segunda-feira, 22 de outubro de 2007

lulu na mostra

Sabadão, lulu acorda, vai tomar seu tradicional café da manhã na padoca da esquina de casa, abre o jornal que só lê aos finais de semana e repara: olha... tem mostra de cinema em sp!
Presta um pouco mais de atenção e repara mais ainda: olha... hoje vai passar o filme do David Lynch! Lulu, inocente de quase tudo nessa vida, repara que a sessão é meio dia. Olha seu relógio, são dez e meia. Oba! pensa lulu - dá tempo...
lulu chega com uma hora de antecedência, toda contenta da vida.
Puxa, tá cheio... Cheio? Uma fila atravessava o conjunto nacional e saía para a rua. Todos os modernetes de São Paulo pareciam haver acordado cedo naquele sábado. Lulu entra na fila. Fica na fila. Uma hora de fila. Os ingressos esgotaram antes, bem antes, da vez da lulu.

Lulu não desiste. Pega seu jornalzinho e resolve ir ao Frei Caneca, tem um monte de filme passando lá, vambora ver algum filme iraniano com legendas em aramaico.

No caminho, lulu passa pelo Espaço Unibanco. O lugar não abriu ainda, tem fila na porta. Uma fila modesta, mas existente. "Vocês tão nessa fila para quê? " - "Para comporar ingressos para a mostra, ué..." - diz uma senhora de oclinhos de aros grossos e vermelhos, com um certo ar de despreZo na voz. Será que para ver a mostra precisa usar oclinhos de aros grossos e coloridos? Lulu está cada vez pensando mais, mas guarda para si a pergunta e continua a bater papo: " Sei... e você vai ver o quê?" Um filme sobre o vocalista do Joy Division. Oba, pensa lulu. Legal, vambora. Que horas começa? Uma e meia? Não... diz a mulher, já quase sem paciência com tanta desinformação. A sessão é às dez da noite. Nooossaaaa!! Diz a lulu. E você já está aqui? Vida difícil essa de cinéfila, né? A mulher olha para cima e suspira. Lulu vai embora, rumo ao shopping Frei Caneca.

O Shopping tava fechado mas lulu já sabia que aquilo não queria dizer coisa alguma. Fez o ar mais intelectual que sabia fazer e falou ao segurança: Vou à mostra. Esqueci meus oclinhos em casa.
O moço deixou a lulu passar. Engano bem.

Chegando lá... adivinhem: fila. Mais modernos. Mais gente, todos com os guias da mostra em mãos, fazendo planos alucinados: "pego o filme da uma da tarde, depois vou para o filme das três, depois entro no das cinco e ainda termino o dia, às nove da noite, com o filme siberiano que parece ser o máximo!" Lulu, meio assustada, começa a entrar no clima. Pega um guia, começa a fazer contas. Um filme só passa a parecer pouco. Imagina! Liga pra casa: "ficarei o dia inteiro no cinema. Adeus."
Escolhe dois filmes estranhos, de nomes estranhos, cineastas desconhecidos. Lá fora tava o maior calor, lulu saíra de shortinhos. Começa a sentir frio. Fome. A fila não anda.

Finalmente lulu chega ao caixa, pede os ingressos para os dois filmes que resolvera ver. Só dois? Pergunta o caixa. Lulu fica sem jeito... é, moço... fico assim.. meio cansada... Cabisbaixa, lulu vai ao café comer algo. Uma média e um pedaço de bolo de iogurte por favor. Pois não moça, são dez reais. O quê? Quanto tá a média? Quatro reais, o pedaço de bolo custa seis... Esquece, moça. Obrigada. Lulu sai do shopping e vai ao boteco da esquina. Gasta três reais.

Lulu vê o filme - médio. Lulu diverte-se com a briga que ocorre na fileira ao lado pois alguém está - inadivertidamente- comendo pipoca. Onde já se viu? Tisc, tisc, tisc...
Lulu encontra gentes, conversa sobre a fotografia, o roteiro, o enredo. Começa a ficar meio cheia.

Liga pra casa. Uns amigos ligaram, querendo fazer algo. Amigos legais... Lulu quase congelara no cinema.



Vai para casa, e combina de ver, com os amigos, um filme do circuito comercial. Fomos, conversamos, não pegamos fila, a sala tava vazia, jantamos depois, uma delícia.

Sei não, mas acho que a lulu desistiu desse negócio de mostra.

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Verdades à mesa do bar

Outro dia um grupo de amigos cansado de tanto trabalho e de tanto calor resolveu se reunir num estabelecimento desses da Vila Madalena, para tomar umas, refrescar as idéias, conversar.
Chegamos lá pelas seis da tarde, duas da manhã ainda estávamos por ali, e nesse momento começaram a aparecer as Grandes Filosofias da Vida, aquelas Verdades que surgem à mesa do bar, depois que a coluna das bolachas de chopp consumidas já está vergonhosamente grande e chega até a esconder o copo, sempre cheio, que vem atrás...

Uma amiga virou séria para outra amiga, que está prestes a montar casa, reformar, juntar os trapos e as vidas:
- Cuidado! Não fique brava se ele não sabe nada sobre azulejos... não fique brava se ele não está nem aí para os azulejos...
A amiga replicou:
-Imagina, ele até falou que se não precisasse quebrar, bastava a gent pintar os azulejos e pronto! ficava como novo! - as mulheres da mesa suspiraram, olharam paa cima, havia uma cumplicidade no ar... o horror, o horror... esse homens, que não sabem nada da importância dos azulejos...
Foi então que a amiga, séria e compenetrada, falou uma das grandes frases da noite, que calou todas nós:
- Gente!! A vida não é feita de azulejos...

Mais tarde, outra estava contando como se sentia quando alguém a categorizava de acordo com a família ou a classe social a que pertencia. Uma vez um cara até perguntou para ela se ela existia mesmo, pois só tinha lido sobre essas famílias em livros. Um saco, de fato. Foi então que outra lembrou de um dos maiores elogios que recebeu na vida, quando um cara a olhou, ficou em silêncio, e depois perguntou - meio atônito, meio besta:
- Você existe?
Conclusão.. tudo depende do contexto.
Outra grande sabedoria.

A mesa estava cheia de mulheres, como já deu para perceber, contra uma minoria de homens que de vez em quando conseguiam falar alguma coisa. Uma das nossas amigas é daquelas mulheres lindas e proud of it, que não tem nenhuma vergonha de expor e mostrar todas as suas qualidades e atributos, dados pela natureza ou conquistados na vida. Uma outra amiga falou assim:
- A Maria ( os nomes dessa resportagem foram todos mudados para manter a privacidade dos envolvidos) é assim: quando a gente a vê pela primeira vez, a gente pensa: Nossa, como ela tem coragem? ( comentando as roupas e o estilo) Depois de conversar dez minutos com ela, pensamos assim: Nossa.. por que é que EU não tenho coragem?
Maravilhosas, as minhas amigas.

Depos falávamos de ex, dos exes, e das exas de cada um. Há essa mania de referir-se aos ex como falecidos, falecidas. No entanto, um deles tinha um apartamento. Verdade absoluta da noite:
- Se tem apartamento, não é falecido.

E por fim, a maior de todas, mais bela e indiscutível:

- O problema de sexo por torpedo é que dá tendinite.

é isso. Tim tim.

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

ensinar ou apender

Posto hoje um texto escrito por um dos professores mais bacanas que tive na vida, Maurício Mogilnik. Tive aulas com ele na quinta série, sexta, e no ensino médio também. Esse texto faz parte de um documento sobre a avaliação que ele propôs para a escola. Uma homenagem aos meus grandes professores , pelas oportunidades que eles me deram, de aprender e sair do meu mundinho.

"Ficamos muito, e durante muito tempo, preocupados com o ensinar.

A nossa tarefa é outra.

Nossa tarefa é propiciar ao nosso aluno oportunidades planejadas que favoreçam o desenvolvimento de capacidades, habilidades e atitudes que o transformem num cidadão.
Esta dimensão, a dimensão política do nosso fazer deve ser resgatada para justificarmos a nossa presença como categoria profissional.


Favorecer a transformação de crianças egocênricas em cidadãos é a função social que nos distingue das demais e da qual não podemos abrir mão sob pena de continuarmos sendo uma corporação anacrônica de doadores de aula, substituíveis por qualquer tio de plantão.

Uma vez, um velho rabino disse que os professores começam ensinando o que não sabem, depois de algum tempo ensinam o que já aprenderam, depois de mais algum tempo ensinam o que é importante e só depois de muito tempo percebem que sua tarefa não é a de ensinar mas a de criar condições para que os alunos aprendam.
Era sábio o velho rabino"


( Extraído do texto "Avaliação" do professor Mauricio Mogilnik)

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

rápidas impressões sob o signo da outubrite

A outubrite é um mal que costuma atacar professores em geral. É quando já estamos quase lá no final do ano mas ainda faltam dois meses. Dá uma canseira.

Queria falar sobre Orgulho e Preconceito, da Jane Austen, que estou terminando de ler com a sétima série. Segundo um dos alunos: um livro chato sobre um monte de gente desocupada que só pensa em casamento.

A classe está dividida. Uns amam o livro, outros odeiam, até aí, nada de novo sob o sol, nada que fira o meu orgulho.

Alguns preconceitos meus, inclusive, foram solapados rapidamente. Confesso que escolhi esse livro pensando em duas coisas: na história da procura por livros felizes e nas meninas.
Sim, porque a maioria dos livros clássicos que a gente lê na quinta e na sexta série são livros de aventura com cara de menino. Olhem só: A Ilha do Tesouro, Julio Verne, Edgar Allan Poe... mesmo o do Italo Calvino, O Cavaleiro Inexistente, parece-me ser mais de menino que de menina. Então, decidi dar um romance bem clássico, sobre a vida das pessoas comuns, entretidas, no mais, em casar e também em garantir uma boa renda que lhes permita uma boa sobrevivência.
Para as mulheres, se não há herança em jogo, como acontece com os pobre dos Bennet, a família que protagoniza o romance, resta casar com alguém rico, oras bolas.

Cada livro que leio com meus alunos traz novas discussões.

Por exemplo, quando a gente leu o Cavaleiro Inexistente fiquei uma aula inteira discutindo com uma aluna que estava muito revoltada porque era IMPOSSÍVEL existir um cavaleiro inexistente e que então tudo aquilo era uma bobagem sem fim.
Foi uma discussão linda, sobre justamente o que é, afinal de contas, a literatura.

Na sexta série começamos a ler o que eu chamei de primeiro livro de gente grande deles, Capitães da Areia. É bem engraçado, e depois quero falar mais sobre isso, porque no livro tem um monte de sacanagem. São dois os temas principais que surgem: o da liberdade e o do sexo. Liberdade porque sempre, sempre, tem um ou dois meninos na classe ( e geralmente são meninos) que ficam realmente invejando a vida dos capitães da areia. Que não queriam ir para a escola, que não queriam ter pai e mãe dando bronca, que queriam viver de brisa e assaltos ocasionais, em liberdade. As discussões são sensacionais, principalmente porque o resto da classe geralmente fica hiper revoltado mas quando vai argumentar a favor da escola, por exemplo, fica sem argumentos. Afinal de contas, escola serve prá quê? Discussões e discussões.
E tem o lance do sexo . Logo no início do livro, há uma cena onde um menino bonitão de quinze anos, o Gato, se apaixona pela Dalva, uma prostituta. Faz que faz e ela acaba indo para a cama com ele. Ele, todo rápido, sem jeitos, e ela o inicia nas artes do amor. Há muitas gírias no livro, tive que explicar, por exemplo, o que era tocar uma bronha. Percebi que essa parte tava incomodando todo mundo e resolvi ler em voz alta.

Tá. agora imaginem ler isso em voz alta para uma turma de moleques e molecas de 12 anos.

Pois é.

Uns simplesmente têm ataques de riso compulsivo, acho que é nervoso, não param de rir.

Outros ficam ruborizados, outros ficam me olhando para ver o que eu vou fazer com tudo isso.

Eu falo que eles já são praticamente adultos ( hahahaha) , que já tá na hora de ver tudo isso com maturidade e vou em frente, sem nem piscar, explicando como na hora do sexo é importante prestar atenção no que o outro tá sentindo e fazendo. Pois é... a gente ganha pouco, MESMO.

E tem o Pedro Bala... Uma das minhas alunas mais velhas falou que faz parte do curso de literatura da escola se apaixonar pelo Pedro Bala, o líder dos capitães. Enfim... que delícia que é quando a gente se apaixona por um personagem de algum livro.

Em Orgulho e Precnceito há alguns choques iniciais.
Primeiro: ninguém trabalha nessa joça? Não, ninguém trabalha. Aliás, uma das vergonhas da família dos Bennet é que eles têm dois parentes que ganham seu sustento com o suor do rosto, um é advogado outro, comerciante. Um horror. Trabalhar é coisa de pobre, gente, eu explico. Nobre que é nobre vive de renda, acabou-se.
Como gasta o tempo aquele que vive de renda? Ué... viajando, caçando, indo a bailes, casando, falando dos outros, tendo filhos, casando os filhos, essas coisas...
E as mulheres? às mulheres restava pouco a não ser ser ter um bom dum dote. Não sendo esse o caso, torcer para ser bem linda, costurar, pintar, dançar, tocar piano e saber conversar da melhor maneira possível e torcer para arrumar um belo dum marido. Pronto. Às mães, cabe o maior empenho para que isso ocorra.
Uma bobagem sem fim? Não.
Porque a Jane Austen salva.
Salva como? Sendo extremamente irônica e mordaz em relação a essa sociedade. (E como é difícil explicar e fazer com que os alunos entendam ironia! )
Escrevendo diálogos sensacionais, e criando personagens que são extraordinariamente verossímeis, reais, interessantes e complexos. E no meio disso tudo, há algumas discussões de fato importantes, sobre casamento, amor, a condição da mulher, dinheiro, fofocagem e maledicência, beleza, orgulho e preconceito.
É impressionante como o livro continua atual.

E aqui vai, finalmente, a revelação do meu preconceito que foi desfeito: muitos meninos adoraram o romance. Se acabaram. Foram os primeiros a terminar de ler. Legal né? Achei o máximo. Bobagem a minha achar que esse negócio de namoros e seduções só interessaria às meninas.

Enfim.... mil coisas para contar.
Estou indo para a roça, eu, essa paulistana urbaníssima que achava que goiabada cascão era aquela goiabada que vinha em lata, que vendia no supermercado, com o Cascão ( da Mônica e do cebolinha) na embalagem.

Volto domingo, querendo muito organizar a minha vida para voltar a escrever com mais regularidade por aqui.

Um beijo a todos,

Lulu.

Para quem chegou agora e se interessou sobre esse negócio de aula de literatura para adolescente, passeiem pelo lulu na escola , acho que é o melhor negócio. Mais beijinhos, e bom feriado a todos.

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

lotados...

gente, é isso, e eu nem adoro o verão...
( já sabem, cliquem na imagem para ler melhor)

terça-feira, 2 de outubro de 2007

A gente vai estar te demitindo....

Deu na uol:

Governador do DF demite o "gerúndio" por decreto


da Folha Online

O governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda (DEM), tomou uma decisão que chamou a atenção de quem leu a edição de hoje do "Diário Oficial" do distrito: demitiu o "gerúndio" de todos os órgãos do governo. O decreto com a nova medida também proíbe o uso do gerúndio por desculpa de "ineficiência".

O governador está fora de Brasília e não pôde comentar a nova medida.

O gerúndio é uma das formas nominais do verbo, formada pelo sufixo "ndo" que indica continuidade de uma ação.

Leia a íntegra do decreto:

"Decreto nº 28.314, de 28 de setembro de 2007.

Demite o gerúndio do Distrito Federal, e dá outras providências.

O governador do Distrito Federal, no uso das atribuições que lhe confere o artigo
100, incisos VII e XXVI, da Lei Orgânica do Distrito Federal, DECRETA:

Art. 1° - Fica demitido o Gerúndio de todos os órgãos do Governo do Distrito Federal.
Art. 2° - Fica proibido a partir desta data o uso do gerúndio para desculpa de INEFICIÊNCIA.
Art. 3° - Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.
Art. 4º - Revogam-se as disposições em contrário.

Brasília, 28 de setembro de 2007.

119º da República e 48º de Brasília
JOSÉ ROBERTO ARRUDA"



O Diário da lulu, embora irrite-se profundamente com as Gentes que vão estar fazendo qualquer coisa que seja, sentiu uma certa dó do pobre gerundinho, demitido assim só por ser usado tão vilmente por pessoas de má índole ou pouca sabedoria lingüística que dele se utilizam para justificar sua... hum... ineficiência, ôquei.
Mas... Terá o gerundinho seguro desemprego? Terá ele feito uma poupancinha para os dias difíceis que virão? Como viverá um gerúndio desempregado? Haverá um sistema de recolocação?

De qualquer modo, nos solidarizamos ao gerúndio pois, por mais que a causa nos pareça bastante justa, qualquer espécie de demissão sumária de vocábulos e expressões e qualquer espécie de censura e autoritarismo sobre a linguagem assustam.
Sério.

No entanto, já imagino que o gerundinho demitido já vai estar fazendo um certo escarcéu e vai estar providenciando retaliações e protestos e estará, principalmente, entrando em contato com o Senhor Governador que, por mais tenha razões para suas implicâncias, andou, decididamente, abusando das suas atribuições.