frito perfeito.

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2007

Enquanto isso...

- Eu queria saber qual bebida engorda menos.
- Água.
- mas, mas, mas....
e naquele momento minha expressão revelou toda incompresão do mundo.

chorar na frente do espelho .

Eu já chorei, você já chorou, todo mundo já chorou. Choramos de cócoras, agarrados ao travesseiro, no canto mais canto da casa, debaixo da escada. De vez em quando choramos em público, mas deusmelivre, como é chato chorar na frente de desconhecidos, muito só de vez em quando. Eu choro bastante, e haja lenço de papel e até, de vez em quando também, em meio à choradeira, assôo o nariz no lençol mesmo, ninguém tá vendo e a meleca parece que nunca acaba... É até bom chorar, muito, de se acabar de choro e perder a respiração. É até meio bonito (em se tratando de certas dores, passageiras), desde que se levante logo no dia seguinte, prontinhas e prontinhos para outras e outros.

Agora, chorar na frente do espelho... é um clássico;
uma experiência necessária na vida de qualquer ser humano, conversávamos sobre isso ontem, lá no bar, fonte de noventa por cento dos assuntos de cá, e quando cheguei em casa fiquei pensando sobre essa experiência tão comum e extraordinária, ao mesmo tempo, que não pode ser vivida de qualquer maneira. A experiência de chorar muito e ir para a frente do espelho, para se ver chorando.

De preferência, deve haver uma música de fundo. Ela definirá tudo sobre o tipo de choro-na-frente-do-espelho a ser vivido naquele momento.

Se a depressão for séria e trash, é necessário que se ouça Carly Simon, de preferência aquela, itsie bitsie spider... ( sim, eu achei e coloquei o link do you tube, para vocês, meus queridos leitores) "I believe in love..." e aquele tresheira toda, que só de ouvir, ou dá vontade de se jogar de uma vez pela janela, ou você embarca, canta junto e ´bora prá frente do espelho, presenciar esse momento triste e dramático de nossa existência. Um vinho branco qualquer serve, mas ele deve ser tomado diretamente da garrafa. E fica proibido contar para quem quer que seja que um dia você já fez isso, já cantou Carly Simon bêbada-chorando-na-frente-do-espelho, eu mesma tô falando por pura hipótese. Para combinar e compôr a cena, aquele seu pijama meio velho meio sexy cai bem, e pode usar meias e andar com elas arrastando-se pela casa que combina também.

Outra linha metodológica é embarcar num uísque e partir logo prum Charlie Parker ou mesmo um John Coltrane, assim, meio enlouquecido, dilacerante. Como ninguém tá vendo, você pode até fingir, na frente do espelho, que está tocando saxofone, trompete, ou qualquer outro instrumento enquanto chora lágrimas sentidas de loucura e solidão. Ninguém tá vendo mesmo, e a garrafa de uísque já está pela metade. Super cool, esse choro ao som de jazz. Os meninos podem ficar com a calça jeans, mas se mantiverem a camiseta, senão furada ela deve estar, no mínimo, amarrotada. As meninas, uma camisola sexy, ou jeans também. fica bacana. Simbora para a frente do espelho, eternizar esse momento profundo de dor e desvario.

Se o clima for realmente de cortar os pulsos, um cigarro na boca e Billie Holiday na vitrola. Nada otimista, please, se é para chorar na frente do espelho a coisa tem que ser bem feita. Toda a boa turma do blues sentido e triste cai bem também, o problema é conseguir abrir os olhos e se ver, ali, na frente do espelho, em meio a tanta dor, tanto blues.

Johnny Cash nessas horas é bom também, e se você quiser mesmo ir ao fundo mais fundo do poço escuro da sua alma, Hurt é uma boa recomendação. Arraste-se até o espelho, gaste nisso suas últimas forças, e veja-se ali, porque sofrimento maior não pode haver.

Cada um tem sua trilha sonora para chorar na frente do espelho, e cada momento pede uma específica. É claro que lulu quer saber quais as de vocês.

Ainda sobre estilo, se no caso a figura chorante for do sexo feminino é indispensável que se tenha passado bastante rímel nos cílios para que, as lágrima caindo, tudo borre, e aquela tinta preta e dramática escorra pela face, emprestando-nos o ar mais decadente, triste e profundo possível. O cabelo em desalinho é um must. E soluços em profusão, se bem que cada um tem sua personalidade e estilo de choro.

Eu sou um horror, me acabo, totalmente deselegante meu choro. Meu nariz incha, fica o dobro do tamanho e inacreditavelmente vermelho; meus olhos diminuem, mal enxergo o mundo, e soluço que até perco a respiração. Um choro dramático, com um quê espanhol Almodóvar (isso já são as elocubrações feitas na frente do espelho).

Há aquelas pessoas que choram como em filmes, choram e o rosto não incha, o nariz permance o mesmo, os olhos não se transformam. Seus choros são lágrimas escorrendo pelas bochechas, um choro cool, melancólico como uma chuva no vidro, nada de rios de meleca escorrendo pelo nariz. Morro de inveja. Lindas essas pessoas, ali, chorando na frente do espelho. Dá até para ouvir um Mozart, de repente, enquanto rola a melancolia.

Há ainda aqueles que choram como bebês, vão chorando e falando ao mesmo tempo, bunitinho também, esse tipo de choro. Enfim, há os choros para fora, e os choros para dentro.

Seja qual for seu estilo de choro, sua trilha musical, seu cantinho de ficar chorandinho e mesmo seu figurino, o importante, o realmente importante é que, no auge, você vá, pelo menos uma vez na vida, ao espelho, ver sua cara quando está chorando.

por quê? sei lá. Mas todo mundo que eu perguntei já fez ou ainda faz isso. E a gente fica se vendo, talvez para lembrar que existe e não vai desaparecer, nem desfalcer, nem evaporar com as lágrimas, para dar um contorno, sei lá. Talvez porque a gente ache que fica bela chorando e goste de nos ver assim, talvez porque ache chic e cool e ache até mesmo que esse choro todo nos dê uma certa hotture, como a Caki ensinou que se fala lá em noviorque. Ou talvez, simplesmente, porque ali, na frente do espelho, a gente vê o ridículo todo da situação, e acabe talvez até rindo do drama da nossa vida.
Uma experiência também bastante necessária. :)

Leia também: Da obrigação de "estar bem".

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007

as meninas

As meninas são fortes, não se enganem conosco. Quem depila axila, virilha, buço, pernas, duas vezes ao mês, é, como diz o outro, sobretudo um forte. As meninas querem prazer, querem diversão, querem pessoas em suas camas, querem cinema, conversas, mudar o mundo, às vezes deixar como está, tentar só melhorar um pouquinho. As meninas são inteligentes, são belas, são fracas às vezes, às vezes capazes de derrubar mil. Aprendem, caem e levantam, se ajudam e olham para as bundas dos meninos. As meninas choram, gritam, riem, tentam, são vivas, dançam, aprendem, ensinam, constróem e destróem coisas. As meninas são cada uma uma raridade, poços infinitos de todas as coisas, trabalham, parem, dão, recebem. As meninas põem e dispõem, às vezes as meninas não põem nada e ficam ali, dispostas e expostas, as meninas. Ficam horas no espelho, horas estudando, horas falando, alto e baixo; as meninas brigam. As meninas têm corpos de mulheres, que só as mulheres têm. As meninas devem ser bem tratadas, sempre.

Os meninos também. Os meninos também um monte de coisa, : ) , mas hoje é dia de meninas.

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007

os papos lá em casa:

- Qual o limite do seu cartão de crédito, Lulu?
- Não sei....
- Não acredito lu, como não sabe?
- Não sei... eu quase não uso, porque me atrapalho, cê sabe...
como as pessoas sabem os limites dos seus cartões de crédito?
- Hm... talvez porque venha na fatura? Cê tem alguma aí?
- Hm... acho que eu guardo em algum lugar...
-Ai, ai... você tá com o homem errado. Você devia ter casado com um contador, daqueles bem importantes, de uma empresa bem rica, que cuidasse de todas as suas contas.
- Ah... seria mesmo uma boa!

Alguns instantes depois, volto de meus pensamentos:

- Mas... precisa ser contador? Não pode ser, assim, alguém com uma profissão mais interessante? sei lá... executivo....?

e ele, consigo mesmo:
- ai, ai... o pior é que ela levou a sério e tá mesmo pensando no assunto....

cinema às três da tarde e supermercado às três da manhã.

Por mim só iria ao cinema no meio da semana, três da tarde, eu e as velhinhas, já disse. E só faria supermercado às três da manhã, eu e os baladeiros, eles comprando vodka, eu ali, escolhendo alfaces.

Por mim, também não abriria nunca mais na vida nenhuma correspondência de banco, sairia gastando e o dinheiro viria, normal, conforme as necessidades e precisões e nem precisava ficar sabendo de quantias.

Para que a vida não entrasse numa rotina absoluta cheia de tédio, os sábados volta e meia raptariam algum dia da semana, esta quarta, por exemplo... entrariam no meio e ficariam ali, sendo sábado em plena quarta. E largaríamos tudo para ir passear.

Eu viajaria só de trem e faria tudo a pé, em caminhos sem ladeiras e cheios de árvores, e os livros e cadernos, por mim, nem pesariam tanto na bolsa. Por mim não preenchia um diário de classe nunca na vida e as aulas começariam sempre às nove da manhã e iriam até três da tarde, e a frequência seria livre e só viria quem quisesse.

Por mim, bebida não engordava, sorry amigas chocólatras, troco o sonho de valsa pelo vinho. Por mim saía para dançar beber conversar paquerar namorar umas quatro vezes por semana, sem preocupação alguma, com nada. Por mim ia ao cinema diariamente e cultivaria pelo menos três horas de ócio e vontades bestas por dia. Por mim, teria pelo menos umas três vezes mais sapatos do que tenho. E por mim teria sempre vontde, pique e animação para mais uma aula de ginástica.

Por mim, para cada dia de regime, um quilo a menos. Por mim, amigos deviam se encontrar sempre, toda semana, sem essa de sem tempo e desaparecimentos do mundo adulto. Por mim ficava lendo ficção o dia inteiro, de vez em quando um filminho, volta e meia uns poemas, levantava só para escrever.
Hm...

Os crentes que me perdoem mas essa história da criação do mundo toda nas mãos de um cara só... ai que desperdício.

terça-feira, 6 de fevereiro de 2007

ataque macunaímico:

Ai que preeeguiça!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!


e lulu adverte: alugar qualquer temporada de 24 horas em devedê tira o sono e aumenta a anti-sociabilidade.

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2007

diálogos com adolescentes

Enquanto isso, na escola...


-Sabe, eu queria saber, se os livros que a gente vai ler esse ano são profundos.
- Por quê?
- Porque eu queria ler uns livros bem profundos, sabe? -
- Pódeixar! - respondo, hiper séria pro totoco de gente que me interpela, hiper séria também, de treze anos recém feitos, mal entrada na sétima série.

a outra, também sétima série:

- Queria te agradecer, pelo caderno que você me deu, para que eu escrevesse sempre.
- Que bom, você aproveitou?
- Sim! Muito! Sabe... eu não gosto de férias... nas férias eu deprimo, sabe? aí eu percebi que quanto mais deprimida eu fico, mais inspirada, então nessas férias eu escrevi muito, muuuito mesmo, não parei de escrever.... Brigada mesmo!
- Hum.. que bom... !
(acho), pensei com meus botões.

na sexta série:

- E nesse ano a gente vai escrever histórias de terror?
- Vai.
- E pode ser uma história bem grande assim de vários capítulos?
- Pode.
- Quando, quando?
- Daqui a dois meses.
- Dois meeeses??? Tudo isso?
- É.
- Hum... diz o menino - depois de amaldiçoar o livro que leremos antes dos de terror e mistério, olhando para mim - ...Hum... Sessenta dias?
- É.
- Promete?
- Prometo.
- Tá bom. Olha lá, sessenta dias, heim?
- Pódeixar.

ai, ai...
depois acham que criança num sofre e que adolescente é chato.

Eu adoro.

Lulu, contente de voltar prá sala de aula. Logo volto a xingar.

e quem quiser dar dicas de livros, profundos ou nem tanto, ainda tá valendo. Eu leio todos comentários, mesmo de posts antigos, então podem ir e dar dicas para a lulu. Dicas para leituras na escola de modo a não odiar sua professora e muito menos os livros, aqui.


e é claro que a enquete continua, tô vendo se mais gente se manifesta. ;)

questão:

Existem as feias bonitas?

domingo, 4 de fevereiro de 2007

domingão à noite


(para os que entendem disso e olham para o céu, não essa lua não é de hoje, é uma lua do alvorecer e não do anoitecer, mas a foto é bacana e resolvi deixar)

Para mim, não tem hora mais difícil que o entardecer do domingo. Fico toda crepuscular também, deprimida mesmo e tenho que fugir com todas as minhas pernas e forças de qualquer tevê que esteja ligada, porque se ouço, por um segundo que seja, a voz do tal do Faustão ou a musiquinha do fantástico, caio em depressão absoluta, é assim efeito imediato. Eles falam, eu caio. Juro.

Mesmo sem esses sons do horror, domingo à tarde é sempre meio esquisito. Não que a semana seja ruim, que não traga boas promessas e tal, mas o final do domingo parece-me sempre triste, um pouco vazio, dia de pizza, de ficar em casa, sei lá, de preparos. O mais chato é viver de acordo com os dias e o fim do domingo lembra a gente dos tais dos tempos. Dia de acordar cedo na manhã seguinte, de lembrar das obrigações, ai que chato!! Era a favor de sermos contra todas as obrigações.
Boas mesmos são as noites de quinta-feira, que antecedem as noites de sexta, e já têm um pouco de cara e gosto de final de semana. As noites de sábado são bacanas também, apesar da proximidade com o domingo. E bom bom mesmo, para subverter tudo isso, é ir ao cinema em plena terça feira à tarde, quando estão todos trabalhando e ali na sala fica só você, e três velhinhas. Mas isso é assunto para outro post.

Que domingo à noite, sem a pizza, resta o vídeo, e aqui em casa alugamos a quinta temporada do 24 horas. Por enquanto o Jack salvou o mundo democrático e livre das mãos dos terroristas malvados de nomes estranhos já umas três vezes, e ainda estamos na parte da manhã!!! Ninguém me conta nada, que daqui a vinte e quatro horas reapareço, mas o que quero mesmo saber é se o Jack sacrificará mais uma vez seu grande amor em nome da pátria. Vejamos do que é feito esse mocinho.

e lembrei da música do domingo, e acho que lembrei tudo errado. Lembro assim, uma música totalmente apocalíptica, que eu cantava aos berros:

hoje é domingo, pé de cachimbo, cachimbo é de barro, bate no carro, carro é de ouro, bate no touro, touro é valente, bate na gente, a gente é fraco, cai no buraco o buraco é fundo, acabou-se o mundo.

Eu lembrei tudo errado ou é assim mesmo e essa é um das músicas mais malucas e trágicas da histórias das músicas malucas e trágicas que a gente canta quando é criança?

a gente é fraco e o mundo é curto. Perfeito.

geeente.... quem conhecer outras versões, mais alentadoras, por favor, me fale.

E esse era para ser um post poético, de tom melancólico, com a foto da lua e tal, mas fica mais um de besteiras que afinal de contas é disso mesmo que vive esse diário. :)
boa semana para todos e todas nós.
fiquem com a lua,
Lulu.

sábado, 3 de fevereiro de 2007

insônia

parte 1:a hora e a vez do encontro.

E ontem me deu uma insônia forte, brava, daquelas que você pensa que nunca mais na vida irá dormir de novo. E não aguentando mais a companhia dos meus pensamentos no escuro, nem aquela sensação horrível de corpo e mente desobedientes e em ritmos acelerados na hora errada, levantei e pronto. E fui ler e decidi que não podia ler nada de trabalho, porque aí que não dormia mesmo.

Levantada, fui ao escritório flertar com meus livros, estariam eles ali essa noite? Sim porque às vezes meus livros me traem e fecham-se para mim, como que somem; nenhum me quer, nenhum é suficiente, nenhum é o que eu queria e precisava que fosse naquela hora exata. A gente está louca para ler, e não encontra livro algum.

Os perfeitos, aqueles que parecem nossos pares ideais, que nos traduzem e endendem, às vezes se escondem ou foram todos tomados por outras e outros, emprestados a alguém, já têm dono. Percorro minhas estantes....Nada. Talvez algum livro solitário e sem leitores sonhe comigo assim como sonho com ele, solitários à espera um do outro, ele em alguma prateleira obscura de uma livraria da cidade, eu aqui, no meu canto... mas nem sei da existência desse e acabo amaldiçoando os que tenho ali comigo. Meus olhos examinam as lomabadas... russos, não, Machado, nem pensar, aquele já li, o outro dá preguiça....
Tento, pego um... devolvo. É daqueles livros bons, simpáticos, legais até, mas cuja química não rola... e dizemos: "desculpa... olha, não é você, sou eu... de volta para a estante, um dia a gente se vê."

Difícil, o encontro com um livro, no meio da noite, sem preparo nem planejamento.

Pensava sobre tudo isso, o sono cada vez mais longe, quando um livro do Guimarães piscou para mim da estante. Será? Não é muito cabeça? Hum... Olho de novo. O tal virou de ladinho se oferecendo todo, deu mais uma piscada, aguçou minhas memórias, lembrei-me dos prazeres já vividos ali e não teve jeito, escolhi-o, e disse: ok, és meu e sou tua, por essa noite.

Peguei para ler Sagarana e, afoita e impaciente, fui logo para o último conto do livro, para ver se dormia, sem que a ansiedade de estar ainda no começo, toda uma relação por construir, me acordasse de vez e irremediavelmente. Comecei a ler A hora e a vez de Augusto Matraga.

No começo, em meio ao sono e mau humor de uma noite não dormida, não entendia nada, demora, para a gente pegar o jeito do Guimarães. É quase como um novo sotaque, uma nova música de uma afinação diferente, demora para pegar, mas depois flui, e fica tudo fácil, e lindo. Para mim demorou umas duas páginas, mas a piscadela havia sido tão irresistível que dei-lhe a chance do jantar depois do drink, apesar dos pequenos desencontros nas preliminares.

E logo me entreguei. A certa altura, tão afoita e desinibida, até levantei do sofá e fui buscar um lápis e marquei-lhe as páginas, sublinhei palavras, acompanhei o o conto inteiro, até que, madrugada, chegamos juntos ao fim.

Recuperei o ar e depois desse encontro perfeito, pude até dormir, satisfeita.

parte 2: as lembranças depois do sono.

Como escreve bem, o Rosa. Já que não sou ciumenta, nem possessiva, bem humorada depois de uma noite bem lida, partilho com vocês as partes sublinhadas. ;)

começando pelo provérbio capiau maravilhoso, que abre o conto:
"Sapo não pula por boniteza,
mas porém por percisão."

isso serve para as palavras dele também, que não estão ali por boniteza, mas por percisão. E como é preciso, o Rosa.

a certa altura, Nhô Augusto e sua vida inteira caem, e o anúncio da sua tragédia é narrado assim, olha que preciso:

"Quando chega o dia da casa cair - que, com ou sem terremotos, é um dia de chegada infalível, - o dono pode estar: de dentro, ou de fora. É melhor de fora. E é só a coisa que um qualquer-um está no poder de fazer. Mesmo estando de dentro, mais vale todo vestido e perto da porta da rua. Mas, Nhô Augusto não: estava deitado na cama - o pior lugar que há para se receber uma surpresa má. "

e, em outro pedaço, para falar do que é literatura, o que tanto teórico tenta dizer, ele vai lá e alcança com perfeição:

"E assim se passaram pelo menos seis ou seis anos e meio, direitinho desse jeito, sem tirar e nem pôr, sem mentira nenhuma, porque esta aqui é uma história inventada, e não é um caso acontecido, não senhor. "

E Nhô Augusto fica triste, profundamente triste, acho que deprimido, se pudéssemos falar assim, fica como já fiquei tantas vezes, e me vi ali:

"Mas daí em seguida, ele não guardou mais poder para espantar a tristeza. E, com a tristeza, uma vontade doente de fazer coisas mal feitas, uma vontade sem calor no corpo, só pensada: como que, se bebesse e cigarrasse, e ficasse sem trabalhar nem rezar, haveria de recuperar sua força de homem e seu acerto de outro tempo, junto com a pressa das coisas, como os outros sabiam viver. "

e umas páginas depois Nhô Augusto levanta, como já me levantei, nos levantamos, junto com a pressa das coisas; depois de um tempo sem poder para espantar a tristeza, uma vez e quantas precisar levantamos, sem saber porque antes estávamos do outro jeito:

"E, uma vez de manhã, Nhô Augusto acordou sem saber por que era que ele estava com muita vontade de ficar o dia inteiro deitado, e achando, ao mesmo tempo, muito bom se levantar. Então, depois do café, saiu para a horta cheirosa, cheia de passarinhos e de verdes, e fez uma descoberta: por que não pitava? ! ... Não era pecado... devia ficar alegre, sempre alegre, e esse era um gosto inocente, que ajudava a gente a se alegrar . . . "

e assim minha noite preencheu-se inteira, e eu inteira fiquei preenchida também. Porque aquela era A hora e a vez do Augusto Matraga, porque cada um tem sua hora, e eu estava lá, acordada, e vi tudo. E tudo ficou em ordem.